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A música conecta

A curiosa história de Witham Saint Hughs, um vilarejo inglês que recebe o Lost Village Festival

Por Ágatha Prado em Storytelling 15.09.2021

Em meio a uma paróquia longínqua, pertencente ao distrito de North Kesteven em Lincolnshire, na Inglaterra, existe um simpático vilarejo com pouco mais de 2.500 habitantes, que vivem em harmonia através de um espírito comunitário, amigável e vibrante. Entre casinhas que parecem saídas de um conto de fadas, construções antigas e longos campos de vegetação e florestas, a região de Witham Saint Hughs recebe anualmente um dos maiores e mais surreais festivais britânicos para uma experiência fantástica. 

Consolidando seis edições até aqui, o Lost Village abraça anualmente cerca de 18 mil pessoas em seus eventos, capacidade nove vezes maior que a quantidade de moradores de Witham St Hughs. Com o propósito de conectar arte, música e entretenimento a um ambiente mágico e misterioso, foi considerado um dos festivais mais bem produzidos pela premiação da UK Festival Awards de 2017

Mas o que de fato despertou o interesse de Andy George, co-fundador do Lost Village, no pequeno vilarejo de Witham St. Hughs para se estabelecer como sede do evento? Bom, a tradição de optar por pequenas cidades e localizações afastadas com uma certa mística, não é algo exclusivo do Lost Village. 

Se percorrermos a vastidão do globo e procurarmos por festivais que adotem esse tipo de lógica, nos deparamos com nada menos que uma grande quantidade de projetos que atendem à mesma lógica, a fim de proporcionar uma experiência diferenciada das grandes raves convencionais. O Burning Man é um exemplo disso. A Black Rock Desert, região onde acontece o festival que é um dos maiores do mundo, é uma área de conservação ambiental no deserto de Nevada com uma vista deslumbrante para um dos maiores conjuntos de ilhas vulcânicas do planeta. Sendo assim, a experiência se torna ainda mais fascinante quando o mundo do entretenimento contracultural se conecta a esse tipo de ambiente, formando um conjunto de atrativos diferenciados e completamente inusitados para o experimento do evento americano.

O mesmo conceito se amarra ao Universo Paralello, o festival de música eletrônica com maior projeção no Brasil. O UP é conhecido por escolher locais que vão na contramão dos grandes centros mesmo em suas primeiras edições que se desenvolveram em meio à magia do cerrado brasileiro, em plena Chapada dos Veadeiros. Hoje em sua 16º edição, se estabelece às vistas deslumbrantes das praias de Pratigi na Bahia, região esta que é a cereja do bolo para a plenitude da famosa “experiência do Universo Parallelo”, através do êxtase que é sentido quando todos estão dançando sob a luz da lua, sentindo a areia entre os dedos do seu pé e a brisa da praia.

Voltando ao Lost Village, a escolha do local é algo que está extremamente alinhado com o conceito do projeto. Quando Jay Jamenson e Andy George decidiram dar start ao conceito do festival, a ideia era fugir de tudo que já havia sido feito anteriormente. Inspirados nas atmosferas teatrais, que traziam uma mística perturbadora e ao mesmo tempo lúdica, o objetivo foi introduzir uma realidade alternativa com atenção a todos os detalhes visuais e sensoriais. Por trás do projeto existe uma equipe que trabalha em conjunto desde o início para produzir um alinhamento consistente com o propósito do projeto, seja desde a experiência visual coordenada por diretores de roteiro e cenografia, até marcas de patrocinadores que façam um fit perfeito com a ideia central do Lost Village. 

O festival, que começou em 2015, foi ganhando força ao longo dos anos. O que começou como um pequeno evento boutique, hoje agrega um line-up impressionante envolvendo os players mais requisitados da cena mundial como Richie Hawtin, Peggy Gou, Four Tet, Caribou, Bicep, Bonobo, David August, Tiga, Modeselektor e muito mais. E claro que para lidar com toda essa estrutura necessária existem muitos desafios. Em uma de suas entrevistas, a equipe de produção do Lost Village pontou que os principais esforços para o sucesso do festival se dá dentro da área de marketing, onde é necessário vender uma experiência realmente verdadeira e diferenciada para atrair o público a um local nitidamente remoto. Segundo Jay Jamenson, diretor-geral do festival, já no lançamento da marca as vendas de 4 mil ingressos foram esgotadas mesmo antes do anúncio do line-up, e esse sucesso é condicionado à grande estrutura oferecida pela equipe para o bem estar do público, como gastronomia refinada – que é um ponto alto do festival -, acessibilidade, conforto, e interatividade artística que pulsa a todo instante para além dos palcos musicais.

Com relação à ideia de produzir um festival em locais remotos, a experiência ao mesmo tempo que pode ser fantástica e distinta de tudo que já existe, possui suas desvantagens. Sem dúvidas o custo de elaboração de uma estrutura compatível com a capacidade e que ofereça o conforto e a segurança necessária para um evento do porte do Lost Village é muito maior quando envolve um local fora dos grandes centros. Tanto a logística quanto também a conexão com fornecedores que podem estar distantes do local escolhido podem ser um desafio nesta questão. Também no caso de um sinistro fica muito mais fácil de encontrar a solução estando em grandes centros urbanos.

Porém a liberdade para criar uma experiência totalmente nova em locais como Witham St Hughs, Black Rock Desert ou Pratigi, por exemplo, é incomparavelmente maior com um de capacidade definida nas grandes cidades. A gama de possibilidades de trabalhar com ambiente a favor da magia do evento é uma vantagem para a escolha dessas áreas mais afastadas, permitindo uma imersão mais profunda, onde o público possa aproveitar o lugar se expressando da forma mais livre possível, sem se preocupar com restrições. 

A música conecta.

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