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A música conecta

Boiler Room: um patrimônio histórico e cultural da música alternativa

Por Ágatha Prado em Storytelling 12.08.2022

Começo esse Storytelling de hoje perguntando a você, qual seu Boiler Room favorito? Sei que é impossível escolher apenas um. De clássicos inesquecíveis como o episódio de Carl Cox em Ibiza e de Kaytranada em Montreal, aos surpreendentes como Tangerine Dream no Dekmantel de 2018, e do Bonobo em Londres. O acervo do canal de streaming mais reverenciado do underground mundial, possui mais de oito mil episódios assinados por artistas de todas as partes do mundo, desde nomes em ascensão aos verdadeiros ícones da cultura eletrônica. 

Hoje com mais de 3 milhões de inscritos em seu canal do Youtube, o projeto começa ainda em 2010 a partir de uma ideia inusitada de Blaise Bellville, em um bairro na zona leste de Londres, onde encontrou um espaço perfeito dentro de um armazém construído em 1930. Munido de um par de toca-discos, CDJ e uma câmera barata, Bellville decidiu começar um projeto de transmissão semanal ao vivo, direto do local, revelando um pouco da cena underground londrina. Quanto ao visual? Nada muito elaborado. Apenas um deck com o DJ estrategicamente posicionado de frente e ao centro da camêra, e uma reunião de até 200 pessoas em torno da mesa. 

Com a ideia de desafiar as grandes emissoras – que restringiam espaços para artistas menores e que não fossem os popstars do momento -, o Boiler Room nasceu como um veículo do underground, onde lá seria possível reunir artistas a serem descobertos pelo público do mundo inteiro, trabalhos consagrados de medalhões da cultura underground, e ainda, faixas que não seriam encontradas nas rádios do momento. Já no primeiro ano de história, o Boiler Room contou com apresentações de uma variedade de artistas, principalmente do meio eletrônico, incluindo Theo Parrish, Jamie XX, SBTRKT, Hudson Mohawke, Jamie Woon, Mount Kimbie, Falty DL, James Blake e Ben UFO, entre outros, bem como o suporte da BBC, Fader, Time Out e Dummy Magazine. A partir daí, o sucesso do projeto já estava escrito.

Transmitindo apresentações semanais, o Boiler Room foi consolidando sua marca registrada, via câmera fixada na frente dos decks de DJ e um pequeno grupo de clubbers seletos circulando atrás deles. De Londres o projeto caminhou para Berlim, abrindo o leque de possibilidades de nichos, artistas e pistas de diferentes locais, e despertando assim, o coletivismo virtual, já que o público passou a ter o costume de esperar ansiosamente, quem seria o próximo DJ que eles iriam contemplar. Assim, para os próprios artistas convidados, o Boiler Room passou a ser um canal de comunicação para além das pistas presenciais, e um forte mecanismo de expansão de sua fan base. 

Passando pela Europa, chegando ao Brasil e América Latina, atravessando o mundo em direção à Austrália e Nova Zelândia, pousando no Japão, descobrindo artistas pelo Paquistão, Quênia, Indonésia, China e Uganda, o Boiler Room se tornou uma marca mundial. Além disso, a presença nos principais festivais de música eletrônica do mundo possibilitou o registro documental de momentos inesquecíveis, tornando os eventos possíveis de serem curtidos virtualmente pelo público de casa. Festivais como o Dekmantel, Awakenings, Primavera Sound e Nyege Nyege, tiveram seus momentos registrados, além do próprio Boiler Room Festival, que teve sua primeira edição em Londres em 2019.

Após 12 anos de história, o Boiler Room coleciona episódios icônicos pelo mundo. Fora os que já foram citados no início do texto, não podemos deixar de incluir a fantástica apresentação de Honey Dijon no Sugar Mountain na Austrália, a live de David August em Berlim – a qual está entre os episódios mais vistos da plataforma -, a memorável aula de House Music do saudoso Frankie Knuckles, a recente apresentação de Fred Again – que inclusive já conta com mais de 2 milhões de views em duas semanas – e claro, a apresentação imponente e recente do nosso talento brasileiro, RHR, no Boiler Room em São Paulo. A lista é grande leitores. Fica difícil escolher alguns, muito mais um único favorito. 

Ainda, não podemos deixar de destacar que além dos artistas, a magia do Boiler Room está no público que figura atrás das cabines. São eles que fazem a energia da festa acontecer, mesmo você estando a quilômetros de distância, na sala de sua casa. Lá você se familiariza com clubbers de todos os tipos. Tem o que se perde em cima das caixas, os que se empolgam na diversão, os que se passam com o DJ e levam um soco na cara, os casais que se amassam apaixonadamente frente às câmeras, os que roubam bebidas dos artistas, enfim, o público é uma arte a parte. Inclusive, o canal People Of conserva com detalhes, os melhores momentos na série People Of Boiler Room

A música conecta.

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