Não se deixe enganar por alguns trabalhos de alcance mais popular na carreira do britânico Tim Healey, seu legado deixado para a dance music britânica é de considerável importância e sua assinatura musical é versátil ao ponto de englobar traços do house, techno e até mesmo electro em algumas situações.
The Prodigy, Chemical Brothers, Deadmau5 e até mesmo David Guetta serviram de inspiração para Tim construir seu catálogo, hoje composto por uma diversidade de trabalhos que incluem remixes para lendas do pop, rock e indie, além de frequentes aparições em programas de rádio comandados por nomes como Pete Tong e Annie Mac na BBC Radio 1.
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Recentemente, Healey esteve no Brasil e nós tivemos a oportunidade de conversar um pouco com o artista, que também preparou uma playlist exclusiva para o nosso Spotify. Ele acaba de lançar a Surfer Rosa Records, seu novo label que abrigou o álbum Rest in Beats. Saiba como foi o bate-papo:
1 – Olá, Tim! É um prazer falar com você. Sua primeira experiência em uma rave foi na década de 90, certo? De lá pra cá, o que exatamente mudou na forma como a sociedade enxerga a música eletrônica?
A música eletrônica é mainstream agora – então, muita coisa mudou – foi há quase 30 anos. Lembro em 1990, havia um grande debate na imprensa musical do Reino Unido: bateristas reais x baterias eletrônicas – todas as bandas diziam “nós só teremos bateristas”, e um pequeno grupo dizia: “nós usamos bateria eletrônica”, e você tinha que escolher um lado – eletrônica ou ao vivo. É tão incrível agora, quando eu ligo o rádio em 2017, tudo que escuto são baterias eletrônicas. Música eletrônica é a norma nos dias de hoje. Não era assim antes. Fui a minha primeira rave em 1990, cheguei na universidade e ninguém havia ido a uma rave, então organizei uma – foi um enorme sucesso – e nos anos seguintes, eu trouxe bandas como Primal Scream, Utah Saints e The Orb para tocar no meu evento. Foi um momento mágico de descobertas.
2 – The Prodigy, Chemical Brothers e Deadmau5 são artistas citados em sua bio. Como cada um deles influenciou a construção de seu perfil sonoro até aqui?
Em sua própria maneira cada um desses atos me influenciou muito. Prodigy e Chemical Brothers são duas bandas fenomenais. O LP Fat of the land do Prodigy está completando 20 anos – continua fresco como uma margarida – como se tivesse sido produzido ontem. Chemical Brothers têm produzido consistentemente – todos os seus álbuns são jornadas épicas. Deadmau5 era grande, volumoso e experimental… não tenho acompanhado seus últimos trabalhos, ele é muito talentoso, espero que volte a ser mais experimental.
3 – Você possui alguns trabalhos notáveis como remixer. Esse formato de produção te deixa confortável para trabalhar no estúdio?
Sim, 100%. Gosto muito de trabalhar na música de outra pessoa. Você tem uma desculpa para usar suas melodias e misturá-las com as melhores batidas e baixos que você pode fazer.
4 – Recentemente, você ficou dois anos afastado da cena eletrônica para administrar seu próprio restaurante em Brighton. O que esse período fora do cenário te trouxe de melhor?
Eu gosto muito de cuidar do meu restaurante e aprender sobre todas as comidas e bebidas que armazenamos. Ter um restaurante no meio de Brighton, no Reino Unido, é uma verdadeira realização. Mas a melhor coisa foi ter voltado para a música, foi como ter encontrado um velho grande amigo. Me sinto mais focado do que nunca e a música que estou gravando este ano é future/retro deep acid house. É preparada para a destruição na pista.
5 – Quanto a DB Stereo. Como tem sido trabalhar no desenvolvimento desse projeto? O que você pode adiantar de novidades pra gente em relação a isso?
Eu e Tom (Tomcraft) temos grandes planos para o nosso label, estamos lançando faixas originais assinadas por mim, Tomcraft, Bennun & Healey, e acabamos de assinar um novo single com Lee Coombs – um som incrível. Ano que vem faremos um pequeno festival, assim que tiver mais informações, avisarei vocês.
6 – Desde 2001 você tem mantido um relacionamento muito forte com o Brasil, não é mesmo? Agora, mais de 15 anos depois, quais são as melhores recordações que você tem em relação ao nosso país?
O Brasil é o país mais bonito. Tive a sorte grande de tocar pra cima e pra baixo ao redor do país, de Belém a Porto Alegre, tudo muito diferente. Toquei em festas privadas, eventos corporativos, pequenos clubes, grandes clubes, festivais e no ano novo na praia para um milhão de pessoas. Adoro as cidades grandes como São Paulo e Rio, e os lugares mais relaxantes como a locação do Universo Paralelo, na Bahia. Um dos eventos mais memoráveis foi quando toquei a primeira vez no 180 Degrees em Ubatuba, depois da festa, eles alugaram um barco grande, carregaram de cervejas e um sound system, muitas pessoas estavam à bordo. Lembro de tocar no barco com uma linda praia na nossa frente, deslumbrante.
7 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?
Uma oportunidade de viver a sua vida da maneira que escolher: a música me levou ao redor do mundo muitas vezes – de tocar no Fuji Rock Festival (Japão) ao Burning Man no deserto de Nevada. Amo experimentar culturas diferentes e suas histórias, costumes, comidas, bebidas… e festas. Fiz músicas para TV, filmes, produzi bandas de indie rock e rappers. Mas acima de tudo, música é uma forma de arte e sou privilegiado de ganhar a vida com ela.
A música conecta as pessoas!