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A música conecta

Raio X | The Martinez Brothers

Por Marllon Eduardo Gauche em Socials 22.09.2025

Mesmo antes da maioridade, Chris e Steven Martinez já ocupavam um espaço que muitos DJs levam décadas para conquistar. Ainda jovens, mas com a postura de veteranos, souberam transformar suas origens no Bronx em uma espécie de combustível criativo.

Essa combinação de juventude e maturidade artística fez deles um dos nomes mais singulares do House/Tech House contemporâneo — um duo que carrega muita autenticidade e continua explorando novos caminhos sem perder o vínculo com suas raízes. Os The Martinez Brothers estão longe de ser uma novidade; são, na verdade, veteranos que souberam se reinventar ao longo dos anos.

Criados no Bronx por uma família porto-riquenha, os irmãos cresceram entre os bancos da igreja (onde o pai era pastor) e as histórias do lendário Paradise Garage, que ele frequentava religiosamente. Essa mistura curiosa de fé, família e House Music foi crucial para formar a sonoridade do duo e também toda sua filosofia como artistas. Hoje, mais de uma década depois de seus primeiros lançamentos, eles continuam sendo uma das duplas mais influentes da cena global.

A trajetória dos Martinez é diferente das demais porque nunca seguiu um roteiro previsível. Dos pequenos eventos que organizavam ainda adolescentes (as famosas festas Kids of House) até as residências em Ibiza, eles construíram uma carreira baseada em personalidade, trabalho duro e uma forte química fraternal. Para entender como dois garotos do Bronx se tornaram embaixadores globais do House Music, é preciso mergulhar nas camadas que formam sua identidade.

Este é o Raio X do Alataj.

Igreja, família e Paradise Garage

A história começa muito antes dos palcos internacionais. Steve Martinez Sr., pai dos irmãos, era uma figura peculiar: pastor de igreja e frequentador assíduo do Paradise Garage. Essa dualidade aparentemente contraditória se tornou a base de tudo. Na igreja, Chris e Steven aprenderam sobre disciplina, trabalho em equipe e a importância de mover as pessoas — literalmente.

O pai apresentou aos filhos o House clássico de Larry Levan e também investiu em equipamentos de DJ quando eles ainda eram crianças. Chegou ao ponto de bancar pequenas festas para que pudessem tocar e ganhar experiência. Em apenas três eventos, os bookers locais perceberam que aqueles garotos tinham algo especial. 

Descoberta e mentoria de Dennis Ferrer

Um momento fundamental na carreira do duo aconteceu quando Dennis Ferrer, já uma lenda da House Music, descobriu o potencial dos irmãos ainda na adolescência. Para além de apoiá-los, Ferrer se tornou uma espécie de mentor, guiando-os pelos primeiros passos na indústria e ajudando a moldar sua visão artística.

Essa mentoria foi crucial para o desenvolvimento técnico e para a compreensão de que a música eletrônica poderia ser tanto arte quanto negócio. Ferrer ensinou aos irmãos a importância da autenticidade, da conexão com o público e da construção de uma carreira sustentável.

Groove ininterrupto como filosofia

Se há algo que define o som dos Martinez Brothers é a recusa em parar a música. Enquanto muitos DJs apostam em breakdowns dramáticos e drops exagerados, eles mantêm o groove rolando do início ao fim. “Viemos de uma época em que não era muito sobre breaks enormes, buildups, drops exagerados e tudo isso. Era mais sobre manter a batida constante e fazer o público continuar dançando” — Steven Martinez para a revista Nylon.

Residência icônica na DC10

Em 2011, The Martinez Brothers alcançaram um marco que poucos artistas conseguem: uma residência na lendária DC10 em Ibiza. Além da oportunidade de tocar regularmente em um dos clubs mais respeitados do mundo, eles foram parte fundamental na identidade de um espaço que é responsável por ditar algumas das tendências globais de pista.

A residência serviu como uma grande escola para eles. Tocar regularmente para um público exigente e festeiro, ao lado de outros nomes icônicos da cena, aprimorou a técnica e expandiu a visão musical. Foi lá que consolidaram sua reputação como uma das duplas mais carismáticas da música eletrônica.

Cuttin’ Headz e a curadoria própria

Em 2013, os irmãos deram um passo que mudaria tudo: criaram a Cuttin’ Headz. O selo se tornou uma extensão da personalidade do projeto. Ali, estabeleceu-se um espaço para lançar desde House clássico até faixas mais experimentais que misturavam Hip Hop e Funk, sem precisar explicar para ninguém.

A Cuttin’ Headz rapidamente ganhou respeito por sua curadoria. Foram além dos lançamentos autorais e criaram uma plataforma que reforçava a diversidade sonora que sempre os inspirou.

Além da cabine

A versatilidade dos irmãos sempre impressionou. Em 2014, colaboraram com Riccardo Tisci criando trilhas para desfiles da Givenchy — uma ponte inusitada entre o House do Bronx e a alta costura parisiense. No mesmo ano, lançaram Warhol/Basquiat, mixtapes com faixas que misturavam House com Hip Hop e referências da arte contemporânea.

Essas iniciativas mostram que eles nunca se contentaram em ser “apenas” DJs. Trabalhar com o grupo Chic e Nile Rodgers na faixa I’ll Be There, de 2015, colaborar com artistas como o nigeriano Rema na famosa Rizzla, criar pontes entre culturas… tudo isso faz parte de uma visão mais ampla de como a música pode conectar mundos aparentemente distantes. Não à toa, esse forte posicionamento fez com que estampassem capas de revistas famosas como da Mixmag, DJ Mag UK e Billboard Dance.

Take You Home

O mais recente lançamento marca um momento interessante na carreira dos irmãos. Produzida por Mike Dean — sete vezes vencedor do Grammy e colaborador de artistas como The Weeknd e Travis Scott — a faixa representa uma nova etapa do som da dupla, mas mantém a essência groove-driven.

A música mistura House e nuances de Hip Hop de forma orgânica, criando algo que soa familiar, mas atual. É o tipo de produção que só artistas com anos de estrada conseguem fazer: sofisticada sem ser pretensiosa, acessível sem ser simplista. O sucesso global da faixa comprova que, mesmo depois de tantos anos, os Martinez Brothers ainda sabem ler o momento e entregar exatamente o que as pistas precisam.

A trajetória dos Martinez Brothers prova que autenticidade ainda é o ingrediente mais valioso na música eletrônica. Foi assim que eles conquistaram um público fiel pelo mundo, com o Brasil ocupando um lugar especial nessa trajetória. Suas apresentações por aqui sempre atraem grandes multidões e São Paulo é, inclusive, a segunda cidade que mais escuta suas produções no Spotify, apenas atrás de Londres. Uma conexão que só cresce a cada ano que passa.

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