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A música conecta

Alataj entrevista Nina Kraviz

Por Alan Medeiros em Entrevistas 09.02.2017

Nina Kraviz é um daqueles nomes que ocupam o seleto hall de formadores de opinião em uma época onde todos possuem voz ativa em meio a tantas redes sociais. A russa é conhecida por suas habilidades como produtora, dona de selo e DJ. Foi discotecando pelo mundo que ela conquistou tamanho prestígio e reputação, principalmente por quase sempre preferir adotar uma linha “a frente de seu tempo” e capaz de gerar debate.

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Artista de personalidade forte, Nina é do tipo de mulher que não se deixou abalar por um mercado predominantemente masculino. Mais do que isso, teve força e talento de sobra para brigar de igual para igual com os medalhões das cenas techno e house nos line ups dos maiores festivais e clubs do globo. No Brasil, fez fama após apresentações memoráveis em clubs como Warung, D-EDGE e Terraza, conquistando uma base de fãs respeitável. No mês de Janeiro ela esteve em terras tupiniquins novamente e assinou uma tour que passou por Vibe, Warung, 5uinto, Dekmantel São Paulo e outras festas memoráveis.

Durante a tour, conseguimos um espaço na concorrida agenda de Nina para uma entrevista exclusiva. Confira abaixo o resultado desse bate-papo:

1 – Olá, Nina! É um prazer imenso falar com você. Bom, você deve imaginar que o Brasil ama sua música. Mas nós queremos saber de você… quais são suas impressões sobre o público brasileiro? O que você viveu de melhor durante suas passagens por aqui?

Obrigada! Igualmente 🙂

Minha viagem tem sido ótima até agora. Depois do Warung, eu tive alguns dias para explorar um pouco da beira-mar em Florianópolis e descobri uma bela natureza pura. Eu sei que os brasileiros adoram minhas músicas, mas também gostaria de apresenta-los ao meu lado DJ, onde a música tem menos estrutura musical e é mais sobre uma atmosfera. É muito abstrato e requer total confiança.

2 – Sabemos da sua relação especial com o Propaganda Club de Moscow. De que forma o club e staff contribuíram para o seu amadurecimento como DJ? Compartilhe conosco alguma situação inusitada ou inspiradora que você já vivenciou por lá.

Tive minhas noites de sexta por dois anos em meados dos 00’s. Foi uma ótima experiência dos dois lados, como booker (eu também contratava artistas) e como DJ. Durante aquele tempo, eu estava apenas começando a entender como tudo funcionava: o espaço, soundsystem, o público, e onde estava o momento em que a magia começava, se começava mesmo. Foi um bom lugar para aprender mais sobre conexão com as pessoas da pista e fazê-las voltarem muitas vezes.

Eu era muito nerd em todas as coisas. Quando fui trabalhar no Propaganda Club eu não gostava do soundsystem, então convenci o dono a mudar completamente, ele seguiu meu conselho e comprou um soundsystem poderoso. Fiquei tão orgulhosa quanto se fosse meu. Foi ótimo estar no topo das coisas e ter a reputação de um dos melhores soundsystems da cidade, onde tudo funcionava e o disco soava incrível. Tudo parecia sob controle, minha festa estava crescendo em seu status noite após noite, até que um dia Mike Huckaby foi tocar com uma bolsa cheia de discos e cada um deles estava pulando. Nós trocamos a agulha, depois trocamos um braço, um prato inteiro, nada. Mike não sabia como continuar. Foi um desastre total e embaraçoso para mim. Continuou assim por uns 40min, que foram sentidos como uma longa tortura. Quando chegou o momento de desistir completamente, eu não tinha mais nada a fazer além de aceitar a situação e continuar a noite. De repente tudo começou a funcionar milagrosamente, um disco perfeitamente encaixado no outro e a festa foi resgatada. Naquele dia eu aprendi, provavelmente, uma das lições mais importantes para um DJ: nada pode estar sob seu total controle, e quando algo dá errado, não importa o quão bem você pensou que estava preparado, ou coisas que não correspondem suas expectativas, a única coisa que você pode fazer sobre isso é domar seu ego, aceitando a situação e calmamente tentar fazer o seu melhor. É difícil desenvolver essa habilidade, mas é possível!

3 – Você nasceu em uma região conhecida mundialmente pelo inverno rigoroso mas sua identidade enquanto artista é bastante “quente”, assim como seus lançamentos e sua postura no palco. Como você desenvolveu esse seu lado?

Russos são pessoas com um temperamento muito quente, eu diria. Muito diretos! Especialmente da minha região, Sibéria. Eu brinco às vezes, nós somos muito diretos e tiramos conclusões precipitadas porque num clima frio como o nosso, você não tem muito tempo para ouvir longas explicações.

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4 – O que levou você a fundar o seu selo? Quais são as novidades previstas para a трип em 2017?

Foi o momento certo no meu desenvolvimento como artista. Eu tinha desenvolvido uma certa visão sobre a música e tinha formado o meu próprio som que eu não via ao meu redor. Então pensei que eu precisava ir em frente e construir uma label em torno disso, descobrir novos artistas e também misturá-los com alguns veteranos. Eu queria combinar o passado e o futuro para arquivar a sensação do “agora”. Liguei o lado visual: os desenhos idiossincráticos do jovem artista português, Tombo, com o lado do áudio: música de diferentes artistas em um disco para formar uma história coerente, que soa como se fosse um álbum, e criei um nome para ele: conceptual album.

Embora o plano de lançamentos da Trip para 2017 seja muito intenso, e seja ligeiramente diferente em comparação com os anos anteriores, no primeiro semestre do ano, vou focar em discos solo: EP do duo russo PTU e um músico islandês Biogen, depois Deniro e uma garota russa incrível: ISHOME (mas na minha label ela estará sob o nome de Shadowax)

Esse ano eu abri uma sublabel da Trip – GALAXIID, para o lado mais experimental e abstrato da música. Então, está ficando muito emocionante. E claro, teremos a festa anual da Trip na Islândia, que agora é uma tradição adequada.

https://www.youtube.com/watch?v=9HmkFv95scE

5  Em Janeiro, você está de volta a clubs importantes do Brasil como Warung e Vibe. Além disso, está escalada para a primeira edição do Dekmantel São Paulo. O que podemos esperar dessa Nina que vem ao Brasil em 2017, quando comparada a sua última passagem por aqui? (Pergunta feita antes da tour)

As coisas estão mudando muito rápido no geral, e especialmente na vida de um artista. A música que estou sentindo no momento não é nada diferente em seus termos fundamentais: textura, honestidade, a abordagem humana por trás dela, muitos sentimentos que ela pode evocar apenas uma forma de dizer que o meu foco é em coisas mais rápidas e “ruffers”, um pouco mais sonhadora, um pouco mais confiante, tendo o meu tempo para me perder em algumas partes da viagem se eu quiser, isso tudo para voltar ainda mais forte – mesmo que isso signifique ir até 160 bpm ou tocar a faixa até o fim se eu achar necessário. Respondi a sua pergunta?

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6 – Olhando um pouco mais para o seu lado pessoal, nós gostaríamos de saber quais foram suas primeiras influências dentro da música e não necessariamente na dance music. Sua famíla exerceu algum tipo de influência ou apoio para que você seguisse a carreira de DJ?

Quando eu era pequena, meu pai e eu estávamos realmente dentro do rock psicodélico. Meus pais são meus melhores amigos, quando eu decidi terminar minha carreira de dentista, eles entenderam e apoiaram minha decisão.

7 – Você é um grande símbolo do movimento feminista em um cenário que ainda é predominantemente masculino. Na sua visão, falta espaço para as mulheres nos line ups dos principais eventos de house e techno no mundo? O que podemos fazer para mudar isso?

Acho que nunca houve tanto hype sobre ser mulher na indústria como agora. Tem um movimento acontecendo, mas como com todos os movimentos há um real, e um colateral que está apenas imitando a fidelidade da ideia original. É fantástico que mais mulheres estão sendo reconhecidas, mas eu tenho a sensação que alguns festivais agora mais do que nunca estão seguindo este hype colateral e tentando bookar o máximo de mulheres que eles conseguem, se for muito forçado pode ser um exemplo de puro tokenismo… É como se eles não percebessem que foram misóginos durante a maior parte de suas vidas. Seria ótimo se esses mesmos festivais ou promoters contratassem mulheres, não porque eles querem estar no topo do hype ou no bom público, mas sim porque eles apoiam pessoas talentosas em geral – todas elas, homens e mulheres. Basta respeitar os artistas pela sua arte em primeiro lugar. Sempre acreditei que os artistas devem ser reconhecidos pelo seu talento, identidade artística, sua presença, independente do sexo, orientação sexual ou habilidades sociais. Na realidade não é assim, mas está melhorando. Entretanto, vou continuar apoiando pessoas talentosas, felizmente há muitas mulheres entre elas.

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8 – Qual a importância da dança na sua formação artística e como você sente ela em suas performances?

Eu danço quando dá vontade.

9 – O que representou para você assinar o fabric 91? Quais foram as principais influências que você utilizou para a construção desse trabalho?

Foi um sonho que se tornou realidade. Eu tive uma fase verdadeiramente acid num período do final dos anos 90 até agora e também fui a alguns lugares que você não acredita que existem para poder finalizar isso 🙂

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10 – Para finalizar nossa entrevista, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida? 

Música para mim é a ideia de absoluta liberdade com uma emoção sincera que pode ser transmitida como o maior valor.

A música conecta as pessoas! 

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