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A música conecta

Special Series | Massive Attack

Por Laura Marcon em Special Series 01.03.2021

Imagine a cena: você encontra *aquela* pessoa que desejava há tempos. Estão a sós, o ambiente é mais aconchegante impossível, a vontade é mútua. Apaga-se a maioria das luzes, o clima só melhora, os corpos vão se encontrando cada vez mais, o desejo só aumenta. Liga-se a caixa de som e, de trilha sonora, vem Massive Attack. Maravilhoso. Quem visualizou o momento e entendeu esboçou um sorrisinho no canto da boca. 

Prepare seus instintos mais sedutores porque começa agora um Special Series voluptuoso e, quem sabe, instigante. Afinal, quem curte música eletrônica e ainda não deu play no Massive Attack em um momentão como o que narrei acima não sabe o que está perdendo. Lendo até aqui parece que essa é a única identificação que se tem com o grupo, mas é uma grande mentira, se assim o fosse ele não estaria nesta coluna. E também não pense que aqui teremos uma história deliciosa do começo ao fim, pois o Massive Attack é acompanhado de rupturas e momentos de tensão.

Fruto do projeto Wild Bunch, um dos mais bem sucedidos coletivos do cenário musical do início dos anos 80 no Reino Unido, que realizava seus eventos em Bristol, o Massive Attack começou sua história em 1987, através da união entre Robert “3D” Del Naja , Adrian “Tricky” Thaws , Andrew “Mushroom” Vowles e Grant “Daddy G” Marshall. O estilo criado pelo quarteto englobava uma ampla gama de referências musicais que iam do Punk ao Reggae ao R&B e, dessa mescla nasce um som que à época não tinha denominação, mas que hoje você facilmente conhece como Trip Hop.

Então o Massive Attack criou o Trip Hop? Não dá para responder com assertividade, mas a verdade é que o grupo é um dos primogênitos do estilo, colocando-o em evidência global, definindo tendências musicais, apresentando sonoridades inovadoras e influenciando muitos artistas ao longo de sua existência. O primeiro lançamento do grupo aconteceu no ano da criação do projeto, mas foi em 1991, com a chegada de seu primeiro álbum Blue Lines, que eles mostraram a que vieram e já entraram nas paradas musicais de UK.

O som é provocante, emocionante e sombrio. Um groove de Dub intenso e cadenciado que aponta direto para o peito induz a uma movimentação corporal lenta, porém intensa. As melodias arrastadas e sentimentais, muitas vezes em loop, te levam a um transe e sugerem o toque pele à pele. Os vocais escolhidos a dedo que sussurram ao pé do ouvido ou trazem uma intensidade em um cálculo perfeito com a métrica da letra. Vai te levando, te hipnotizando, cada elemento, cada sample, encaixados em uma simetria deliciosa. Entende aonde quero te levar? 

Após Blue Lines, eles lançaram outros quatro álbuns de estúdio igualmente emblemáticos: Protection (1994), Mezzanine (1998), 100th Window (2003) e Heligoland (2010). Todos os discos contam com vocais em colaboração com uma infinidade de artistas. Entre os convidados, destaque para Shara Nelson, Nelee Hopper, Nicolette, Tracey Thorn e os raps de Tricky. A cada produção o Massive Attack conquistava mais reconhecimento e influenciava o nascimento de mais projetos como incluindo Portishead, Beth Orton, Radiohead, TV on the Radio, para citar alguns. 

Mas, fora dos holofotes, a trajetória do grupo foi marcada por desentendimentos, separações e retornos muito bem-vindos. A começar pela saída de Andrew “Mushroom” Vowles do grupo em 1999 em razão de desentendimentos complexos na produção do álbum Mezzanine. Tricky foi o segundo a deixar a banda, mas em 2016 retornou para colaborar com os últimos trabalhos. Indas, vindas e períodos conturbados também fizeram a banda espaçar seus lançamentos, ficando até cinco anos inativos dentro do estúdio. Novos álbuns não são lançados há 11 anos.

Ainda assim o Massive Attack permanece mais do que ativo nos ouvidos e na história da música. Para se ter ideia, a faixa Unfinished Sympathy, que compõe o álbum Blue Lines, já foi eleita a décima melhor música de todos os tempos em uma votação feita pelo The Guardian. Aliás, o próprio álbum figura na lista da gigante Rolling Stones entre os 500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos. O grupo vendeu mais de 11 milhões de cópias em todo o mundo e recebeu diversos prêmios, incluindo Brit Award, MTV Europe Music Awards e Q Awards

E se você acha que eles também não invadiram as pistas de dança, muito se engana. O Massive Attack foi remixado por uma lista invejável de outros produtores, sendo que praticamente todos os seus álbuns ganharam um segundo capítulo só de remixes. Caso você não conheça nenhum deles, sugiro começar por esse que coloquei aqui em cima. Na minha opinião, é um dos melhores (e mais sexys) e ainda leva a assinatura do brasileiro mestre em remixes Gui Boratto.

Não existe amor mediano por esse projeto, ou você se entrega completamente ou ele passa despercebido, mas aposto e recomendo a primeira opção. Abandone o racionalismo e mergulhe em um som visceral que te abraça sem necessidade de um toque, mas é claro que com um toque fica realmente melhor. Agora feche essa página, prepare as velas, faça um convite, coloque Massive Attack no último volume e seja feliz. Nem preciso perguntar se me entende, não é?

A música conecta.

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