A imprevisibilidade nem sempre é algo ruim. Vivemos tentando controlar cada detalhe, mas às vezes é justamente o inesperado que revela os caminhos mais transformadores. Foi nesse sentido que ¥ØU$UK€ ¥UK1MAT$U entregou uma das apresentações mais intensas e genuínas da história do Boiler Room em Tóquio — um set que desafiava qualquer expectativa ao mesclar gêneros como Dubstep, Hyperpop, Big Beat, momentos de catarse seguidos por instantes quase contemplativos. Não era possível prever qual seria a próxima música, mas a sensação causada era de acompanhar alguém que sabia em qual resultado queria chegar.
O que torna ¥UK1MAT$U fascinante é exatamente isso: há método no seu caos —- ele nos ensina que, a partir disso, é possível criar um resultado potente. Determinação, imprevisibilidade e autenticidade são termos que ajudam a definir seu percurso. Quando seu nome começou a circular com mais força no início do ano, optamos por observar com calma a sua trajetória, buscando entender melhor quais experiências moldaram sua caminhada até aqui. A seguir, reunimos quatro prismas que fazem de ¥ØU$UK€ um artista tão singular.
O ponto de partida
Não dá pra falar de ¥ØU$UK€ ¥UK1MAT$U sem mencionar alguns pontos de sua trajetória, marcada por resiliência, coragem e uma virada de vida radical. Como tantos outros artistas que constroem a cena longe dos holofotes, ele não surgiu de repente. Começou a discotecar em meados de 2008, pouco depois de receber um diagnóstico de tumor cerebral, o que o levou a abandonar o trabalho na construção civil em Osaka. O detalhe que chama atenção é que, sem saber o que o futuro reservava, ele escolheu a música como guia. E tudo o que vemos hoje — nos palcos, nas pistas, nas reações das pessoas — é fruto direto dessa escolha. Seu diferencial, além da vocação, é a forma como transparece a urgência de viver o presente.
Ecletismo em seu estado mais amplo
A formação musical de ¥ØU$UK€ ¥UK1MAT$U é tudo menos linear — e talvez esteja aí a chave para entender sua inventividade como DJ. Criado ao som de rock clássico, por influência do pai fã de Deep Purple, passou a explorar o Hard Rock, o Metal e, depois, o universo alternativo de bandas como Sonic Youth. Ao mesmo tempo, absorvia o Pop que tocava nas rádios japonesas, sem fazer distinções rígidas entre o que era “culto” ou “comercial”. Concomitantemente, descobriu a música eletrônica através de nomes como The Prodigy. Neste sentido, Acid House, Trance, Hyperpop, Dubstep, Techno — de Skrillex a Chemical Brothers e 100 Gecs — aparecem lado a lado em suas apresentações. Tudo pode coexistir.
Midnight Is Comin’
Lançado em 2022, Midnight Is Comin’ é um álbum de mixagens que revela uma faceta mais introspectiva da curadoria de Yousuke Yukimatsu. Reunindo faixas de 12 artistas, que ali traduzem uma ambiência mais experimental e atrelada à cultura asiática, valorizando o que há de mais idiossincrático no cenário — entre eles DJ Nobu, Sapphire Slows, KEIHIN e Gabber Modus Operandi. O disco propõe uma experiência detalhista, mais atmosférica e serena, bem diferente da energia que Yousuke costuma entregar nas cabines.
DJ Nobu
A relação entre Yousuke Yukimatsu e DJ Nobu vai além da admiração mútua: é uma conexão construída com base em confiança artística e afinidade sonora. Após dividirem o lineup de um evento em 2014, DJ Nobu, impressionado com a apresentação de Yousuke, o convidou para se apresentar no lendário evento Future Terror. Foi lá que Yousuke fez uma de suas primeiras apresentações de impacto e desde então passou a ser visto como um nome promissor dentro da cena japonesa. Nobu não só abriu portas, como também ofereceu um espaço onde Yousuke pôde se desenvolver — uma espécie de apadrinhamento que reforça a importância das redes de apoio.
Seu impacto está na presença
Yousuke Yukimatsu é o tipo de DJ que lembra, sem precisar dizer, que técnica e repertório só fazem sentido quando há entrega real. Seu set não é uma performance no sentido convencional: é um estado de presença compartilhado com a pista, onde tudo se move a partir da sinceridade do momento. O fato de seu set ter viralizado não é coincidência. Diz muito sobre um desejo coletivo de se reconectar com experiências que sejam verdadeiramente intensas, físicas, transformadoras, em um mundo onde, muitas vezes, até o que é ao vivo acontece por trás de uma tela.