Em uma indústria impulsionada por redes sociais e relações públicas, em 2011 três amigos apaixonados por música se conectaram e começaram a criar algo que alguns anos depois constituiria uma visão conjunta que vai além da música e se estende sobre a vida. Fugindo das promoções e de uma conduta comercialmente “agressiva”, Laurine, Cecilio e Francesco Ferrara (o DJ Tree) optaram por caminhar ao invés de correr, permitindo que a música seja o grande foco e que a qualidade da sua entrega musical (por trás dos decks e no estúdio) fale por si só. Assim, em 2013 nasceu o selo berlinense Slow Life, uma gravadora que, desde o início, se destacou pela abordagem distintiva à dance music, acompanhada por um conceito filosófico que excede a música. Posteriormente o coletivo ainda agregou Sergio Moreira (S.Moreira) e Santi Uribe (o Indi Zone) — que juntos ainda formam o Ethereal Logic.
“Estávamos cavando, discotecando juntos e fazendo música, e ambos os aspectos amadureceram na mesma proporção. Queríamos nos expressar com nossa própria festa, e a música de Sergio estava pronta para ser lançada. Precisávamos de uma plataforma para tudo. E a Slow Life nasceu”, narra Laurine em um papo com a Trommel. Com uma mentalidade que preza a qualidade e não a quantidade, somada a uma forte conexão com a cultura de pista, a Slow Life se estabeleceu na cena. E o nome não foi escolhido por acaso… ele encapsula uma filosofia de vida que valoriza o tempo, a paciência e a apreciação dos momentos, em contraste com o ritmo frenético do mundo moderno — essa abordagem é refletida pelo selo ao explorar sonoridades profundas, atmosferas envolventes e ritmos emotivos. Dessa forma a Slow Life extrapolou a atuação como um selo musical e se transformou na materialização musical de um estilo de vida que incentiva a desaceleração e a valorização da arte na sua forma mais pura.
Embora enxuta, a discografia da gravadora é caleidoscópica e por vezes, de difícil compreensão já que não levanta bandeiras. Por exemplo: no ápice da energia, melodias espaçadas, linhas de baixo ácidas e percussões bem elaboradas são um consenso; em um momento mais relaxado, o ambient pode ser entrelaçado suavemente a elementos clássicos do jazz, somados a elementos futuristas — e afinal de contas, a vida não é assim, mutável e variante? Os lançamentos da Slow Life abrangem uma ampla gama de estilos dentro da dance music, mas sempre com um foco claro na profundidade e na musicalidade: das batidas groovy aos baixos profundos do house, passando pelas texturas ricas do techno, até as vibrações mais experimentais e ambientais, a abordagem do selo oferece uma paleta sonora rica e variada. Essa diversidade é um dos grandes trunfos da gravadora, que tem atraído uma audiência cada vez maior, que busca nada além de qualidade e autenticidade.
Embora o som do selo tenha, sem dúvida, amadurecido ao longo dos anos, eles sempre mantiveram o estilo próprio e sustentaram um nível de sofisticação que os levou a concretizar uma das gravadoras e coletivos mais respeitados. O sucesso da gravadora e a sua crescente base de fãs são uma prova de que a abordagem orgânica e refrescante não só funciona, mas é criativamente abundante. “Ainda estamos fazendo as coisas da mesma maneira que fizemos desde o início. A única diferença é que agora, às vezes, recebemos mais atenção da mídia. O ethos do crescimento orgânico ainda é um dos nossos mais fortes”, comentou Laurine na mesma entrevista mencionada anteriormente. Desde então, os lançamentos do selo incluem produções de Alex Neri, Primary Perception, Paolo Mosca, Huerta e Saverio Celestri.
Os fundadores também são responsáveis por muitos dos lançamentos que têm ajudado a construir o catálogo diversificado e de alta qualidade da Slow Life e suas contribuições ajudam a definir o som do selo, cada um trazendo sua própria perspectiva e influência, mas sempre mantendo a coesão que caracteriza os releases do selo. Essa capacidade de manter a identidade sonora forte, enquanto acolhe uma diversidade de estilos é um dos segredos do sucesso que o selo adquiriu em pouco mais de um ano. Embora cada um traga sua própria sensibilidade e expertise para a mesa, a colaboração entre as mentes que nutrem a gravadora resulta em uma sinergia criativa que é palpável não só em cada release, mas também em suas apresentações e showcases.
A harmonia que eles compartilham por trás dos decks também é notável e levou a marca a promover showcases ao redor do mundo que não só ajudaram a disseminar a música e a qualidade promovida pelo coletivo, mas também fortaleceram e seguem fortalecendo a comunidade ao seu entorno, criando conexões entre artistas e público que vão além das pistas de dança. Diggers experientes, eles já levaram os showcases da marca para cidades-chave da música eletrônica como Paris, Barcelona, Londres e Amsterdã e neste verão vão assinar uma boat party no icônico Dimensions Festival — ou seja, a presença do coletivo se amplia pelas pistas à medida que a música promovida pelo selo é difundida.
A evolução do Slow Life ao longo dos anos é um testemunho do compromisso de seus fundadores com a música de qualidade e a autenticidade. Eles não se contentam em seguir tendências passageiras; em vez disso, buscam constantemente novas formas de expressão e inovação dentro do espectro musical que definem. Isso lhes permite não apenas manter relevância, mas também continuar a influenciar e inspirar a próxima geração de artistas e fãs. Já as festas e eventos promovidos pela marca são considerados ambientes inclusivos e acolhedores, onde a música é celebrada como uma forma de arte e expressão e o espírito comunitário é parte integrante do ethos do selo.
A filosofia de “vida lenta” que o selo promove também é refletida em suas práticas empresariais e na forma como gerenciam seus contribuintes, evitando a produção em massa e a pressão de lançar continuamente novos materiais, optando por um ritmo mais sustentável que permitem aos produtores se desenvolverem e criarem música que realmente ressoe com suas visões artísticas e esse cosmos completo contribui para a posição respeitada que a marca berlinense adquiriu ao longo destes 11 anos na cena global.
Aqui, aquele velho ditado de que “sozinhos vamos mais rápido, mas juntos vamos mais longe” é real, tangível e o apelo magnetizante da Slow Life é o fruto da soma de suas partes. Foi assim que a Slow Life se transformou em uma filosofia, movimento e comunidade que celebra a música e a vida em um ritmo mais contemplativo e apreciativo, mostrando que, às vezes, desacelerar é a melhor maneira de realmente apreciar a jornada. Eles simplesmente deixaram sua música e curadoria alcançarem o público de forma orgânica, resultando em uma base de fãs que reconhece de forma inquestionável a qualidade meticulosamente semeada e o respeito arduamente conquistado — e o que há de mais correto em um ecossistema saudável e legítimo do que isso?
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