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A música conecta

Rødhåd: essência e visceralidade direto de Berlim

Por Isabela Junqueira em Storytelling 29.02.2024

Rødhåd nada mais é do que um fruto das vivências de Mike Bierbach pela noite berlinense. No final da década de 1990, ele começou a construir as bases para sua carreira organizando pequenas festas ao ar livre, nos arredores de Berlim, apenas para suprir uma própria demanda por diversão, ao mesmo passo que ele demonstrava uma habilidade bastante precisa no DJing. O próprio Rødhåd narra que o techno que predominava por Berlim à época era menos denso e mais enfeitado, e no fundo, o que motivou seu envolvimento na cena foi justamente a necessidade de movimentos que nutrissem o bom e clássico techno de Detroit.

Não demorou para que o alcance do som que Rødhåd vinha promovendo extrapolasse os limites locais. A notícia sobre o “novo garoto do techno” se espalhou para muito além de Berlim e quando as oportunidades começaram a surgir, elas definitivamente o encontraram muito bem preparado — algo que muitos chamariam de “sorte”. Seu estilo, embora específico, é dinâmico e consiste em um blend entre o techno clássico, dub, deep e ainda é bastante influenciado pelo house. A atmosfera profunda, poderosa e melancólica que surgiu dessa combinação pavimentou os caminhos do alemão, que desenvolveu uma técnica de mixagem perfeita e consolidou seu som como algo atemporal, o que acabou por lhe render um amplo reconhecimento. 

O que começou como uma busca pessoal por expressão e autenticidade, o levou a explorar as profundezas da cena noturna da cidade, forjando uma conexão particular com o techno, um gênero que já era muito bem aceito nas paisagens urbanas de Berlim, mas ganhou outras dimensões sob a perspectiva de Rødhåd. Ele seguiu ampliando sua presença entre as principais pistas ao longo da maior parte dos anos 2000, sendo inclusive aclamado na arte de sustentá-las com excelência por longos períodos. Em 2009, ele co-fundou a Dystopian, que começou como uma série de festas e três anos depois, foi lançada também como gravadora e rapidamente se tornou um dos selos de techno mais estabelecidos do mundo, lançando músicas do próprio Rødhåd, Recondite, Monoloc, entre diversos outros medalhões do gênero.

O lançamento da Dystopian também foi acompanhado pelo primeiro lançamento musical de seu cofundador, Rødhåd. O EP 1984, composto por três faixas, marcou a dupla estreia em 2012. O selo desempenhou um papel fundamental no estabelecimento desta estética mais obscura e seu trabalho foi exemplar ao longo de 14 anos. No entanto, em maio do ano passado, sem grandes justificativas, a label anunciou seu fim, com uma boa parte do catálogo musical de Rødhåd sendo mantido no guarda-chuva do seu novo selo, fundado em 2018. A WSNWG é uma casa para colaborações, enquanto a WSNWGBTZ é a sublabel que se dedica aos lançamentos solos. 

A partir de 2012, o desenvolvimento de um som distintivo que combina elementos sombrios, atmosféricos e intensos foi praticamente orgânico. Seus incontáveis singles e EPs e os seis álbuns que ele já entregou até aqui foram muito bem recebidos pela comunidade e crítica, que o considerou uma “fusão única de elementos industriais, melódicos e experimentais”. Além de exímio produtor, ele se consagrou também um grande colaborador e um remixer de mão cheia… não à toa, um de seus maiores sucessos é o remix para Signs, do Howling. Target Line (em colaboração com Vril) também é uma faixa de destaque em sua discografia, assim como The Wall, 190205 e VERMILLION 03

Carinhosamente apelidado de “the red” (ruivo, em livre tradução), o apelido foi o que inspirou o nome que batiza seu projeto — afinal Rødhåd nada mais é do que ruivo na língua germânica setentrional. Além de sua atuação como artista, Rødhåd também desempenha um papel importante nos bastidores da cena musical berlinense e global. Seja como um defensor ativo da comunidade underground, colaborando com outros artistas e promotores para criar espaços e eventos que celebram a diversidade e a criatividade na música eletrônica, ele se tornou muitíssimo influente, indo além das pistas de dança e inspirando uma boa geração de artistas e ouvintes.

Com o passar dos anos, cada vez mais motivado por suas experiências noturnas e pela essência e visceralidade musical de Berlim, ele segue nutrindo uma estética sonora única que o consolidou uma figura central do efervescente techno contemporâneo. No palco, Rødhåd é uma presença magnética, hipnotizando o público com sua energia contagiante e sua habilidade de criar uma atmosfera que equilibra precisamente momentos de introspecção e euforia. Suas performances são uma experiência catártica e ele mesmo afirma que o DJing é, sem dúvidas, a sua grande força. Inclusive, algumas das apresentações mais históricas do Berghain foram comandadas por ele.

E se você gostaria de sentir toda essa potência nas pistas ou revê-la, a boa notícia é que em março, o “ruivo” tem datas por aqui! Este sábado, dia 02, ele se apresenta no CAOS Campinas, acompanhado por Due, KaioBarssalos e Vermelho, além de Fratello, Gartzzea, Maccari, N:OW e P2 no Beco — e os ingressos estão disponíveis através da plataforma Ingresse. No próximo sábado, dia 09 de março, ele vai se apresentar no D-EDGE SP, ao lado de Andre Salata e Guille, enquanto a pista 2 ficará sob o comando de Diogo Accioly e o português Manuel Cotta. Os ingressos, como para todas as outras noites do club, estão disponíveis no Blue Ticket

Rødhåd em sua primeira apresentação no CAOS Campinas, em 2019

Com uma carreira profundamente marcada pela autenticidade e inovação, Rødhåd continua a deixar sua marca no techno contemporâneo enquanto sua música é uma autêntica expressão da sua visão única e paixão pela arte, consolidando seu lugar como uma figura central na paisagem sonora de Berlim e além… 

Conecte-se com Rødhåd: Bandcamp | Beatport | Discogs | Instagram | SoundCloud | Spotify

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