Por Francisco Raul Cornejo
Segredos só podem ser bem mantidos enquanto aquilo que escondem se mantém inconspícuo, notável apenas para aqueles que sabem onde e, principalmente, o que procurar. Essa foi a dinâmica que protegeu muitos dos mais preciosos tesouros musicais de Detroit da superexposição, mas não sem que fossem onerados por aquela incômoda contrapartida que é o relativo isolamento. Não que a cidade não seja um bastião de qualidade musical que ensejou até uma certa idolatria bisonha e um tanto servil acerca dos feitos de seus nativos, mas é justamente abaixo dessa camada de veneração que são encontradas jóias raras e de brilho tão autêntico como Marcellus Pittman.
Sendo um dos membros originais de não apenas um, mas todos os conjuntos formados e mantidos pela inquieta genialidade de Theo Parrish. Figurando ao lado de outros de uma cepa de seletores detroitianos que conta Omar S, Rick Wilhite, Mike Huckaby e Rick Wade entre suas fileiras, ele se destaca pela alta consistência de absolutamente tudo em que se envolve. Isto conta colaborações com o exigente Theo, Moodymann e seus comparsas, remixes para artistas tão diversos como Nina Kraviz, Eric Duncan e Far Out Monster Disco Orchestra.
O que fica claro ao nos debruçarmos sobre suas obras é a extrema habilidade em trabalhar uma tradição que distingue e destaca essa sua turma mesmo entre seus pares e os veteranos da cidade: a construção de temas cuja simplicidade é equivalente a sua força. Ele elabora riffs e improvisa livremente sobre eles, tornando-os perfeitos para a repetição e adensamento progressivos, quase mântricos, que resultam em levadas tão hipnóticas quanto envolventes. Além disso, o refinamento com que equaliza os elementos percussivos de suas faixas para que evoquem a sonoridade “crua” de instrumentos não-eletrônicos – bem à moda de seu padrinho Parrish – acentua o arsenal rítmico de que dispõe em suas deliciosas bases.
Todos estes princípios são também mobilizados em seus sets, que são belas amostragens na forma de cativantes narrativas daquele ecletismo que sempre informou sua genialidade como produtor e orienta os ousados rumos pelos quais trafega com a Unirhythm, o escoadouro criativo que fundou para si e, previsivelmente já exibe um catálogo dos mais impecáveis, para não dizer invejáveis. Adiante de sua apresentação na próxima edição da Gop Tun, escolhemos alguns de seus melhores momentos em estúdio para que possam entende o quão especial é seu talento como músico, seja em conjunto, solo, remixando, programando ou fazendo qualquer coisa que envolva as atividades no qual sua excelência é inegável. Confira abaixo:
https://youtu.be/SGbt_m36kTo
https://www.youtube.com/watch?v=9mSF5gZ9VCE
https://www.youtube.com/watch?v=WlOjfOXkrvw
https://www.youtube.com/watch?v=JoXOSaepCMU
https://www.youtube.com/watch?v=SGbt_m36kTo