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A música conecta

Louie Vega e sua relação com a Big Apple explicitada em Expansions in the NYC

Por Isabela Junqueira em Storytelling 06.05.2022

Quantas obras primorosas a relação criador e inspiração em sua base já nos rendeu? Tom Jobim e o Rio de Janeiro, Demônios da Garoa e São Paulo, The Notorious B.I.G. e o Brooklyn, 2Pac e a Califórnia… são incontáveis os bons exemplos do que essa dinâmica criativa pode render — e já rendeu. Na música eletrônica, também não falha: de Birmingham a Chicago. Se apoiando nessa dinâmica, Louie Vega disponibilizou há alguns dias atrás o álbum Expansions in The NYC, onde mergulha nas referências da cidade onde nasceu e se moldou artisticamente para dar vida à uma verdadeira homenagem à cidade e sua relação com a música eletrônica.

Mas antes de avançarmos, é sempre válida aquela contextualização, não é mesmo? Louie Vega é a metade criativa do Masters At Work, onde junto de Kenny “Dope” Gonzales, desde 1990 dedicam suas vidas à colaboração e ampliação da música eletrônica, já tendo remixado oficialmente Björk, Donna Summer, Dua Lipa, Jamiroquai, Madonna, Michael Jackson, entre incontáveis outros grandes nomes da música popular. Juntos, foram também estão entre os pioneiros do desenvolvimento do House e Garage, chancelando a sonoridade ao adicionar influências do Hip Hop, Reggae, Soul, além de ritmos Afro-caribenhos, representando os sons que percorriam a Big Apple.

A importância do MAW para a disseminação da música eletrônica pelo globo foi e é simplesmente fundamental. O duo ajudou diretamente no estabelecimento de respeito pelas batidas sintéticas, fazendo com que a House Music e o recém-nascido Garage ganhassem novos adeptos, alcançassem novos espaços e patamares. Além de Masters At Work, a dupla também utilizou os alias de KenLou, Sole Fusion e Nuyorican Soul. Vale ressaltar que o trabalho muito bem desenvolvido vai muito além de uma fusão certeira. Por trás, existem duas cabeças altamente nutridas por ritmos pluriculturais que pulsavam entre as ruas de Nova Iorque.

Inclusive, voltando ao Louie Vega em específico, o artista foi criado no distrito do Bronx — aspecto fundamental para seu despertar e desenvolvimento musical. Quando criança, percorrendo àquelas ruas, ele conta que sempre escutava músicas gospel, Funk, Jazz, R&B, Soul, o que naturalmente o marcou. “Eu era apenas uma criança com um sonho no Bronx e acho que ouvir tudo que estava ao meu redor – ver meu tio Héctor Lavoe [cantor porto-riquenho de salsa, ícone do ritmo] quando criança no Madison Square Garden – todas essas coisas realmente me afetaram”, narrou Vega em entrevista ao Traxsource.

Além de crescer embalado por nomes como Charlie Parker, John Coltrane e Miles Davis, estar no Bronx presenciando o nascimento do Hip Hop, ver nomes como Afrika Bambaataa, Afrika Islam, Jazzy Jay e Red Alert literalmente há alguns quarteirões de suas casa; além de conviver com outros aspectos da efervescente vida artística, como os dançarinos de Break e a equipe do Rocksteady, não só nutriram a mente de Louie, como moldaram sua mente e o agregaram referências, que, futuramente, seriam essenciais ao consolidá-lo como um artista fora da curva. E Louie garante: “acho que se eu tivesse nascido em qualquer outra cidade definitivamente não teria acontecido. Eu culpo tudo em Nova York!”, brinca.

Na entrevista mencionada anteriormente, publicada em 2018, “Little” Louie provavelmente nem havia cogitado ou formulado seu mais recente álbum, Expansions In The NYC, mas já reverberava aos quatro cantos do mundo a relevância da cidade para sua atuação e criatividade enquanto artista. Quatro anos depois, esse relacionamento ganha ares de explicitação com a chegada do álbum, que não só reforça a importância dessa relação, mas também chega em tom de homenagem a todos os ritmos que fazem de Nova Iorque uma cidade tão rica e diversa musicalmente. Em 22 faixas, o produtor manifesta a energia de seu club fundado em 2019, o Expansions NYC, e reúne um mosaico de perspectivas artísticas com Honey Dijon, Moodymann e outras excelentes colaborações.

Além de honrar o local e o passado que o habilitou a ser esse criador tão fantástico, Louie também refletiu que nos últimos anos vem encontrando inspiração em novos músicos que vem colaborando, assim como no público que o acompanha em seus shows, o que automaticamente faz com que o álbum também seja sobre novos começos e ciclos — facilmente sentidos ao longo da audição do belíssimo álbum. Obrigada Louie Vega (e Nova Iorque).

A música conecta.

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