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Papo de Estúdio | 10 dicas para você melhorar sua performance no Ableton Live

Por Alan Medeiros em Papo de Estúdio 06.11.2017

Papo de Estúdio é a coluna do Alataj focada em produção musical. Leia todas aqui! 

Dominar por completo uma técnica é uma tarefa difícil, independente do que você esteja se propondo a fazer – no caso da produção musical não é diferente. Estudar é indispensável, assim como encarar com seriedade e dedicação todo processo que envolve o desenvolvimento pessoal de uma atividade complexa como essa. Entretanto, começar é o primeiro e indispensável passo para chegar ao sucesso e algumas dicas podem ajudar você a se desenvolver em uma das principais ferramentas do mundo. A nosso convite, VAntônio compartilha abaixo 10 dicas para você melhorar sua performance no Ableton Live. Confira

01 – O Ableton Live é diferente e inovador. Aprenda a utilizar isto ao seu favor:

Diferente das outras DAWs (Digital Audio Workstation), o Ableton inova por trazer uma interface única que está inclusive “impressa” no seu logo onde 4 linhas verticais + 4 horizontais guardam a filosofia e inovação da ferramenta. As 4 linhas verticais (session view) é onde você pode produz sua “matéria prima” com loops de áudio, midi ou até mesmo uma música completa. Muitos produtores mais antigos, produzem direto no arrangement view. Isto não está errado, porém consideraria uma subutilização da ferramenta. O fato de poder criar clips antes de arranjar te dá duas principais possibilidades:

A primeira e mais óbvia: Possuir materiais que em uma próxima etapa do fluxo serão arranjados (no arrangement view) de forma mais flexível e criativa.

A segunda, menos óbvia e mais focada em live act: Muitos produtores, como eu, não criam arranjo desta matéria prima, pois o todo o material criado no session view é importado para o setup de live e o arranjo é sempre improvisado no momento da apresentação. Isto garante originalidade e sua música nunca será a mesma. Cada apresentação terá um arranjo e uma história única.

Obs.: Após o lançamento do Ableton Live, uma nova ferramenta surgiu no mercado: Bitwig em 2014 – esta é a única DAW que trabalha de maneira parecida (ou quase igual) ao Ableton Live.

02 – Conheça o potencial e os componentes da sua ferramenta, antes de ir “além” dela.

Antes de sair baixando ou até mesmo comprando VSTs (de efeitos ou instrumentos virtuais), conheça o que o Ableton Live oferece nativamente. É impressionante o número de adeptos que não conhecem a própria ferramenta que trabalham. Alguns instrumentos nativos, citando por exemplo o sintetizador Operator tem um potencial enorme e “apenas” com ele é possível criar muito. O visual minimalista dos instrumentos do Ableton Live podem a priori parecer que se tratam de ferramentas simplistas, mas isto não é verdade: são ferramentas poderosas e até mesmo complexas. Experimente criar uma agenda de aprendizado para cada categoria. Deixo abaixo alguns como conselho, mas não se limitem a eles:

  • Drums: Toda a linha TR: 606, 707, 808, 909
  • Instruments – Analog e Operator
  • Audio Effects – Glue Compressor, Reverb, EQ8, Ping Pong Delay, Utility
  • MIDI Effect – Arpeggiator

Você não precisa dominar todas, mas escolha algumas e busque estudá-las. Certamente irá se surpreender. Citando mais exemplos, o efeito Glue Compressor, que está disponível na versão Suite é um poderoso compressor produzido pela empresa Cytomic e para ser adquirido individualmente custa US$ 99 (The Glue). Outro exemplo é o efeito Amp produzido pela Softube. Um outro benefício importante em utilizar ferramentas nativas é o consumo de CPU (processamento do seu computador) que é otimizado e fica muito abaixo do que com a utilização VSTs externos.

Um exemplo é o produtor Recondite que produz quase que 100% no Operator.

03 – Aprenda o básico (no mínimo) sobre síntese sonora e vá além dos presets.

Não há problema algum em utilizar presets (configuração prontas de sintetizadores ou efeitos), porém aprenda síntese sonora para a partir deles, começar a “imprimir” sua “própria cor”, seus próprios timbres. Além da liberdade, este conhecimento lhe dará originalidade e trará eficiência ao seu fluxo de trabalho. Já pensou “pensar um som” e conseguir materializar isso? Pois bem, isso é possível através do estudo da síntese sonora. Comece pela síntese sonora subtrativa (mais simples e mais utilizada).

Ref.:

04 – Tenha disciplina e humildade no seu processo de produção e pare de procrastinar:

Uma vez escutei uma frase do meu amigo Marcelo Oriano: “O maior inimigo no processo de produção é o nosso bom gosto.”. Isto fala muito do que ocorre (ou não ocorre) quando iniciamos a produção de uma música. Tenha a humildade de “aceitar” que suas músicas (principalmente as primeiras) estarão longe do que você considera bom e gosta de ouvir, mas ao mesmo tempo tenha a consciência que você está iniciando e que cada trabalho finalizado é uma passo para frente enquanto que cada trabalho inacabado é meio passo ou talvez nenhum. Tenha a disciplina de ter uma agenda (caso queira ser tornar profissional) e “bata ponto” neste dia e hora que definiu para produzir. Não espere inspiração –  dedicação é fundamental e é onde está a maior dificuldade e raridade nos produtores iniciantes. Desculpa com equipamentos (computadores, placas, fones, sintetizadores e etc.) a maioria das vezes são “mentiras” (ao menos que esteja com um equipamento muito antigo). Você ficaria admirado como várias das músicas que te inspiram foram feitas com muito menos recursos e muitas vezes com um fone de ouvido em lugares inusitados. Menos desculpa e mais dedicação é a “peça chave” para se tornar um grande produtor. Além disso considere que cada equipamento ou software é uma variável que você precisa dominar e ao invés de ajudar, pode atrapalhar seu fluxo. Citando um exemplo recente, vejam neste link como foi produzido o último (e ótimo) álbum do Four Tet:

05 – Tenha em mente e conheça as 3 fases essenciais na produção de uma música e tente não misturá-las: Criação, Mixagem e Masterização.

  • Criação: Aqui é onde você utilizando sua técnica, criatividade, inspiração (opcional), criatividade  e principalmente “suor” dará vida ao seu trabalho. Neste momento, você terá instrumentos em MIDI, samples em áudio, efeitos e provavelmente um uso maior de CPU. Mix (ou mixagem) é o processo de organizar estes elementos de modo que estejam balanceados e não se misturem. Aqui geralmente chamamos de pré-mix o processo de realizar alguns ajustes de forma mais superficial como: kick e baixo em mono, realizar alguns cortes de frequência (high pass, low pass). Mas não um processo completo de mix, que vai muito além disso. Aprenda a separar as etapas. Neste processo a arte “fala” mais alto.
  • Mixagem: Aqui a técnica é fundamental. Muitos artistas inclusive terceirizam este processo, por envolver uso de efeitos de processamentos: físicos (hardwares) ou softwares (VSTs) e muita técnica. É um processo que necessita de um ambiente controlado com boa acústica e softwares ou equipamentos adequados. Tome muito cuidado para não interromper seu fluxo (flow) de criação trazendo atividades complexas que só seriam executadas nesta etapa. Importante deixar espaço (headroom) para a masterização. Por padrão de mercado, -6dB é o mínimo solicitado para a próxima etapa
  • Masterização: Uma boa masterização é fruto principal de um bom processo de mixagem. Existem diversas alternativas com ótimo custo benefício no mercado: digital ou analógica. Nesta etapa sua música “esquenta”, ganha volume adequado e é finalizada. É um processo mais simples que a mixagem, porém fundamental. Apenas aqui sua música chegará em 0db (ou próximo a isso).

06 – Acompanhe a evolução da sua ferramenta de trabalho.

Sua DAW é sua ferramenta principal de trabalho. Assim como todo software, ele passa por evoluções constantes, seja para correção de bugs (erros) ou melhoria e inclusão  de novas ferramentas e características (features). Crie sua conta no site da Ableton, acompanhe pelo menos mensalmente como a ferramenta tem evoluído. Constantemente são oferecidos packs (inclusive gratuitos) e neste processo você irá se aprofundar mais com sua ferramenta de trabalho. Muitas vezes um problema ou um trabalho  contínuo já está resolvido de alguma forma, mas você desconhece. Aqui nosso foco é o Ableton Live, mas considere isto para qualquer que seja sua ferramenta de trabalho (DAW) escolhida.

07 – Entenda o roteamento e I/O (Input e Output / Entrada/Saída):

O funcionamento do Ableton Live, assim como de outras DAWs é análogo a um estúdio físico. Isto significa que os componentes se interligam, principalmente através do protocolo MIDI. Tenha claro os conceitos de track (pista), clip, scene, midi, audio, samples, racks (de instrumentos e efeitos) e como tudo dentro do software se interliga. Ter esta visão holística da ferramenta irá expandir seu potencial criativo.

Referência.

08 – Teoria musical é essencial (mesmo que um pouco):

Pode parecer paradoxal, mas iniciar na produção de música eletrônica não tem como pré-requisito ser músico. Isto, porém, não significa que você não precisará, principalmente durante o seu processo de evolução,  entender o básico sobre teoria musical. O Ableton Live (assim como outras DAWs) trazem algumas ferramentas para ajudar “não músicos”, como os Midi Effects Scale e Chords. Para quem está iniciando, são muito os tópicos, técnicas e assuntos para aprender. Talvez (você terá que “pesar” isso), misturar o aprendizado de teoria musical possa atrapalhar ao invés de ajudar. Mas tenha em mente que para se tornar um grande produtor, mais cedo ou mais tarde você terá que entender sim de música (como teoria): saber o que o que são notas, escalas e acordes no mínimo. Um entendimento não decorado (não há problema em consultar tabelas), mas um uma compreensão lógica do assunto. Como conselho, desde os primeiros passos, procure se envolver, mesmo que de forma leve com conceitos de teoria musical. Como primeiro passo, acostume com a notação de notas e oitavas do piano roll: C = Dó, D = Ré, E = Mi e etc. Em um segundo momento, procure entender o conceito de escalas e acordes. Não são conceitos complicados e já fazem uma grande diferença. Mais para frente, quando tiver um conhecimento mais estruturado, se aprofundar mais ainda em teoria musical pode fazer uma diferença ainda maior.

09 – GAS (Gear Acquisition Syndrome ou Síndrome de Aquisição de Equipamento):

Existe hoje um hype muito grande com instrumentos analógicos e constantemente as empresas tem lançado produtos interessantes (e caros). Foi criada inclusive uma síndrome para as pessoas que não conseguem parar de comprar equipamentos GAS (Gear Acquisition Syndrome ou Síndrome de Aquisição de Equipamento). Aqui cabem dois pontos:

1 – Este é o mais importante e inclusive já mencionado, não importa se você é bilionário e pode comprar tudo, que possa pontualmente comprar um equipamento no cartão em algumas vezes ou que não possa realmente comprar. Com a tecnologia que o Ableton Live (e outras DAWs) oferecem as possibilidades são infinitas. Dedique seu tempo ao estudo, seguindo os conselhos acima. Nenhum equipamento fará de você um grande produtor. Já dedicação sim.

2 – Caso decida e possa comprar, tenha consciência do objetivo e o que busca com o equipamento (ao menos que seja um colecionador). Busque reviews ( análises e resenhas na Internet) e veja se realmente o equipamento irá agregar ao seu fluxo criativo.

Como referência, vou deixar uma palestra do Robert Henke (Monolake e um dos “cabeças” da Ableton) chamado Give me limits!:

Sobre GAS

10 – Feedbacks:

Sim: você vai ouvir muito mais “NÃOs” do que “SIMs” ou simplesmente não vai ouvir respostas. É natural compartilharmos com amigos ou com produtores que admiramos nossos trabalhos. Muitas vezes ficamos frustrados por não ter respostas ou também por negativas. Quem já teve oportunidade de ter contato com algum produtor ou label do mercado verá que é impossível responder a todas as solicitações que recebem de feedback. Foque no seu trabalho, divulgue de forma natural (menos insistência, marcações e etc.). Tenha também humildade: Um “like” de um amigo em um set ou música (postado há 5 minutos) vale muito menos que um feedback real apontando falhas (oportunidades de melhoria) no seu trabalho. Sugestão: Confie no seu trabalho e deixe os feedbacks ocorrerem de forma natural.

Até a próxima! 

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