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A música conecta

Vitrola Review | Luiz Gonzaga Jr. – Luiz Gonzaga Jr.

Por Ágatha Prado em Vitrola 19.11.2021

Luiz Gonzaga Jr., ou mais conhecido como Gonzaguinha, leva a música em seu DNA da forma mais pura e direta possível. Apesar de ser filho de ninguém menos que Luiz Gonzaga, o pai do xote e rei do Baião, sua obra possui grandes diferenças – e algumas semelhanças – com relação aos trabalhos de seu progenitor. 

Luizinho, como era chamado carinhosamente pelos familiares, teve uma infância e criação um tanto difícil e turbulenta.  Como Gonzagão possuía uma vida agitada de agenda e shows por todo Brasil, o filho cresceu sob os cuidados de um casal de amigos, Dina e Henrique,  que se encarregaram da criação do menino que passou a infância e adolescência ressentindo a ausência do pai e a morte da mãe. Assim, o artista que cresceu pelas ruas e vielas do morro de São Carlos, no Estácio, aprendeu o mundo a partir da amargura e da malandragem, o que pode ser percebido na essência lírica de sua obra. 

Dotado de uma personalidade repleta de inconformismo e rebeldia, Gonzaguinha já conseguiu imprimir em seu primeiro disco toda a revolta do período de sua juventude, onde a liberdade era ceifada pela ditadura militar e a saudade de seus pais era um sentimento latente. Seu primeiro disco de estúdio, de 1973, chamado de Luiz Gonzaga Jr. trazia uma capa preta, com uma foto do cantor que parece um porta-retrato quebrado com o vidro  rachado, reforçando a ambientação soturna de sua inspiração.

Conhecido por possuir um mau-humor característico que dava um toque especial ao seu lado artístico, esse primeiro disco de Gonzaguinha é uma ode às suas inquietações. A primeira música do álbum, Sempre Em Teu Coração, descreve  uma festa de debutante num tom meio delicado e melancólico, enquanto que Minha Amada Doidivana  – que pode ser uma paixão juvenil de Gonzaguinha ou uma metáfora em lembrança de sua mãe -, revela uma ausência que causa enorme sofrimento, segundo a interpretação. 

E através da aura agonizante em tom de revolta, as faixas Página 13, Romântico do Caribe, Sim Quero Ver, A Felicidade Bate À Sua Porta, Palavras, Moleque, Comportamento Geral e Insônia contemplam a melancolia da criatividade, com um destaque para um romantismo poético e reflexivo.

O mais curioso, é que durante o processo de produção, Gonzaguinha encaminhou cerca de 72 composições ao DOPS, das quais 54 foram censuradas. O segundo álbum de estúdio do artista, também leva o mesmo nome, porém trazendo outras dez faixas inéditas, lançadas no ano seguinte, em 1974.

Uma obra digna de contemplação, a discografia de Gonzaguinha é repleta de riquezas que permanecem imortais através das gerações da música popular brasileira.

A música conecta.

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