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A música conecta

Timeline | Grandes momentos do catálogo de mais de 500 releases da Kompakt

Por Elena Beatriz em Socials 09.09.2025

No final dos anos 90, enquanto Berlim consolidava uma identidade marcada por uma sonoridade pautada em uma linha mais robusta do Techno, a Kompakt surgiu em Colônia como um uma leitura mais lírica e contemplativa do estilo. O selo fundado em 1993 por Wolfgang Voigt, Michael Mayer e Jürgen Paape, ajudou a definir o que ficaria conhecido como Cologne Sound, um Techno melódico e elegante, que abriu caminho para uma leitura mais hedonista e acessível do gênero.

A partir desse DNA, a Kompakt passou a reunir artistas que expandiram o alcance do Cologne Sound. Matias Aguayo inseriu referências da cena latino-americana; Kaito trouxe construções de longa duração que ampliaram o formato de pista; enquanto DJ Koze, Superpitcher e The Field entregaram trabalhos que se firmaram tanto nas pistas quanto em momentos de audição prolongada. A chegada de Gui Boratto representou uma inflexão importante, colocando o Brasil no mapa do selo e projetando-o ainda mais no circuito global.

As séries também tiveram papel central nesse percurso. A Speicher, inaugurada em 2001, consolidou a identidade da gravadora com foco na club music, reunindo nomes como Oxia, Patrice Bäumel, Hunter/Game e o próprio Michael Mayer. Já o Pop Ambient, lançado anualmente também desde 2001, destacou a vertente experimental do selo, oferecendo uma narrativa para além do espaço do clubbing, reafirmando o trabalho da Kompakt em ditar tendências em diferentes frentes da música eletrônica.

“Forward ever, backwards never.” A máxima de Wolfgang Voigt nunca soou tão atual. Neste ano, em maio, a gravadora alcançou a marca de 500 lançamentos em seu catálogo principal, um feito raro para qualquer label independente e ainda mais significativo diante de três décadas de consistência, capaz de conciliar pista, experimentação e memória em um mesmo catálogo. Em comemoração, o selo lançou a coletânea Kompakt 500, que reúne 50 faixas emblemáticas em um box especial acompanhado de um photobook de 144 páginas. A data também ganhou uma exposição no Kölnischer Kunstverein, em Colônia, reafirmando a importância cultural da gravadora para além da esfera musical.

Para compreender a dimensão desse legado, destacamos 10 momentos do catálogo da Kompakt que sintetizam seu impacto e ajudam a explicar o motivo pelo qual o selo permanece como referência na história da música eletrônica.

The Bionaut – Everybody’s Kissing Everyone (1992)

Everybody’s Kissing Everyone, lançada em 1992 por Jörg Burger sob o pseudônimo The Bionaut, traduz a energia experimental que moldava os primeiros passos da Kompakt. A faixa combina linhas melódicas suaves com uma cadência que cria uma linha tênue entre pista e contemplação. Hoje, soa como um retrato vibrante daquela juventude alemã fascinada pelo Acid House, mas também como um exemplo de como o selo soube transformar influências externas em uma identidade própria. Inclusive, já havíamos falado sobre ela neste conteúdo especial da coluna Trend.

Jürgen Paape – Triumph (1998)

Uma das primeiras obras a ganhar projeção pelo catálogo da Kompakt, Triumph é frequentemente lembrada como peça-chave na definição do Cologne Sound. Assinada por Jürgen Paape, co-fundador do selo, a faixa combina minimalismo e melodia, antecipando a estética que viria a diferenciar a Kompakt de outros polos europeus de Techno no fim dos anos 90. 

Ferenc – Yes Sir, I Can Hardcore (Mayer Mix) (2003)

Lançada pela Kompakt em abril de 2003 (cat. KOM 78), com o M. Mayer Mix no lado A e o Ferenc Mix no lado B, o título homenageia uma faceta mais intensa do House dos anos 90, que selos como o Nu Groove desenvolveram no início da década. Mayer se apropria dessa energia refinando-a, mantendo um baixo e synths que marcam a track, transformando o material original em algo que parece simultaneamente uma homenagem ao passado e uma versão moderna para a pista.

Wighnomy Brothers – Wurz + Blosse (2004)

Lançada em Speicher 19, a faixa apresenta bem o estilo da dupla alemã, que transita entre Minimal e Techno. Com um arranjo linear, uma bassline marcada e um desenvolvimento de ciclo longo, minimalista, mas que mantém movimento, a track ajudou a consolidar o nome do duo entre os lançamentos da Kompakt e permanece como uma das mais lembradas do catálogo dos Wighnomy Brothers.

Oxia – Domino (2006)

Lançada no Speicher 34, Domino se tornou uma das faixas mais marcantes do catálogo da Kompakt. A melodia em arpejo conduz toda a estrutura, repetida de forma linear e com pequenas variações que criam movimento constante. Mencionada em fóruns pelo público como “um clássico do Techno dos anos 2000”, a faixa atingia tanto pistas mais intimistas, quanto as mais comerciais e chegou até a integrar parte do set do Laurent Garnier em uma apresentação no festival Time Warp, prova de sua versatilidade. Em 2026, completará 20 anos como um dos títulos mais emblemáticos ligados à série Speicher.

Justus Köhncke – Timecode (2005)

Inspirada no clássico disco How Long do Lipps Inc., Timecode combina referências diretas do funk e disco à sintetizadores reminiscentes de Moroder em uma abordagem contemporânea, sustentando um riff de baixo marcante e uma batida articulada, que opta por uma energia mais exuberante que o minimalismo habitual da Kompakt.

Matias Aguayo (DJ Koze Remix) – Minimal (2009)

A faixa traz Aguayo repetindo versos em tom quase falado de frases como “It’s the difference between the minimal and the sensual” como centro da composição. Koze reorganiza esse vocal em cima de uma base atmosférica e percussão espaçada, adicionando efeitos que ampliam o caráter hipnótico e contemplativo. O contraste entre letra e arranjo dá à música um tom de sátira sobre a cena minimal da época, que começava a dominar clubes e festivais.

Gui Boratto – Azzurra (2009)

Presente no álbum Take My Breath Away, Azzurra é uma das produções mais lembradas de Gui Boratto. Ela se apoia em uma linha melódica clara, repetida como centro da faixa, em caráter de progressão. O sintetizador principal se desdobra em pequenas variações de intensidade, enquanto acordes adicionais entram e saem, ampliando a sensação de movimento. Com esse desenho, Azzurra se tornou uma das faixas que melhor exemplificam como Boratto conseguiu unir apelo emotivo e eficácia de pista dentro do catálogo da Kompakt.


WhoMadeWho – Inside World (2012)

Inside World foi um dos primeiros grandes sucessos do trio dinamarquês e marcou a consolidação de sua parceria com o selo. A faixa se apoia em um groove, conduzido por linha de baixo firme e guitarras, sobre os quais o vocal surge de maneira envolvente com o refrão de maneira repetitiva. O resultado é uma música que aproximou o pop da linguagem eletrônica da Kompakt, tornando-se uma das mais reconhecidas do catálogo na época.

Saschienne – Unknown (Dixon Mix) (2012)

Essa faixa resgata uma das passagens mais comentadas da Kompakt que sempre funcionou como espaço para experimentações e colaborações inesperadas. A Unknown, criação original de Saschienne, reinterpretada por Dixon, reflete o espírito enigmático que marcou parte do catálogo do selo: grooves lineares, clima de introspecção e uma construção pensada para long sets. Dixon, já consolidado em Berlim com a Innervisions, trouxe seu blend melódico e progressivo, dando ao mix um ar sofisticado que dialogava tanto com o Techno de Colônia quanto com a sonoridade de clubes como Panorama Bar.

Kölsch, Troels Abrahamsen – All That Matters (2013)

A faixa traz o vocal emotivo de Troels Abrahamsen sobre a produção melódica típica de Kölsch. A letra, carregada de significado íntimo, que segundo Troels busca expressar um conselho ou afeto para os próprios filhos, fez da música uma das mais tocadas da época. Em 2023, ganhou nova vida com uma versão remix de ARTBAT, que expandiu sua presença em pistas de dança com uma abordagem mais melódica e envolvente.

Gusgus – Crossfade (Maceo Plex Mix) (2014)

Lançado em 2014, o remix de Maceo Plex para Crossfade ampliou o alcance do grupo islandês ao transformar a faixa em um dos maiores hits da época. Plex mantém o vocal de destaque, mas o envolve em uma base densa e expansiva, típica de sua assinatura, que se projetava com força nos clubs de todo o mundo naquela época. Um símbolo de como a vertente melódica do Techno começava a ganhar projeção global.

Weval – Gimme Some (2014)

A faixa faz parte do EP Easier e aposta em uma batida que se mantém constante, enquanto samples, vocais e cortes que lembram guitarra criam uma combinação que é ao mesmo tempo suave e inesperada. O crítico Anthony Fantano, do The Needle Drop, definiu seu efeito como um “crunch” que, mesmo discreto, chama atenção e impede que a música passe despercebida.

Patrice Bäumel – Surge (2016)

Surge é um exemplo cristalino de como Patrice Bäumel traduz a identidade da Kompakt para as pistas. O grave sustenta esse fluxo de forma estável, enquanto percussões discretas reforçam a sensação de avanço. A faixa pode ser considerada um dos ápices criativos do ciclo do Melodic Techno. 

Sasha, POLIÇA – Out Of Time (2017)

A faixa de quase dez minutos coloca a voz de Channy Leaneagh (Poliça) no centro, conduzida por synths longos e uma base constante. O 12″ inclui ainda remix de Patrice Bäumel e uma versão instrumental. É densa, hipnótica e elegante na medida certa, um encontro natural entre a assinatura clássica do House Progressivo de Sasha com o DNA do selo.

ANNA & Miss Kittin – Forever Ravers (2019)

Lançada na série Speicher 112, a faixa combina a produção de ANNA, guiada por linhas ácidas contínuas, com a voz de Miss Kittin evocando o refrão repetidamente, em um contraste entre a base intensa e o vocal minimalista que criam a identidade da track. A mensagem do refrão que se repete, “we are forever ravers” é o centro da composição, como um lema que afirma a vitalidade e identidade coletiva de quem vive a cultura de pista.

Robag Wruhme – Calma Calma (2020)

Lançada no Speicher 115, Calma Calma faz uso direto do vocal icônico de The Realm de C’Hantal, que já foi sampleado inúmeras vezes na história da Dance Music, desta vez aliado à uma atmosfera melódica. A força da faixa está na maneira como Robag conduz a tensão sem recorrer a um grande clímax. É uma produção que mostra seu domínio em transformar um elemento clássico do House em algo minimalista, preciso e ainda assim feito para a pista contemporânea.

Rex The Dog – Change This Pain For Ecstasy (2023)

Esse EP marcou o primeiro lançamento de Rex The Dog após três anos em hiato. A faixa se ergue com uma linha de sintetizador em estilo Moroder, cheia de movimento digital e brilho clássico, apoiada por acordes fluidos que revelam a força do seu arsenal modular. Em complemento, uma voz distorcida repete a frase “take away my sorrow and this pain”, dando à composição um peso emocional.

Joyce Muniz, Futuradora – Hack The System (2025)

A faixa marca o retorno da brasileira Joyce Muniz à gravadora, reforçando sua ligação com a Kompakt, onde já havia lançado o sucesso Beats & Lines. A produção aposta em um baixo marcante e linhas de synth diretas, sobre as quais os vocais de Futuradora aparecem em frases curtas, resultando em uma track densa e de impacto imediato, que conecta a pista a um discurso político.

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