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A música conecta

Alataj entrevista Emanuel Satie

Por Alan Medeiros em Entrevistas 15.10.2018

DJ, produtor e dono de um live impactante. Emanuel Satie é um dos nomes mais interessantes da atual safra de produtores do tech house e tem confirmado tal posto com releases representativos em selos como Saved Records, Knee Deep in Sound e DFTD. Conhecido por um estilo de som inteligente, Satie se tornou um artista elogiado até mesmo por aqueles que não são tão adeptos ao tech house. Entenda as razões:

Oriundo de Frankfurt e atualmente baseado em Berlim, ES pode ser considerado um nome novo na cena. Suas primeiras aparições em alto nível aconteceram em 2015, com faixas lançadas em selos como Get Physical e Gruuv. As coisas realmente esquentaram em 2016, quando Emanuel Satie emplacou uma sequência absolutamente consistente de lançamentos e remixou o lendário projeto Late Nite Tuff Guy. Nesse mesmo ano Satie conquistou seu primeiro top 1 no Beatport e por lá se manteve durante algumas semanas.

Os remixes, por sinal, são um fatores decisivos em sua carreira. A lista de artistas que já receberam releituras desse prolífico produtor alemão conta com nomes como DJ Sneak, Riva Star, Noir e Who Made Who. Com uma lista tão expressiva de trabalhos realizados, Satie chamou a atenção de Pete Tong, que se tornou um dos principais apoiadores de sua música. Paralelamente a isso ele conquistou destaques em mídias importantes como Resident Advisor e Mixmag, cravando seu nome na lista de artistas a se observar permanentemente. Nesse bate-papo exclusivo, Emanuel Satie comenta pontos importantes de sua carreira:

Alataj: Olá, Emanuel! Tudo bem? Ao longo dos últimos anos você conquistou excelentes lançamentos por labels como AVOTRE, Get Physical e DFTD. Quão importante ter um relacionamento próximo com essas marcas foi para o seu desenvolvimento?

Estou ótimo, obrigado. O verão na Europa acabou, ansioso para voltar ao estúdio novamente. Acho que é muito importante ter um relacionamento próximo com os selos que você trabalha. Sejam os que você mencionou ou ultimamente alguns outros como Rebirth, Saved, Moon Harbor e agora temos alguns projetos planejados com a Crosstown Rebels. Acredito que seja importante fazer as coisas juntos frequentemente para criar uma espécie de dinâmica e também para construir a confiança que permite que você faça projetos fora do padrão. Quando você lança apenas uma vez e pula para o próximo selo, isso não é possível.

Live act e DJ set exigem uma preparação artística completamente diferente. Como você tem equilibrado isso no seu cotidiano?

Eu adoro fazer Live sets, isso me ajudou muito como produtor, mas eu parei há muitos anos, pois eu quis focar mais no meu DJing. Live acts são divertidos, mas eu adoro a espontaneidade do DJing e o processo de descobrir a música de outras pessoas, criando todos os tipos de energia e também tocando sets mais longos. Eu ainda amo tocar músicas minhas, mas não apenas elas.

Alguns de seus trabalhos mais notórios foram desenvolvidos na posição de remixer. Qual é o sentimento em poder trabalhar na releitura de uma obra de outro artista?

Gosto de descobrir como uma faixa pode ser melhorada ou levada para uma direção diferente. No momento, só aceito remixes quando é uma faixa muito especial, com uma ideia forte, onde tenho imediatamente uma visão do que fazer com ela. Um remix ou é necessário melhorar a original ou levá-la para um território diferente. Já disse não para remixes de faixas incríveis, só porque senti que a original já estava perfeita.

Tech house é um gênero responsável por romper barreiras e fronteiras frente a uma nova geração de clubbers. Como você avalia o futuro do gênero no segmento underground?

Essa é uma afirmação interessante e totalmente verdadeira. Acho que há um novo som de tech house que está perto da EDM em sua estrutura e agora está trazendo muitas pessoas que estiveram na EDM a um passo mais perto da cena underground. Particularmente, não sou fã, mas acho que é ótimo que nossa música esteja atraindo muita atenção no momento – essa atenção vai se tornando mais underground ao longo do tempo conforme o público amadurece. Estou dando um passo atrás no momento e tentando encontrar um som que seja mais atemporal.

Como um DJ conhecido internacionalmente, certamente você precisa encarar uma agenda de compromissos longe de sua casa. Como você busca manter a saúde mental e física enquanto fica fora de sua cidade?

Bom, na teoria é realmente o básico. Tenha uma boa vida em casa com amigos verdadeiros e relacionamentos significativos, coma razoavelmente bem, não faça muita festa, pratique esportes e nunca esqueça porque você faz música em primeiro lugar. Colocar isso em prática pode ser mais complicado, já que ser um DJ em turnê significa estar em um ambiente que nem sempre ajuda nesses aspectos. Esse é o desafio que todos nós temos que enfrentar e eu gosto que os DJs estão conversando mais sobre isso uns com os outros, só assim nós poderemos aprender como lidar com certos problemas.

A cena brasileira tem crescido bastante nos últimos anos e cada vez mais o público está disposto a conhecer artistas de qualidade. O que você conhece a respeito do Brasil? Há algum DJ ou produtor brasileiro que você tem acompanhado?

Tenho muitos amigos no Brasil e passei bastante tempo em Curitiba e Santa Maria, por exemplo. Eu amo a cultura, comida e a mentalidade brasileira, também há muitos clubes que são muito respeitados na Europa e que eu adoraria tocar como Warung, Beehive, D-Edge etc. Gosto muito de artistas como Anna, Gui Boratto, Wehba, Renato Ratier, Renato Cohen e também meus amigos Albuquerque e a gang Radiola, Joyce Muniz, DJ Glen, Mezomo e muitos outros.

Seu novo release pela Crosstown Rebels trata-se de um EP muito especial, não é mesmo? O que você pode nos contar a respeito do processo criativo desse lançamento?

Eu diria que é o meu EP mais especial até agora. Fui à Etiópia para gravar músicos tradicionais para esse projeto, o que já foi uma experiência incrível, e o grande desafio foi então traduzir o material original para house music. Me reuni com os meus amigos Ninetoes e Mowgan para trabalhar nas faixas e fazer um verdadeiro projeto colaborativo a partir disso. O projeto me forçou a deixar minha zona de conforto musicalmente e acho que o resultado não é o que você esperaria de um disco de Emanuel Satie, mas isso me deixa ainda mais orgulhoso e animado. Estou muito feliz que Damian Lazarus tenha aceitado para a Crosstown Rebels, sinto que ele entende o projeto e é musicalmente o lugar perfeito para esse EP.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Boa pergunta. Música para mim, como para todos, é uma maneira de expressar e conectar-se a todos os tipos de emoções, alegria, felicidade, tristeza e assim por diante. Quando acordo de manhã e coloco um ótimo álbum ou mix, não tem como não ficar de bom humor. Por outro lado, como a música é minha profissão, é uma forma para eu crescer constantemente como pessoa e artista. Para fazer música melhor e tocar mais pessoas, você tem que crescer como pessoa e artista e entender a si mesmo e ao mundo. É por isso que nunca canso de fazer o que faço. Há sempre um novo desafio, sempre algo novo para aprender.

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