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A música conecta

Alataj entrevista Larissa Correia [Liminal]

Por Alan Medeiros em Entrevistas 25.09.2018

O mercado de bookings no Brasil historicamente possui uma realidade delimitada as fronteiras do nosso país e pouco conectada com o restante da América do Sul. São poucos os casos de agências ou profissionais que conseguiram realizar turnês consistentes integrando datas no Brasil e em países vizinhos. Entretanto, essa história começa a mudar com a Liminal, agência brasileira com atuação em toda América Latina que está trabalhando de forma exclusiva com um casting poderoso de artistas.

Larissa Correia, uma das líderes da marca, deve ser considerada uma figura chave nesse processo. Com mais de uma década de atuação no mercado nacional e ótima presença e credibilidade no cenário internacional, ela ajudou a Liminal a conquistar a confiança de um time de artistas que certamente figura entre os mais exigentes da indústria. Atualmente, a agência é composta por 26 artistas que concederam a empreitada brasileira atuação exclusiva em todo cenário sul-americano. Isso significa que não há uma agência mãe na Europa gerenciando de forma oficial essas agendas: Larissa e seu time estão no mesmo patamar de outras representações internacionais que esses artistas possuem, fato raro no mercado continental que estamos inseridos.

Alguns dos destaques da agência incluem os brasileiros Davis, Vermelho e Zopelar e os gringos Ellen Allien, DVS1, Etapp Kyle, Ben Klock, FJAAK, Modeslektor, Recondite, Slam, Tijana T e Rodhad. O objetivo da Liminal é realizar um número de shows por ano que ultrapasse a barreira dos 3 dígitos em países como Brasil, Argentina e Colômbia – mercado este que também representa um ponto importante na trajetória da marca. Ainda há possibilidade de outros anúncios ao decorrer dos próximos dias, mas em antecipação a isso, nós batemos um papo especial com Larissa Correia. Confira abaixo:

Alataj: Olá, Larissa! Tudo bem? É um prazer falar com você. A Liminal está passando por um momento especial, com uma série de turnês importantes e artistas de renome sendo anunciados com exclusividade na América do Sul. Profissionalmente, o que representa pra você trabalhar ao lado de nomes como Ben Klock, Ellen Allien, Modeselektor, Len Faki e Dixon?

O crescimento do roster carrega muitos aprendizados e desafios. A nossa atuação também expandiu para toda a América Latina o que cria então, uma nova dinâmica de trabalho. Profissionalmente é muito gratificante poder trabalhar com estes e todos os artistas que temos hoje na agência.

Sabemos que o caminho até alcançar este nível de trabalho não é exatamente simples. Quais foram os principais aprendizados que você e seu time adquiriram nesse percurso?

A Liminal é uma agência brasileira, cujo mercado era dependente de sub-agências norte americanas (quando não das sub-agências daqui que lidavam com as sub-agencias dos EUA, ou seja dois intermediários até chegar na agência mãe). Desconstruir isso foi minha meta: streamlining o processo de contratação em nossa periferia. De forma prática, o artista não precisa perder três vezes o booking fee, e o contratante paga menos no final. Com certeza o maior aprendizado foi não ter desistido do projeto da agência, apesar de todas as dificuldades. Acreditei em um modelo de trabalho e conduta e me ative a ele.

Além de seu trabalho como booker e manager, há também o lado curadora – ODD por 2 anos e nas duas edições do DGTL em São Paulo. Quais são os principais cuidados que essa função exige? Quão difícil é equilibrar o lado artístico e comercial?

Bom, não se faz um festival para 15 mil pessoas sem pensar no lado comercial. Vender ingressos é sempre necessário, mas num evento dessa magnitude isto se torna vital. Mesmo assim, existem artistas que conciliam uma popularidade ampla e uma musicalidade mais nichada. Algo que funciona bem dentro do contexto desse tipo de evento e ajuda a criar um ambiente democrático. Acredito que o maior cuidado é não projetar as próprias preferências e buscar uma neutralidade, procurar entender o que o mercado quer e jamais subestimá-lo. A ODD foi um projeto diferente. Quando entrei já existia uma narrativa e uma demanda por um caminho artístico bem definido dentro do universo deles, com o qual me identificava. Ali, a confiança do público era preexistente, o que era oferecido era a experiência.

Após mais de uma década inserida no mercado, você certamente possui uma visão privilegiada da cena enquanto business. Na sua opinião, quais foram as principais transformações do mercado nesse período? Trabalhar com dance music no Brasil está mais difícil ou fácil?

Está mais fácil, melhor e mais profissional. De quinze anos pra cá a tecnologia, internet e o acesso à informação chegou com o pé na porta, criando possibilidades e descentralizando alguns monopólios. E, no interior deste processo, o que ocorreu nos últimos anos com o surgimento dos coletivos e eventos independentes ao redor do país foi providencial. É nossa expressão mais recente do novo e da mudança. Infelizmente ainda esbarramos no aspecto econômico (câmbio nas alturas, excesso de impostos e uma legislação dura), que opera como um desacelerador estrutural inescapável.

Seu trabalho junto ao D-EDGE representa uma parte importante de sua carreira, certo? O que você tirou de melhor de uma experiência como essa?

Sem dúvidas, o D-EDGE foi minha primeira experiência como agência, onde aprendi os rudimentos e decidi seguir este caminho – tive o privilégio de trabalhar com pessoas incríveis. Vale sempre lembrar que é o clube mais importante do país e, por isso mesmo, tem uma relevância pessoal para mim, assim como teve uma profissional.

Sabemos que você já trabalhou com algumas mulheres reconhecidas no cenário por suas lutas pela igualdade entre gêneros. Na sua visão, o que falta para as mulheres ocuparem o mesmo espaço em relação aos homens no mercado? Qual conselho você daria para as jovens profissionais que  estão começando suas carreiras agora?

De um modo geral em todos os âmbitos sócio-econômicos: carecemos de reconhecimento e abertura. Faltam políticas públicas para aumentar a participação feminina no mercado de trabalho (como licença maternidade remunerada), proibição das políticas discriminatórias nas contratações e na determinação de salários, além de várias outras iniciativas que poderia citar aqui. Obviamente, no mercado específico em que estamos inseridos, esse fenômeno não é diferente. O conselho que posso dar é: enfrente e denuncie o machismo, apoie e respeite outras mulheres.

Novamente sobre a Liminal. Quais são os principais projetos que a agência está trabalhando em 2018? É possível dizer que seu trabalho visa uma maior integração entre as diferentes cenas da América do Sul?

Essencialmente estamos trabalhando com cerca de 38 turnês até o fim do ano. Integrar as diferentes cenas da América Latina é nossa meta: produzir as condições e criar oportunidades, reduzindo as distâncias continentais, fortalecendo os coletivos, clubes, festivais e criando conexões entre nossos artistas e o público.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Música é minha paixão e meu business, o melhor de dois mundos.

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