Você já parou para pensar no que determina o status de um hit? Seria sua onipresença nas pistas? O alcance algorítmico? A quantidade de plays nas plataformas? Embora esses elementos façam parte da equação, há outra dimensão: a capacidade de uma faixa deter o poder de marcar o coletivo e se tornar símbolo de memória de um tempo, de um espaço e das histórias das quais ela embarcou como trilha sonora.
No caso da música eletrônica, frequentemente a ideia de sucesso se ancora em referenciais externos. Selos estrangeiros, artistas europeus, cenas que se consolidaram com décadas de estrutura e circulação. Nesse processo, criamos padrões de validação que nem sempre contemplam a complexidade do que se produz por aqui. Naturalizamos a ideia de que os grandes hits são sempre os que vêm de fora e, assim, deixamos de reconhecer uma parte essencial da nossa própria história com a música.
Ainda assim, ao longo dos últimos anos, diversas faixas produzidas por artistas brasileiros desempenharam papel central na formação de públicos, na consolidação de coletivos e no fortalecimento da cena eletrônica nacional. Algumas chegaram como ponto de entrada para quem ainda não se reconhecia nesse universo; outras circularam por diferentes circuitos e ajudaram a consolidar caminhos já em curso. Todas tiveram papel ativo na expansão da cena e na forma como a música eletrônica passou a ser percebida e vivida no país.
A iniciativa Hits made in Brazil nasce com a proposta de revisitar esses marcos, destacando faixas que fizeram história e ajudaram a construir as bases da cena eletrônica nacional. Neste primeiro momento, o recorte do Alataj se volta a obras que marcaram a história na base disso que chamamos de cena; nas próximas postagens, seguirá para sucessos mais recentes, produzidos por uma nova geração que continua reinventando a pista, não apenas pelo alcance obtido, mas pelo impacto na forma como ouvimos, dançamos e produzimos música eletrônica no Brasil.
Renato Cohen – Pontapé
Pontapé foi um sucesso por traduzir a energia do Techno em um direcionamento direto e hipnótico, repetitivo e perfeito para as pistas. Lançada pela Intec, label de Carl Cox, a faixa conquistou o circuito internacional, se tornando um verdadeiro estopim da presença brasileira no techno global.
Gui Boratto – Beautiful Life
A faixa, lançada pela Kompakt, foi um sucesso por traduzir perfeitamente a densidade emocional que projetava em seu objetivo. Combinando uma construção melódica e vocais repetitivos que remetem ao privilégio de estar vivo, Gui Boratto conseguiu construir uma faixa emotiva e dançante ao mesmo tempo, alcançando até aqueles que nem a compreendiam como música eletrônica.
DJ Marky, XRS, Stamina MC – LK (Carol Carolina Bela)
Em 2002, LK levou o Brasil ao topo da cena global ao unir o violão de Carolina, Carol Bela com o Drum ‘n’ Bass elegante de DJ Marky, XRS e Stamina MC. O hit conquistou clubes e rádios na Europa, sendo tocado por nomes como Gilles Peterson e Carl Cox. Numa época distante das redes sociais, a faixa virou fenômeno de maneira orgânica e histórica, que chegou a ingressar em todos os charts da época, incluindo o icônico Top of The Pops, da BBC.
DJ Memê – Chanson Du Soleil (Sun Is Coming Out)
Com influências do House francês e da Disco music, Chanson Du Soleil foi um sucesso ao evocar o calor, a alegria e a liberdade dos verões tropicais, com um groove leve e eufórico que traduzia a sensação de recomeço. A faixa carrega uma alegria solar e melódica que a tornou presença garantida em pistas, rádios e até na televisão, quando fez parte da trilha sonora internacional da novela Caminho das Índias.
Fernanda Abreu – Space Sound To Dance
Sucesso nas pistas brasileiras dos anos 90, Space Sound To Dance se destacou ao misturar Pop com bases eletrônicas futuristas. Fernanda Abreu firmou um som autoral que dialogava com a música eletrônica e urbana concomitantemente, unindo ao seu vocal feminino que se alastrou pelas rádios e pistas da época.
Fernanda Porto – Sambassim (DJ Patife Remix)
Sambassim foi um sucesso por unir o swing da música brasileira à voz e composição de Fernanda Porto com o ritmo do Drum and Bass. Lançada no início dos anos 2000, a faixa conquistou DJs internacionais, sendo tocada por Gilles Peterson, Laurent Garnier e Roni Size. Além disso, o videoclipe da versão remixada por DJ Patife foi premiado como Melhor Videoclipe de Música Eletrônica no VMB (MTV Brasil) em 2003, reforçando sua visibilidade em uma época onde o audiovisual tinha papel fundamental na legitimação da música eletrônica no mainstream.
Drumagick – Easy Boom
Easy Boom foi um sucesso por transformar a frase “Take it easy, my brother” em um verdadeiro mantra das pistas. Com swing, pressão e alma, Drumagick trouxe Jorge Ben Jor para o coração do Drum and Bass, conectando gerações com o gênero através de uma batida eletrizante e familiar.