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A música conecta

Mind The Gap se firma como uma das principais forças do Techno independente em São Paulo

Por Marllon Eduardo Gauche em Xpress 29.05.2025

No atual cenário de São Paulo, a expansão da cena Techno trouxe oportunidades e também alguns dilemas. Se, por um lado, a cidade nunca esteve tão movimentada com a grande quantidade de eventos e festivais, por outro, a cultura de pista vê-se constantemente tensionada entre o entretenimento de massa e a preservação de seus valores originais: curadoria, comunidade e expressão artística. Nesse contexto, festas como a Mind The Gap assumem um papel crucial.

O coletivo preserva uma filosofia que nunca deveria ter saído de cena: o entendimento de que a pista é um espaço de troca. Fugindo do caminho mais óbvio, a Mind escolheu construir uma trajetória onde som, espaço e pessoas coexistem em equilíbrio. E é justamente por isso que, em pouco tempo, a marca vem se tornando uma referência no circuito independente de São Paulo.

A mais recente edição, que aconteceu no último dia 10 de maio, foi um reflexo desse compromisso. Com a presença da icônica Lady Starlight, um dos nomes mais relevantes da história recente do Techno — conhecida por sua performance crua, seus live acts intransigentes e sua ligação direta com labels como Figure, Stroboscopic Artefacts, Ostgut Ton e Tresor —, a Mind reforçou seu DNA de apostar em propostas que falam diretamente ao que há de mais genuíno na cultura do Techno.

Segundo a organização, um público bastante diverso ocupou a pista da festa, unindo diferentes gerações em mais uma noite especial. Fazia quatro anos que Lady Starlight não tocava no Brasil, mas seu retorno fez jus e ela hipnotizou a pista com seu live poderoso do primeiro ao último minuto. Antes dela, o lineup de suporte também cumpriu seu papel com maestria.

Camilo Rocha abriu a noite com um warm up impecável, preparando a pista com precisão. Em seguida, Molothav entregou um set potente, elevando a energia com sua seleção musical, entregando a pista para Lost My Keys, que conduziu um live denso, explorando texturas industriais de forma envolvente. Lady performou depois, abrindo espaço para Vallas Martins, que manteve o clima enérgico até o encerramento de Garib, que sustentou cada corpo presente na pista com muito hardgroove.

A ambientação também é um dos diferenciais nas festas da Mind The Gap. Na edição recente, a equipe trouxe novas instalações interativas, convidou artistas visuais como Itaoã, M6IW e Ushli, e pensou numa curadoria visual que evitava o excesso digital para priorizar a conexão sensorial. Tudo foi pensado para reforçar que a experiência de uma noite vai além do som. 

No meio de uma São Paulo que cada vez mais exporta sua cultura clubber para o mundo, mas também enfrenta o desafio de preservar sua autenticidade, a Mind The Gap cumpre a função vital de manter vivas suas raízes sem perder de vista o futuro. E talvez a principal medida da sua relevância esteja em reafirmar que o Techno de verdade não se sustenta apenas pelo ritmo, mas pela criação de identidade, pela provocação de novas ideias e pelo fortalecimento do sentimento de pertencimento na pista.

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