Rafael Melhem é um daqueles artistas que conseguem transformar música em sentimento com naturalidade. Seja através do The Soul Architect, antigo projeto com o qual lançou boa parte de suas faixas, ou mesmo com sua própria gravadora, ALRA Records, o DJ e produtor paulista conquistou um espaço de respeito na cena eletrônica — respeito esse que não se traduz apenas em números, mas sim em admiração por parte de outros artistas e entusiastas da música.
Este respeito fez com que Melhem conseguisse realizar algumas colaborações bem especiais ao longo dos últimos anos, incluindo uma track em parceria com Ney Faustini, Miles Away, um remix recebido de L_cio em Deep Shadows, além de outras produções autorais que chegaram até as mãos de Motor City Drum Ensemble e DJ Sneak, por exemplo — um ótimo atestado de qualidade do seu trabalho de estúdio.
Já nos últimos meses, Rafael esteve um pouco mais distante da produção musical; em contrapartida, em contrapartida mergulhou ainda mais na sua paixão pela pesquisa e curadoria como DJ, sempre conduzindo seu repertório com uma abordagem intimista e cuidadosa. Isso lhe rendeu espaço em um dos novos restaurantes aclamados de São Paulo, o Leila, inaugurado em abril, onde toca de forma recorrente desde setembro, sempre aos sábados. Por lá, ele tem o desafio de agradar diferentes gerações, mas também a oportunidade de contar uma história musical do início ao fim, sem pressa.
Apesar de não ser exatamente um listening bar, o conceito se assemelha de certa forma. A música não é a atração principal do espaço, mas deve servir como um complemento, seguindo a ideia retratada na biografia do francês Erik Satie, que diz que em contextos assim, a música deve ser usada “como uma mobília, para preencher o ambiente”. Musicalmente falando, Rafa tem se inspirado bastante em estilos que vão do jazz japonês dos anos 70 ao Deep House dos anos 90, sempre buscando trazer algo novo. “Tento imprimir a junção de duas coisas: o que eu amo tocar com o que pode ser agradável ouvir num contexto de ‘jantar descontraído’. Se eu gosto de ouvir em casa, eu vou colocar pra ouvir na Leila”, explica.
Para ele, o maior aprendizado dessa “residência” tem sido a conexão com o público e a oportunidade de experimentar diferentes coisas, sempre buscando por sonoridades e timbres singulares ou atemporais. “Eu gosto bastante de tocar coisas completamente desconhecidas do público, ou, nos raros casos em que a música é conhecida, que tenha alguma outra interpretação. É uma oportunidade onde eu coloco meus 15 anos de pesquisa musical para rodar”, diz ele, que por muitos anos já trabalhou criando trilhas sonoras para marcas de lojas de moda.
Apesar dessa importante posição que assumiu na Leila, Rafa pretende voltar ao estúdio em 2025 para dar vida a novas músicas, já que será o décimo ano em atividade do ALRA, seu selo. Então, é provável que vejamos novidades na sua discografia daqui alguns meses. Mas enquanto isso, você pode ficar com uma playlist especial montada por Rafa com alguns dos sons que ele leva até o restaurante, mas que funcionam muito bem para ouvir no conforto de casa também.