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A música conecta

Special Series | Cinthie

Por Laura Marcon em Special Series 05.05.2020

Te convido a tirar uns minutos do seu tempo para se apaixonar. E quando eu escrevo se apaixonar eu não estou de brincadeira! Digo isso pois quase todas as vezes que encontro alguém que acompanha o trabalho dessa artista fala dela com admiração e um certo brilho no olhar. Ah, a Cinthie… (suspiros).  São vários motivos para as fagulhas de amor que eu e tantas pessoas compartilham por ela. Acontece que essa alemã de sorriso cativante e delicada – que, aliás, intitulava-se Vinyl Princess – construiu, em meio a uma história de vida turbulenta e cheia de superação, um império musical sólido e indubitavelmente respeitável. Hoje, além de DJ e produtora de altíssimo nível, Cinthie comanda cinco gravadoras, uma loja de discos, uma série de eventos e ainda uma maternidade orgulhosa, a qual considera sua prioridade na vida.

Cinthie Christl nasceu em Berlim no início dos anos 80 porém mudou-se com seus pais para uma cidade próxima a fronteira com a França quando da queda do muro de Berlim, em 1989. Sua paixão pela vida noturna e a música eletrônica começou muito cedo, considerando-se uma “turista raver” no início da sua adolescência, viajando para diversas cidades do país em busca de festas e música. De volta à capital alemã e ainda na sua adolescência, Cinthie começou a trabalhar na loja de discos Humpty Records, onde também aprendeu a discotecar. 

Não demorou muito para que seu talento fosse reconhecido e, com meros 15 anos, já fazia parte do time de residentes do club Flash. De alta estatura, ninguém sequer imaginava que a talentosa jovem fosse menor de idade e, quando os donos descobriram, tiveram que afastá-la das cabines até que pudesse participar da vida noturna legalmente. Quando retornou, mais uma vez avistaram seu potencial musical e Cinthie deu seus primeiros passos como produtora pela gravadora de Techno Low Spirits, onde assinava seus trabalhos como Vinyl Princess. 

Embora sua jornada na gravadora tenha lhe proporcionado as primeiras tours em países como Japão e México, seu caminho estava se voltando a outras sonoridades que propunha a gravadora e Cinthie resolveu seguir seus próprios passos. A partir de então passou a realizar festas ilegais pela cidade que foram relevantes para o crescimento do cenário eletrônico de Berlim por proporcionar experiências diferentes, com pistas destinadas aos jovens amantes do punk, enquanto ela comandava outro ambiente dedicado à música eletrônica.

Mas em meio à uma trajetória de constante ascensão Cinthie foi surpreendida com uma gravidez inesperada. Marlene surgiu em sua vida em 2010, interrompendo a carreira da artista temporariamente. Ela conta em uma de suas entrevistas que naquele momento realmente acreditou que a aposentadoria das pistas de dança havia chegado e que simplesmente seria uma mãe feliz, não fosse por Diego Krause, Sevn.Aint.Leavn, Ed Herbst e Alvert Vog, que a convidaram para fazer parte do label Beste Modus e trouxeram a energia que ela precisava para voltar a ação.

A vida, contudo, não pegou leve com ela. Perdas familiares traumatizantes, um casamento falido e conturbado, críticas às suas escolhas enquanto artista e a responsabilidade da criação solo de sua filha a acompanharam durante anos. Nada disso foi suficiente para impedir seu crescimento. Cinthie foi amadurecendo sua capacidade enquanto produtora e se juntou a crew do lendário Watergate, recebendo e dividindo as cabines com artistas aclamados no mundo todo e que, assim como aconteceu com a menina de 15 anos, se impressionavam noite após noite com o seu trabalho.

Daí para frente foi impossível parar essa gigante artista. Hoje, além da Beste Modus, Cinthie comanda as gravadoras 803 Crystal Grooves e sua sub-gravadora Collective Cuts, Unison Wax e We_R House. Ela também é dona da loja de discos Elevate Records e ostenta (de forma muito humilde, é claro) um dos estúdios mais impressionantes do cenário da música. Cinthie é uma máquina criativa e, lançamento após lançamento e gig após gig ao redor do mundo, segue entregando um trabalho impecável e consistente entre House e Techno. Dia 15 de Junho ela estará prestes a atingir mais uma conquista com seu primeiro álbum pela Aus Music. Skilines – City Lights traz 12 faixas com grande influência do clássico House de Chicago, Acid House, Nu-Disco e New York e UK garage, tudo isso com a competência que já se conhece do seu trabalho.

 

Agora você consegue entender por que essa grande mulher (em todos os sentidos) é realmente apaixonante. Exemplo de artista, ser humano e mãe. Digna de respeito e admiração e, principalmente, uma belíssima inspiração para qualquer artista, principalmente para mulheres que, assim como ela, batalham para conquistar seu merecido lugar dentro de um cenário majoritariamente masculino que carrega tantas dificuldades e descrença no trabalho. Termino este texto ainda suspirando de amores, e você?

A música conecta.

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