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A música conecta

E o Melô do Isqueirão, hein?

Por Isabela Junqueira em Trend 08.05.2024

Uma das coisas que, particularmente, mais me encanta no universo da música é essa constante e maravilhosa sensação de descobertas (e até redescobertas)… essa sensação acontece, claro, com lançamentos musicais, mas principalmente com joias que se escondem com o tempo e vez ou outra, são resgatadas por habilidosos seletores. Fato é que a música por si só é uma máquina do tempo que te permite flutuar por décadas, gêneros e movimentos culturais, e que além de tudo, também carrega a história consigo. E aliás, a faixa que é tema central dessa Trend é um exemplo e tanto de toda essa dinâmica. Em meados dos anos 2000 dois grandíssimos e célebres nomes da música brasileira se uniram sob o alias de Bonde Fumegante. Dudu Marote e Nego Moçambique são os dois responsáveis por uma das faixas de house mais abrasileiradas de todos os tempos, o Melô do Isqueirão (Resposta do Marcelo).

O Melô do Isqueirão é uma faixa divertida e muito, mas muito dançante… apesar da escassez de informações tanto sobre esse projeto genial que reuniu dois gigantes quanto sobre o lançamento da faixa em si, o que sabemos é que em 2007 ela já tinha rodado o suficiente para chegar aos ouvidos de Mark Farina — uma das figuras que estabeleceu e lapidou a house music de San Francisco, na Califórnia e que por sua vez, incluiu a faixa em um dos seus compilados de maior repercussão, o Live in Tokyo. De lá para cá o Melô do Isqueirão cruzou duas décadas e seguiu sendo reinserido nas pistas em momentos pontuais… no início de 2023 a faixa ensaiou um comeback forte nas pistas nacionais através de diversos DJs nacionais, de Fran Bortolossi a Mochakk, e chegou até a ganhar um edit por Seed Selector

Diante dessa dinâmica, dois pontos são inegáveis: sua atemporalidade e que esse é mais um ótimo exemplo do constante flerte entre a música eletrônica e o funk — além claro, da raiz do funk ser a música eletrônica (mais especificamente o Miami bass), essa dinâmica reforça que ela não é algo inerente à atualidade. Apesar da ausência de fontes oficiais, a faixa está disponível em plataformas como YouTube e SoundCloud e é muito interessante ler os comentários dos usuários: “Como eu não conhecia essa track? Sensacional.”, “Bonde fumegante chegou em 2023 ha 15 anos atras…. e vc acha que funk com house eh coisa de hoje em dia… brabo demais”, enquanto outros lamentam: “12 anos e nenhum link pra baixar”

https://x.com/FranBortolossi/status/1635477156393263105

Apesar dessa mistura entre house music (e música eletrônica alternativa de forma geral) com o funk seguir dividindo opiniões e gerando discussões que, na maioria das vezes, não se alinham a história ou estão respaldadas por argumentações técnicas, faixas como o Melô do Isqueirão ajudam a aprofundar a perspectiva de quem ainda insiste que estes estilos musicais são polarizados e/ou que não se encaixam. O Melô com certeza vai seguir ressoando ao longo dos anos — talvez até mais que em 2023 —, fortificando a ideia de que a pista de dança só não é lugar para discursos que excluem ou limitam.

A música conecta.

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