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A música conecta

Vitrola | Review: Carlos Dafé ‎– Pra Que Vou Recordar

Por Laura Marcon em Vitrola 22.05.2020

O príncipe do Soul. É assim que Carlos Dafé é carinhosamente considerado pelos grandes artistas brasileiros por seu trabalho por mais de 40 anos. Sua história na música é tão extensa e brilhante que certamente não fomos capazes de obter todas as informações necessárias para contar na íntegra sua contribuição neste cenário. Para se ter ideia, Carlos já tocou com Elza Soares, Tim Maia, Tânia Maria, fez parte do grupo Senzala, gravou no disco do gigante Arthur Verocai, entre tantos outros trunfos nos seus 73 anos de vida.

Nossa coluna vai homenagear sua maior obra-prima que surpreendentemente é seu primeiro álbum solo, Pra Que Vou Recordar. Porém, antes de partirmos para este ponto, é necessário contarmos um pedaço da história do artista, figura imprescindível para entender a música negra no brasil e momentos que foram de extrema relevância para o resultado da obra mais famosa de sua carreira. 

Dafé nasceu em 1947 e desde adolescente vinha há anos atuando como músico e ao mesmo tempo como fuzileiro da marinha, participando da sua primeira gravação de LP como integrante do Fuzi 9, disco disputadíssimo e que vale fortunas até hoje. Logo após, foi descoberto por ninguém menos que Tim Maia, com quem também dividiu os palcos e deu sua contribuição em um de seus álbuns.

Acontece que no início dos anos 70 o artista foi pego com uma quantia de maconha no seu bolso e encarcerado na Ilha das Cobras, por onde permaneceu quase um ano, entre 1971 e 1972. O período “sabático”, contudo, foi utilizado como um laboratório musical por Dafé, aproveitando para compor o que viria a ser, dois anos depois de sua liberdade, o gigantesco álbum Pra Que Vou Recordar com nove faixas de uma espécie de Samba Soul que era diferente de tudo o que estava sendo produzido na época.

Um clássico da Black Music brasileira até hoje, a obra trazia sintetizadores moog, elementos diferenciados e uma lista de participações de músicos aclamados. A faixa principal, Pra Que Vou Recordar Que Chorei, é sua música mais famosa até hoje e, naquela época, esteve à frente de trilhas sonoras de novelas e ajudou a reverberar o Soul no Brasil. Mais do que isso, ao longo dos anos já foi regravada mais de cem vezes em diversos idiomas. Destaque também para as composições de A Cruz e Da Alegria Raiou o Dia, que também são relembradas até hoje.

Os anos se passaram e, contudo, Carlos Dafé acabou perdendo sua força no cenário da música brasileira. Ele ainda lançou outros álbuns ao longo da sua carreira mas nenhum deles teve tanto impacto quanto o primeiro disco gravado, que é cobiçado até hoje por colecionadores, capazes de pagar realmente caro por um de seus exemplares mais antigos. Pra Que Vou Recordar se estabeleceu como um clássico do Soul brasileiro e que até hoje segue reverberando o estilo e inspirando muitos artistas, negros ou não, a seguirem o mesmo caminho musical.

A música conecta.

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