É virtualmente impossível começar esse Special Series sem dizer o quão importante e impactante o ATCQ – acrônimo para A Tribe Called Quest – é dentro da cultura Hip Hop. Tudo começa no meio dos anos 80 com Q-Tip e Phife Dawg fazendo o que quase todos os garotos dos bairros menos favorecidos de Nova Iorque faziam: consumindo de forma fervorosa a cultura Hip Hop. Os dois cresceram juntos e eram MCs nas batalhas de rimas que o Queens tinha na época, onde Ali Shaheed Muhammad – que também cresceu junto de Tip e Phife – era o DJ para esses tais duelos. Nascia aí o Crush Connection, a primeira versão do grupo que viria a ser o ATCQ.
Não demorou muito para que o Crush Connection passasse a se chamar Quest com a entrada do quarto membro Jarobi White. Foi na mesma época que o trio Jungle Brothers – tão importante quanto o ATCQ para o gênero – sugeriu a mudança de Quest para o nome que seria como o mundo todo os conheceriam, A Tribe Called Quest. Foi nesse mesmo período que Q-Tip fez a sua primeira aparição em uma gravação profissional, fazendo um verso na faixa The Promo, do Jungle Brothers.
Entre 1988 e 1989, um dos movimentos mais conscientes que o Hip Hop já viveu surgiria através de Jungle Brothers, De La Soul, Queen Latifah, Monie Love e claro ATCQ, com o Native Tongues. O coletivo tinha como objetivo exaltar a cultura africana, passar mensagens positivas em suas letras e músicas, fugindo do Rap de protesto e revolta que no momento dominava as ruas de Nova Iorque. O principal estilo escolhido para ser sampleado pelo coletivo? O Jazz.

O ano de 1990 marca o lançamento do álbum de estreia do grupo, People’s Instinctive Travels and the Paths of Rhythm, que foi aguardado com certa ansiedade pelo adeptos da cultura Hip Hip graças a singles lançados antes do álbum, como I Left My Wallet in El Segundo.
Entre 1991 e 1993, ATCQ passa de um simples grupo de jovens perseguindo um sonho para um dos maiores nomes do Hip Hop que o mundo tem. Após o sucesso do primeiro álbum, no ano seguinte o grupo lança mais, Low End Theory, lar de faixas como Check The Rhime, uma das mais conhecidas do grupo até os dias atuais. Durante a gravação de Low End Theory, Jarobi White decide abandonar o grupo para ir atrás de um grande sonho: ser chef.
Já 1993 marca o lançamento de Midnight Marauders, terceiro álbum do grupo e que alcançou patamares comerciais como número 45 no chart da Billboard, além de ter sido Disco de Ouro naquele ano e alcançando platina em 1995. A partir desse momento, todos os olhos passaram a se virar para ATCQ, tanto que, ainda em 93, o grupo gravou uma faixa exclusiva para o filme de Eddie Murphy, Boomerang.
No meio da década de 90 o ATCQ é como uma Big Band, com incontáveis tours dentro e fora dos USA, como o festival Lollapalooza, onde dividiram palco com bandas como Smash Pumpkins. Foi durante uma das tours que o grupo fez com Amp Fiddler que Q-Tip foi introduzido a um jovem beatmaker que até então se apresentava como Jay Dee, mas você o conhece como J Dilla. A partir desse momento, Dilla, Q-Tip e Muhammad passam a trabalhar juntos como beatmakers através do nome The Ummah. Como de se esperar, o trio de produtores teve grande êxito e, além de produzir os dois próximos álbuns do ATCQ, trabalhou com nomes como Janet Jackson e Jamiroquai.
No final dos anos 90, os membros do ATCQ estavam mais focados em projetos paralelos e carreiras solo. Phife Dawg estava fazendo participações no álbum das TLC; Muhammad foi o produtor de Brown Sugar, de D’Angelo; e Q-Tip foi o engenheiro de áudio no álbum The infamous, do duo Mobb Deep. Sério, esse momento do grupo mostra o quão talentosos são todos eles, mostrando que estavam presentes em quase todas as músicas que davam certo naquele período.
The Love Moment, o quinto álbum do grupo, foi marcado pelo anúncio de que esse seria o último. Muitos fatores contribuíram para a separação, como os projetos paralelos dos integrantes e a mudança de visão de Q-Tip e Muhammad, que haviam se convertido ao islamismo, enquanto Phife Dawg não. Segundo Phife, em uma entrevista, o grupo estava só cumprindo tabela, trabalhando para pagar as contas e isso já não era mais suficiente para se manterem juntos. Um dos últimos trabalhos do ATCQ antes da separação foi a faixa Same Ol’ Thing que entrou para a trilha sonora de Men In Black.
Nos anos 2000, os integrantes passaram a focar em seus projetos paralelos até 2006, onde se juntaram para uma série de shows que visavam ajudar Phife Dawg com suas despesas médicas após ter complicações com sua diabetes. Dawg veio a falecer 10 anos depois, em 2016, enquanto o grupo gravava de forma secreta o álbum We Got It from Here… Thank You 4 Your Service. Mesmo com a morte do Phife, o trabalho não foi colocado de lado e o grupo entregou o novo álbum no mesmo ano.
Atualmente o grupo segue ativo através de tours, projetos paralelos e participações especiais com outros grupos e artistas, além de incontáveis premiações por todo legado que o ATCQ deixou e continuará a deixar para todos os amantes do Hip Hop.
A música conecta.