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A música conecta

Special Series | Octo Octa

Por Laura Marcon em Special Series 13.07.2020

Sempre que uma caixa de texto fica em branco para escrever sobre artistas nesta coluna rola uma grande pesquisa para entender cada figura. De onde veio, os primeiros passos, o caminho percorrido, as batalhas enfrentadas, conquistas atingidas e a avaliação da relevância no cenário da música eletrônica para que se enquadre em um Special Series.

Dessa vez não foi diferente mas, especialmente para essa incrível artista, decidi quebrar qualquer padrão ou formato que sempre adotamos por aqui porque, sinceramente, ela merece! Aconteceu assim porque Octo Octa é uma quebra de barreiras como artista e como ser humano, uma inspiração completa, principalmente em tempos presentes, onde a luta por igualdade e respeito entre pares é tão imprescindível para que possamos evoluir enquanto sociedade.

Sendo assim, ao invés de descrever a vida da americana, natural de Chicago, Maya Bouldry-Morrison, resolvi lhe escrever uma carta aberta. Se ela irá ler? Saberemos apenas após a publicação. Ainda assim decidi fazê-la para que fique também registrado a todos vocês que nos lêem um pouco de sua história e de nossos sentimentos e admiração em relação a ela. Nossa recomendação é que você a leia escutando seu álbum Where Are We Going? Fará sentido, acreditem. É isso. Aperte o play e vai!

Carta aberta a Maya Bouldry-Morrison (Octo Octa)

Querida Octo Octa,

Aqui no site do Alataj temos uma coluna dedicada à artistas que consideramos realmente relevantes no cenário da música eletrônica mundialmente, pelo trabalho desempenhado ao longo da carreira e também pelo que representam nesse universo. Você foi a nossa escolhida dessa vez e não encontramos outra maneira de escrever senão nos direcionando diretamente à sua pessoa. Isto porque, honestamente, é realmente difícil conseguir colocar em palavras e descrever não apenas seu trabalho, mas questões da sua vida que, apesar de nos nortear através de pessoas do nosso convívio e de um cenário que precisa ser aberto e igualitário em todo o mundo, não é algo que passamos na pele, entende? Então sequer tentaremos colocar em palavras esta profundidade pois, de fato, não achamos justo.

Para falarmos sobre você, realizamos uma pesquisa sobre sua história, música, caminho percorrido enquanto DJ, produtora e como label owner junto com seu amor Eris Drew (chegaremos nessa parte mais adiante). O resultado dessa pesquisa, esse sim, é fácil de descrever. Você é facilmente considerada um furacão musical! É, na nossa opinião e de muitas outras pessoas, parte do time das figuras mais vanguardistas da House Music. Entre álbuns, EPs e singles, encontramos seu nome em gravadoras conceituadas como Running Back, 100% Silk, Skylax Records, Honey Soundsystem e também no seu próprio label, T4T LUV NRG

Definir seu som já é um pouco mais complexo, dada a miscelânea de linhas sonoras a que você se propõe e que te faz ser uma artista realmente fora da curva. Arpejos nada óbvios, linhas de baixo expressivas, breakbeats, Acid, Indie, old school, Experimental, Deep, apenas para citar algumas das sonoridades que encontramos e que fazem de você uma artista realmente fora da curva e de capacidade criativa ímpar. Nada mais justo você se encontrar hoje em uma posição privilegiada em line-ups de clubs e festivais importantes de todo o mundo, pois também entrega sets enérgicos, dinâmicos e que se comunicam com a pista de uma forma impressionante, seja apresentando-os sozinha ou em seu projeto com Drew.

Mas também encontramos alguém aberto para falar sobre sentimentos, angústias, desafios, superação e, acima de tudo, amor. Lendo suas próprias e sinceras palavras em algumas entrevistas, conhecemos uma pessoa que não estava satisfeita consigo enquanto ser humano e decidiu abrir para si e para o mundo sua transsexualidade. Não somos capazes de imaginar este período em sua vida, mas tentamos entender seus sentimentos através de sua música, principalmente ouvindo seus dois trabalhos, Between Two Selves e Where Are We Going?, ambos que se relacionam com sua transição pública, os quais escutamos para te escrever.

Mais do que viver esse período turbulento em meio a tantas mudanças, você também fala abertamente sobre a ansiedade que te acompanha, outro sentimento que norteia incontáveis seres humanos e profissionais em todo o mundo (principalmente neste em que vivemos atualmente) e como ele te impactou ao longo da sua jornada. Muitas vezes enxergamos artistas como seres humanos que vivem o melhor do mundo sem ver o que se passa atrás das fotos, decks, tours e sorrisos com a pista de dança. Sua transparência ao tratar do assunto é muito importante e relevante, pois traz à tona um tema que deveria ser discutido e compartilhado constantemente.

A superação das adversidades vividas – e ver onde você se encontra – te transforma em uma grande figura no cenário da música e que transparece força e amor, principalmente por sua capacidade de transpor barreiras. Hoje você divide a carreira com sua paixão do ensino-médio, Eris Drew, que também é transgênera, quebrando mais uma vez paradigmas e reforçando que para o amor não há limites. Suas apresentações em conjunto são sempre muito elogiadas, assim como o trabalho que vocês tem feito através do label T4T LUV NRG, fundado no ano passado e mais recentemente o guia Hot n’ Ready DJ Tips, Tricks, & Techniques, onde compartilham dicas e técnicas para DJs, não importando o período de sua carreira. 

Bom, é isso. Esperamos que você tenha conseguido sentir ao menos um pouco da admiração e respeito que temos pelo seu trabalho e por você enquanto pessoa. Que as mensagens que você propaga ecoem de todas as formas possíveis e que você siga inspirando pessoas no mundo todo com sua música, sua representatividade, transparência e exemplo de ser humano. E que logo menos possamos todos nos encontrar em alguma pista de dança por aí.

Com carinho, 
Equipe do Alataj

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