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A música conecta

Vitrola | De nome João Rubinato: o legado de Adoniran Barbosa

Por Laura Marcon em Vitrola 23.04.2020

Não posso ficar nem mais um minuto com você, sinto muito amor mas não pode ser, moro em Jaçanã, se eu perder esse trem, que sai agora às onze horas, só amanhã de manhã… Sou filho único, tenho minha casa pra olhar.

Se você leu o trecho acima cantando em sua mente é porque, talvez sem saber, carrega consigo parte do legado musical de Adoniran Barbosa. A música atemporal que conta a história do rapaz que precisa abandonar seu amor para cuidar de casa é conhecida por praticamente todos os brasileiros e é apenas um e o mais famoso sucesso do compositor, cantor, humorista, ator e apaixonado pela vida boêmia, que também é conhecido como o pai do samba paulista.

Mas agora você deve estar se perguntando: se é de Adoniran Barbosa de quem estamos falando, quem é João Rubinato? Na verdade, João é o nome verdadeiro dessa figura que decidiu desde muito cedo viver da arte em suas mais diversas formas e Adoniran é um dos personagens que ele criou ao longo de sua carreira. Mas, para chegar até Adoniran e seu sucesso, principalmente no meio radiofônico, o menino de Valinhos percorreu algumas cidades do estado de São Paulo e muitos empregos.

Nascido em 1910, João passou por Jundiaí, Santo André, Santos e por fim à capital São Paulo. Trabalhou como carregador de vagões, entregador de marmita, varredor, tecelão, encanador, pintor, vendedor ambulante de meias, garçom e metalúrgico, até ser contratado pela Rádio Cruzeiro do Sul, no início da década de 30, quando ele já tentava ganhar seu espaço enquanto compositor, intérprete e ator. E por que isso é relevante? Porque toda a experiência vivida fez de João um cronista musical da vida paulista através de suas composições, criando um linguajar único em suas letras.

Sua carreira enquanto radioator de comédia permitiu que ele fosse conhecido por todos os lados e neste ofício interpreta tipos como Zé Cunversa, o malandro; Jean Rubinet, o galã do cinema francês; Moisés Rabinovic, o judeu das prestações; Richard Morris, o professor de inglês; Dom Segundo Sombra, o cantor de tango-paródia; Perna Fina, o chofer italiano; e o sambista Charutinho. Adoniran Barbosa foi um desses personagens e o escolhido para viver sua trajetória musical.

Quando o assunto é composição e interpretação, foi com Barbosa que ele realmente deixou sua marca. Além do Trem das Onze – o trecho que colocamos no início desse texto – são dele clássicos musicais como Saudosa Maloca, Samba do Arnesto, As Mariposas e Tiro ao Álvaro. Esses sambas fizeram sucesso na sua voz, na dos Demônios da Garoa e na de João Gilberto, entre tantos outros intérpretes que cantaram – e ainda cantam – seu repertório, celebrado pela MPB a partir dos anos 70 em interpretações de Elis Regina, Gal Costa, Clara Nunes, Rita Lee, João Bosco, Djavan e Beth Carvalho – isso só para citar alguns.

João Adoniran Rubinato Barbosa (afinal, no fim são a mesma pessoa) faleceu em 23 de novembro de 1972 em decorrência de um enfisema pulmonar, doença que ele enfrentava desde sua adolescência. Sua contribuição para a música brasileira, contudo, segue ecoando por seus sambas de irresistível cadência. Em fevereiro de 2020 a vida de Adoniran Barbosa ganhou vida nas telas através do filme Adoniran – Meu nome é João Rubinato.

A música conecta.

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