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A música conecta

Marco Resmann é fruto da Berlim dos anos 90, mas segue atual e inovando

Ao abrir o perfil de Marco Resmann no Resident Advisor rapidamente é possível perceber que estamos diante de uma figura diferenciada. Se julgar o livro pela capa pode ser uma modalidade arriscada, esse não será o caso. O perfume da excentricidade sentido nos primeiros segundos vai perdurar o tempo que você estiver em conexão com o artista. Essa característica pode, inclusive, ser uma das palavras de orientação desse berlinense. Claro, além de tudo é alemão e é justamente daqui que partimos.

Como muitas crianças que cresceram nos anos 90, na Alemanha, Marco Resmann caiu na graça da música eletrônica que efervescia por aquelas bandas. Naquela região germinava uma semente em um solo tão fértil e revigorado pelo muro que veio ao chão, que a história nunca mais seria a mesma. Tudo era muito novo e os jovens ali estavam com uma sede insaciável pela vida. Muitos deles compraram suas baterias eletrônicas, synths e começavam a “brincar”, mal sabiam que, anos mais tarde, alguns se tornariam ícones.

O jovem Resmann, fascinado por tanta novidade e pela chuva torrencial do Love Parade, deu seus primeiros passos naquela que seria sua profissão da vida, atrás de seus dois decks e mixer e uma jornada incansável, que o colocou no respeitado eixo do House e Techno local. Com a grana conquistada através de gigs e eventuais festas que promovia, ele conseguiu abrir seu estúdio Audiogain, onde continuamente refinou suas habilidades de produção em equipamentos analógicos.

Com sede por destrinchar esse universo, os anos 2000 trouxeram a ele parte da força de produção chamada Pan-Pot, que redefiniu o lado mais viajante do Minimal Techno. É fato que sua mente aberta sempre trouxe colaborações e projetos diferenciados, o Luna City Express, ao lado de Norman Weber, é outro forte exemplo. Mas, talvez um dos mais representativos, seja pela época, pela cidade ou pela força de marca, é a Watergate. Ali, Resmann serviu a pista com cortes dançantes e igualmente complexos durante anos em sua residência e percorreu o mundo com um showcase singular. Seu nome é tão bem quisto no núcleo, que consagrou-se na assinatura do décimo aniversário do Watergate Mix Series (2012) com um passeio impecável que narrou sua trajetória musical. Você precisa “ouvir” para crer.

Mas, relacioná-lo à Berlim é algo muito esperado quando pensamos em música com orientação para pista de dança. Seu protagonismo local é reconhecido e não termina neste grande club. Outra grande prova são os anos em que ele também foi o anfitrião em noites do Panorama Bar com a label party da sua gravadora, Upon.You

A meticulosidade em suas mixagens, concedem a ele toque reconhecível e um amor por arranjos detalhados e complexos que sempre remetem à sensação de que algo perspicaz está sendo construído. Suas tantas produções figuram catálogos renomados do mercado fonográfico, mas o produtor procura se manter conectado com selos específicos e que possuam consonância com seu som, sendo normal enxergar os mesmos nomes repetidas vezes em seu portfólio. Alguns exemplos são a Poker Flat, Harboor, Warung Recordings, Mobilee e claro, Watergate Records

Suas gigs pelo mundo são incontáveis a essa altura da carreira, entre festas, festivais e grandes clubes, ele concebeu uma reputação de respeito, como um nome que reverbera qualidade em sua entrega. Aqui no Brasil, já tocou no D-Edge, Vibe, Warung, festas regionais como Sharp Movement e Levels, e logo mais estará de volta para novas gigs, incluindo a próxima edição no Surreal, no dia 15 de abril. Aliás, conversar com as pistas brasileiras é algo que ele faz muito bem, obrigada.

Em termos analíticos, podemos dizer que Marco Resmann é um dos frutos mais prolíferos que a música eletrônica alemã entregou em seu momento de ascensão, já que desde o princípio, observou-se um aficionado a frente do seu tempo, que baliza com precisão as oscilações entre o arrojado e o confortável, criando cenários musicais vanguardistas. Uma pista com esse cara é uma experiência avançada que convida os ouvintes a cruzarem a linha do conveniente. Se puder, recomendo que encontre-o. 

A música conecta.

A MÚSICA CONECTA 2012 2025