Ney Faustini é um dos nomes que acompanham a série Vitrola desde seus primeiros passos — ora como convidado, ora como curador — e carregam com ela um entendimento profundo sobre como a música brasileira pode atravessar tempos, formatos e pistas. Sua trajetória como DJ e produtor sempre orbitou essa relação entre afeto, pesquisa e reinvenção, algo que ganhou novos contornos em 2025 com o lançamento de seus edits em vinil 7” pelo selo Beijinho do Brasil.
Essa lente pela qual Ney lê a música se soma a uma vivência acumulada durante décadas. Desde os anos 80, ele construiu uma relação direta com as pistas, com as cidades e com a cultura clubber, mantendo uma musicalidade livre de rótulos, mas ancorada nas matrizes de Detroit, Chicago e Londres. Essa consistência o transformou em um dos nomes mais respeitados da cena paulistana — presença recorrente em cabines emblemáticas como Dekmantel São Paulo, Boiler Room, Rock in Rio e em sua longa residência no D-Edge, além de turnês pela Europa e pelos EUA. Episódios fundamentais da história das pistas brasileiras, como suas noites no Lov.E ou apresentações de Drum’n’Bass ao lado de DJ Marky, também fazem parte desse percurso.
Como produtor, Ney expandiu essa narrativa com trabalhos que reforçam sua versatilidade: o remix oficial para Corre Corre, de Rita Lee, a colaboração com Ivan Conti (Azymuth) no EP Psycho Trooper pela Troop Records e lançamentos em selos nacionais e internacionais, tanto no digital quanto no vinil.
Para o último episódio do Vitrola deste ano, ele partiu de um ponto íntimo de sua trajetória recente: o desejo de reunir alguns dos edits brasileiros que moldaram sua relação com as pistas — versões que preservam a força das gravações originais, como suas versões de Antônio Carlos & Jocafi (Pé de Bode), Tim Maia (Você e Eu, Eu e Você) e sua faixa Vivendo e Aprendendo. No processo, o set se abriu para produções de artistas mais atuais, com clima boogie e um frescor contemporâneo, assinadas por nomes como Diogo Strausz e Fabio Santanna.
O resultado sintetiza diferentes fases da sua pesquisa: clássicos revisitados, edições pessoais e faixas recentes que se conectam. Uma seleção coerente e fiel à maneira como Ney trabalha a música — entre memória, inovação e o repertório de quem viveu cada uma dessas etapas de perto.