A partir do desenrolar dos anos 2000, um novo momento de experimentação acelerada passou a ditar o ritmo da música eletrônica brasileira. A chegada de novas tecnologias de produção, como a popularização dos softwares, a expansão do acesso à internet e a multiplicação de clubes e festivais permitiram que produtores locais se aproximassem das referências que circulavam em diferentes países. Esse contato ampliado abriu espaço para criações que, embora assimilassem algumas características daquilo que se produzia externamente, deixavam claro um modo próprio de interpretar essas influências.
Nesse período, surgiram produções que circularam nas pistas e consolidaram o nome de diversos artistas. Eram músicas que carregavam um peso de novidade, tanto pela sonoridade quanto pela forma como conectavam públicos diferentes, funcionando como pontos de difusão do movimento local e também como afirmações da autonomia criativa do /nosso país, mostrando que o Brasil podia dialogar em pé de igualdade com movimentos internacionais sem abdicar de sua originalidade, contribuindo para a percepção global de uma cena em expansão.
Na primeira edição do Hits Made in Brazil, revisitamos faixas que ajudaram a estabelecer as bases da cena eletrônica nacional. Agora, o foco recai sobre um período em que a cena eletrônica brasileira já não buscava apenas se estruturar, mas começava a afirmar sua força de maneira mais consistente. Foram anos em que a produção nacional ganhou confiança, ampliou seu alcance e passou a ocupar espaço com maior protagonismo em clubes, festivais e selos. Ao reunir essas faixas, resgatamos e valorizamos um momento em que a música eletrônica se espalhava de forma definitiva pelo país, conquistando novos públicos e se consolidando como parte central da vida noturna brasileira entre o fim da primeira e o começo da segunda década do século.
As próximas edições avançarão para trabalhos mais recentes que ampliaram ainda mais esse alcance e abriram caminho para o reconhecimento de uma nova geração de artistas, projetando o Brasil para um patamar definitivo de protagonismo dentro do circuito eletrônico mundial.
Noporn – Baile de Peruas
Lançada em 2006 por Noporn, no álbum de estreia homônimo, Baile de Peruas tornou-se uma das faixas mais emblemáticas da cena eletrônica underground do país. Marcada por vocais falados ácidos de Liana Padilha e batidas minimalistas programadas por Luca Lauri, circulou intensamente em clubes independentes e festas alternativas, consolidando o duo como elemento de referência da música eletrônica experimental nacional. Essa recepção reforça o caráter de um hit que não se ancorou na rota comercial, mas seguiu sua força no boca a boca e na conexão com um público engajado e ligado a narrativas autênticas.
Carlo Dall Anese – Monday
Lançada em 2009, Monday nasceu da parceria entre Carlo Dall Anese e Fabio Castro. A faixa ganhou projeção ao integrar a coletânea Summer Eletrohits 5, ampliando seu alcance para além das pistas e alcançando público em escala massiva. O impacto de Monday consolidou Carlo Dall Anese como um dos principais produtores da época e reafirmou a capacidade da música eletrônica brasileira de produzir hits de circulação ampla, ao lado de grandes lançamentos internacionais.
Tiko’s Groove – I Don’t Know What To Do
Lançada em 2010, a faixa conquistou projeção imediata nas rádios e pistas, se tornando um dos maiores hits eletrônicos brasileiros da década. Com vocais de Gosha, a música alcançou grande circulação no Brasil e também em países da Europa, figurando em compilações internacionais e ganhando até um álbum de remixes pela Building Records. Sua sonoridade acessível, entre o house melódico e o pop eletrônico, fez dela um ponto de entrada para novos públicos, mostrando como a produção nacional podia dialogar com o mainstream global sem perder relevância nas pistas locais.
Digitaria, Funky Fat – Masochist
Lançada em 2012, Masochist representou uma guinada de visibilidade para artistas nacionais em um circuito até então dominado por nomes estrangeiros, em especial nas pistas globais de House e Deep House. A faixa, criada em colaboração entre o duo mineiro Digitaria e o grupo Funky Fat, combinava linhas de baixo hipnóticas e vocais marcantes que rapidamente conquistaram DJs internacionais. Apoiada por Jamie Jones, a track se espalhou por clubes e festivais na Europa, consolidando a presença do Brasil dentro do catálogo de um dos selos mais influentes da década, o Hot Creations.
HNQO – We Do It
Outro grande lançamento brasileiro pela Hot Creations, We Do It foi a faixa que projetou Henrique Oliveira, o HNQO, para o cenário nacional e internacional. Com uma construção envolvente de Deep House, o single circulou em clubes de diferentes partes do mundo e o sucesso abriu portas para apresentações na Europa, África e América Latina, consolidando HNQO como um dos principais nomes brasileiros da nova geração.
Fabo – Where I Stand
Lançada em setembro de 2012 pelo selo Stranjjur, Where I Stand marcou a estreia de Fabo em um catálogo internacional e projetou o produtor para a cena global de Deep House daquele período. A original mix chamou atenção pela combinação de grooves densos, vocais melancólicos de Lostcause e uma construção que equilibrava pista e atmosfera introspectiva. O remix assinado por Karmon, que se impôs por transformar a faixa em uma divertida fusão de synth-pop anos 80 com disco cósmico, ampliou ainda mais o seu alcance, mas a versão original definiu Where I Stand como um dos grandes marcos da música eletrônica brasileira no início da década.