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A música conecta

UNDERGROUND vs. COMERCIAL

Por Alan Medeiros em Notícias 10.10.2013

Há alguns meses atrás a Mixmag publicou um artigo sobre um grande abismo que divide a comunidade clubber: underground contra o comercial.

Quem vem acompanhando a cena eletrônica, provavelmente percebeu esse abismo ficando cada vez mais fundo de uns dois anos pra cá. De modo geral, isso acontece por dois motivos:

O público ficou mais exigente. O que é muito bom, pois com a quantidade exagerada de informações e novidades musicais que chegam até nós o tempo todo, é importante que as pessoas saibam diferenciar o artístico do enlatado, separando o som feito para as massas do som feito realmente para ser sentido. O acesso à tecnologia e a rapidez na propagação dos trabalhos dos produtores rendem uma enxurrada de tracks e EP’s em curtos períodos de tempo.

Festivais viraram “salada”. Grandes festivais brasileiros vem acontecendo com cada vez mais frequência e, se antigamente tinham como desafio conquistar um público específico e fiel, o desafio hoje é outro: trazer nomes em evidência na mídia para agradar o maior número de pessoas possível. Sejam festivais novos como o Dream Valley ou já consagrados como a Xxxperience, que inclusive mudou seu formato nas últimas edições, todos eles procuram trazer DJs de variadas vertentes e que atendam à todos os estilos. Sendo assim, é natural que haja discordância entre os públicos, afinal estes festivais tem line ups muito diversificadas, inevitavelmente agradando uma metade e desapontando a outra.

Mas então, se há espaço para o mainstream e para o underground, qual o grande problema?

Uma das questões está no reconhecimento do DJ como “artista de verdade”. DJs como o Art Department ou Seth Troxler, que compõem um mix ao vivo nas suas apresentações, colocando na hora o seu feeling e técnica na composição da mixagem e na setlist, trazem uma performance única que vai além da “música para dançar”. Ela mexe com a emoção e sentido do público.

Enquanto isso, DJs como David Guetta, digam o que quiserem, mas estes produzem apenas músicas para a rádio e mídia em massa. E na noite, meramente ‘sincronizam batidas’ nas suas performances. Claro que exige certa técnica para se montar uma setlist e reconhecer o momento certo de tocar cada faixa, mas isso não passa de um princípio básico que qualquer DJ iniciante deva saber. E, por ironia, um DJ de rádio também.

Pra que a gente receba mais produções boas e de qualidade, tem que haver esse senso crítico e não aceitar qualquer coisa. Porém, o que deveria ser apenas uma questão de gosto e opinião, virou motivo de guerra. De um lado, os seguidores dos monstruosos main stages chamam os outros de “fritos”; do outro lado, os apreciadores da cena underground dizem que a grande massa foi para a “baladinha pop”.

Por mais que ambos os lados tenham seu grau de verdade, deve-se reconhecer que artistas dance de grandes gravadoras são um meio de abrir portas para os novatos, tanto artistas iniciantes quanto fãs que acabaram de começar a ouvir música eletrônica. Você não pode esperar que um cara que ouviu pop a vida inteira vai partir diretamente para um sub gênero mega obscuro ou conceitual de e-music, ou curtir um label como a M-nus por exemplo. Pode até acontecer, mas as chances são mínimas. Tem que ser um processo gradual e natural, que faça o gosto do cara.

Não podemos esquecer que muitos artistas aclamados, como Dubfire por exemplo, já tiveram sua “dose” de pop. Quando estava sob o nome de Deep Dish ao lado de Sharam, remixou faixas para vários artistas da massa, como Madonna, Dido, N’Sync e Justin Timberlake. Inclusive ainda “The World is Mine” do próprio David Guetta em 2005.

solomun_mixmag

Outro ponto a ser ressaltado é a “migração” de artistas underground para omainstream. Como exatamente isso acontece é um mistério, mas acontece. Temos que lembrar que produtores como Art DepartmentSolomun, Seth Troxler e Jamie Jones estão constantemente presentes em grandes festivais ao redor do planeta. Agora outra artista underground, Magda, que desenvolveu seu trabalho ao lado de tipos como Richie Hawtin, também está sempre pelo Brasil – inclusive tocou no Dream Valley. Muitos fãs ficam decepcionados e chamam estes DJs de vendidos, dizendo que seu trabalho piorou. Um caso foi Solomun ter aparecido na capa da própria Mixmag como “o homem do ano” – alguns não gostaram nada disso.

Outra coisa interessante aconteceu no ano passado, quando a track“Benediction” do Hot Natured (projeto de Jamie Jones com Lee Foss) atingiu o #31 no Top 40 da rádio britânica BBC 1. O Jamie Jones fez uma brincadeira no Facebook afirmando que isso era o pontapé inicial para uma parceria com o cantor Akon. Claro que a informação era falsa, mas muitos fãs levaram a sério e ficaram revoltadíssimos, dizendo que nunca mais ouviriam seu trabalho e chamando os caras de vendidos.

Isso só prova a mentalidade do ‘underground’ em relação aos seus artistas: eles são bons até o momento em que o mundo fique sabendo da sua existência, independente do que ele apresente depois. Será que é certo esse pensamento extremista? Vale a pena ficar em pé de guerra por causa disso? Fica aí algo pra se pensar.Resumindo, a receita é: 1) Fulano é fã da Banda X, que só o círculo de amigos dele ouve 2) Banda X chega nas paradas de algum ranking e todo mundo a conhece. 3) Fulano agora odeia a Banda X.

Via We Like it Loud

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