A arte de remixar ou gerar mash-ups ganha, paulatinamente, mais força na contemporaneidade. Basta rolar brevemente o feed do TikTok para encontrar incontáveis (incontáveis mesmo) versões novas para músicas antigas — o que conduziu o aplicativo chinês a ser elencado como uma senhora vitrine capaz de trazer à tona faixas antigas e reintroduzi-las entre as playlists e preferências musicais da frenética geração dos Millennials. Fato é: não só tem espaço para essa arte no mercado, como ela finalmente está ganhando a real dimensão que merece. Mas a premissa de remixar é bem antiga, de meados dos anos 60 e 70.
Os primeiros remixes eram bem rudimentares e até onde se sabe, as primeiras experimentações foram concebidas a partir do Dance Hall caribenho. Porém, o termo “remix” foi estabelecido em meados dos anos 70, a partir do trabalho de misturar fitas e bobinas do pioneiro Tom Moulton (o mesmo responsável pela criação do vinil de 12 polegadas). Dos dubs jamaicanos ao pioneirismo estimadíssimo do Hip-Hop e seu inconfundível uso de samples, dos produtores do House de Chicago aos mash-ups que encontramos pelas redes sociais, é inegável que o legado de Moulton sobrevive com o trabalho criativo de incontáveis produtores musicais pelo mundo todo.
+++ Relembre o editorial de Caio Stanccione porque você precisa conhecer Tom Moulton
Mas entre todos os produtores que se arriscam nessa poderosa arte, o destaque deste Storytelling vai o Hot Chip, uma banda de música eletrônica que fura toda e qualquer bolha musical para distribuir incalculáveis remixes para o mundo da música. Tentei trazer uma lista variada de nomes aos quais os britânicos já reinterpretaram. Lá vai, em ordem alfabética: Amy Winehouse, Donna Summer, Florence and the Machine, Gorillaz, Katy Perry, Kraftwerk, M.I.A., Nina Simone, New Order, Nine Inch Nails, Sia, The Pharcyde, The Rolling Stones, U2 — e a lista de remixes oficiais se estende.
A lendária banda britânica de Indie Dance formada nos anos 2000 tem como atuais integrantes Al Doyle, Alexis Taylor, Felix Martin, Joe Goddard e Owen Clarke, e desde os primórdios entrega um trabalho musicalmente díspar, que realmente não cabe em palavras, mas encontra vazão entre os mais diversos gêneros da música eletrônica. A banda, inclusive, curiosamente parece adorar a adjetivação de “estranha” para as suas produções e projetos — principalmente porque os integrantes formam uma banda que respeita a excentricidade de cada um de seus componentes.
Vale lembrar que é aí que entra o grande toque especial que permite o fornecimento dessa vasta produção de remixes (muito bons) para o mercado fonográfico. O fato de serem cinco integrantes certamente facilita não só o processo de reinterpretação de uma faixa, como também a habilidade para trazer a diversidade entre as incontáveis versões. São cinco universos diferentes, que confluem em uma criatividade muito bem consolidada em grupo no estúdio. A capacidade de equilibrar a euforia dessas cinco mentes com sonoridades que podem ir da introspecção à explosão sem falhar ou gerar conflitos sonoros, é um dos fatores que fazem do Hot Chip um dos maiores e mais acertados fornecedores de releituras para a música global.
E vale reforçar que o ato de remixar é uma prática que detém papel fundamental de reconhecer grandes obras também. Remixar é uma espécie de metodologia musical de citação, que abre o caminho para escoar a expressão vital da cultura, que deve ser constantemente relembrada e exaltada, principalmente em tempos de tamanho desprendimento ao passado e flerte com a ignorância. Além de ser uma ferramenta muito preciosa para a manifestação da criatividade.
Fizemos uma seleção de remixes que estão dispostos ao longo deste Storytelling e elucidam a brilhante capacidade da banda inglesa em transitar entre as mais diversos estilos, texturas e características da música global, sempre entregando remixes que não só trazem qualidade, mas também a incrível aplicação de camadas sintéticas capazes de condicionar uma espécie de carimbo musical da banda. Aproveite!
A música conecta.