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A música conecta

Mathew Jonson: um som estranhamente distinto e um talento admirável

Muitas vezes escrevemos storytellings que parecem se repetir, já que histórias de grandes ícones da música eletrônica frequentemente começam na infância, com uma exposição precoce à música. Isso mostra como é importante que crianças descubram esse universo o mais cedo possível, já que há grandes chances de florescer uma paixão a partir dali, culminando no nascimento de um novo e importante artista no futuro. Foi assim com Mathew Jonson e acreditamos que será assim com muitos outros ainda. 

O artista canadense cresceu abraçado por uma família bastante musical. Seu pai tocava diversos instrumentos e sua mãe também sempre apreciou música em geral. Os pais, atentos aos pequenos sinais do filho, perceberam que tudo o que Mathew fazia nos primeiros anos de vida era bastante rítmico. Então, aos 7 anos de idade, ele aprendeu a ler partituras, começou a tocar bateria e até entrou em uma banda escocesa de gaita de fole, onde tocava snare drum. No grupo, ele era a única criança. Sim, todos os demais integrantes eram adultos, o que permitiu com que ele aprendesse em um alto nível desde muito cedo. Aos 9, foi introduzido ao piano clássico e então foi formando um background bastante diversificado, mas com muita presença do jazz. 

Mathew nunca cursou uma faculdade e inclusive chegou a trabalhar como salva-vidas de piscina. Pensou também em se tornar um chefe de cozinha, mas sua inclinação para a música sempre falou mais alto. Quando era adolescente, foi influenciado principalmente por estilos como break dance, electro e gangsta rap; ouvia Public Enemy, 2 Live Crew, NWA e foi como aprendeu a produzir música eletrônica — basicamente pegando músicas desses artistas e refazendo-as nos seus sintetizadores. Tanto que os estilos que ele mais ouve são hip hop, rap e drum & bass, e entre 1995 a 1999, chegou a ser DJ de D&B. 

Mas foi a partir de 2001, quando ele lançou seu primeiro disco como Mathew Jonson, pelo selo Itiswhatitis, que a história começou a mudar. New Identity já dava a letra de que um novo artista com uma identidade distinta estava surgindo. Ele se revelou um produtor mutável, mas com um DNA sonoro muito reconhecível, marcada essencialmente por sequências de baixo retorcidas e melodias hipnóticas, conquistando um lugar de destaque na cena do Minimal Techno, especialmente após lançar um clássico, Marionette, em 2005.

Em uma entrevista, ele contou a história por trás dessa icônica track: “Eu fiz Marionette (a versão original) primeiramente em 2003, pela Crosstown Rebels, mas não achei que tivesse o suficiente acontecendo nela. Então, eu a refiz e relancei no meu selo, Wagon Repair, em 2005. Depois de muitos anos, decidi que na verdade gosto mais da faixa original, então coloquei-a no meu segundo álbum. Eu sabia que era especial, sim. Então, é claro, foi por isso que tentei refazer a ideia em algo melhor. É engraçado como às vezes você pensa que uma faixa precisa de mais coisas, mas na realidade ela está bem do jeito que está”.

Nos anos seguintes, novos trabalhos chegaram e comprovaram a eficiência de Mathew em produzir um som estranhamente distinto, mas admirável, incluindo sua primeira aparição na Perlon com a track Alpine Rocket, faixa que ele produziu ao lado de Luciano em sua primeira viagem à Europa. E então, de repente, Jonson estava por toda parte, emplacando faixas em selos de prestígio como Cocoon, Kompakt e M_nus, e através do seu próprio, Wagon Repair.

Em paralelo à sua trajetória de forma solo, ele também dedicou sua energia e se destacou através do grupo Cobblestone Jazz, com Danuel Tate e Tyger Dhula, que ficou conhecido por sua abordagem criativa ao misturar jazz e música eletrônica. Ao longo dos anos, Mathew Jonson continuou a evoluir, explorando sonoridades mais pessoais e introspectivas, mas sempre mantendo um pé na pista de dança. Seu álbum Her Blurry Pictures, de 2013 pela Crosstown Rebels, é um exemplo disso, onde ouvimos uma abordagem ritmicamente complexa e atemporal em oito composições fluidas e ricas. “Nos últimos anos, minha vida viu uma transição de estados mais sombrios para algo cheio de luz. Isso levou ao lançamento deste álbum”. No mesmo ano, algumas faixas também receberam um EP de remixes com versões de Tale Of Us, Dixon e Akufen.

Apesar de ser um exímio produtor, ele também é um músico brilhante em cima do palco. Suas performances ao vivo são uma mistura de técnica e criatividade através do uso de equipamentos analógicos e digitais, o que permite com que ele manipule suas faixas em tempo real. Seu setup inclui desde instrumentos clássicos como os sintetizadores Roland TR-808 e TR-909, bem como sistemas modulares sofisticados que permitem uma interação mais profunda com o som, o que faz com que ele se envolva completamente no processo, ajustando sequências de baixo, modulando sintetizadores e criando ritmos complexos que surpreendem quem ouve e assiste, consciente do seu papel: “Não se trata de ser todo nerd e essas merdas, estou consciente de que quando me apresento, é para fazer festa para as pessoas, é isso o que elas querem”.

Atualmente, Mathew está num momento muito agitado da carreira e cumprindo diversos compromissos importantes. Recentemente, ele abriu a temporada de verão do Hï Ibiza ao lado de Damian Lazarus e nos próximos meses estará presente em eventos como o Dimensions Festival, MUTEK Montréal, Houghton Festival. Antes, porém, vem ao Brasil, após quase 10 anos longe do país — sua última passagem por aqui havia sido em 2015. Ele toca tanto no D-EDGE SP, dia 21 de junho, como no Surreal Park, dia 22, celebrando o aniversário de dois anos da label Botanic, em noite que ainda terá Aninha, Botanic Soundsystem e Meliq, entregando uma pesquisa musical preciosa através de uma seleção em vinil. Portanto, se você não teve a oportunidade de presenciá-lo por aqui anteriormente, essa é a hora.

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