O DJ e produtor alemão Johannes Kolter, admirado pelo catálogo de respeito que construiu ao longo da última década, trilhou um caminho gradual, mas que era inevitável, rumo à dedicação em tempo integral à música. Por muitos anos, Kolter (ou previamente conhecido como DJOKO) conciliou o trabalho como produtor com um emprego corporativo, onde atuava como designer gráfico para uma grande empresa. Sua cautela em relação a essa transição era profunda, pois em sua cabeça, ele sempre quis que a música permanecesse como um hobby. Havia o temor de que, se a música se tornasse uma obrigação profissional, ele pararia de apreciá-la, visto que ela servia como uma compensação pelo que não gostava de fazer no emprego diário.
A decisão de abandonar o emprego corporativo, concretizada há pouco mais de dois anos, tornou-se necessária porque Kolter definitivamente não encontrava mais satisfação nesse trabalho. A transição, contudo, não significou um adeus total ao design: ele descobriu que adora criar artes e animações (como anúncios de shows) quando faz para si mesmo. Essa flexibilidade de poder alternar entre ser um estúdio de música e um estúdio de design gráfico (especialmente nos momentos de baixa criatividade musical) reflete sua filosofia de manter a diversão e o flow na produção, um princípio que impulsiona sua conhecida e impressionante produtividade.
À medida que sua carreira solo ganhava impulso e ele se firmava como artista em tempo integral, Kolter também enfrentou um desafio jurídico inesperado que ameaçava sua identidade recém-consolidada. Ele foi forçado a mudar seu nome artístico, que era DJOKO, para Kolter (seu sobrenome real), devido a uma ordem judicial. Kolter explicou em um post nas redes sociais que não houve má intenção na escolha do nome artístico prévio, que evoluiu de seu nome verdadeiro, Johannes Kolter. O processo de mudança foi descrito como muito difícil, especialmente após dedicar dez anos à construção daquele alias. O tribunal, segundo ele em entrevista, não compreendeu a dificuldade de aplicar a mudança na distribuição musical como é feita hoje e ele enfrenta até hoje problemas com a aparição constante do nome antigo em compilações de selos extintos.
Apesar da potencial ameaça à carreira que, para qualquer outro artista, poderia ter sido um fator decisivo, a mudança para Johannes foi superada com sucesso. A transição foi o mais suave possível do ponto de vista comercial, auxiliada pela produtividade prolífica do artista — que emplacou uma leva de novas grandes faixas naquela fase — e pela conexão de sua comunidade já construída. A fundação de seu próprio selo, Koltrax, que conecta com seu sobrenome, também ajudou a solidificar a nova marca. Kolter agora está em uma aparente paz com a situação, tendo alcançado um acordo legal após a disputa, algo que lhe permitiu concentrar-se na música.
A capacidade de Kolter de superar esse revés legal e a coragem de abandonar a segurança corporativa decorrem de uma filosofia criativa central: a música deve ser sobre essa busca por novas coisas com um espírito livre. Ele evita impor-se o objetivo de fazer música para um EP ou gravadora específica, pois isso coloca a sua criatividade para níveis mais baixos. Ao invés disso, Kolter busca o estado de flow, onde ele aceita que os erros resultantes são também os que criam as coisas mais legais. Ele vê cada faixa como uma espécie diário do que estava apreciando naquele dia, garantindo que continue explorando e criando, mesmo sabendo que há milhões de faixas e sons novos a serem descobertos. Essa dedicação inabalável à diversão e ao processo criativo é o verdadeiro motor por trás da sua ascensão meteórica nos últimos anos.