Skip to content
A música conecta

Mercado, aprimoramento de identidade sonora e produção musical. Confira entrevista e set exclusivos com Wilian Kraupp!

Por Redação Alataj em Entrevistas 29.06.2017

Por Jonas Fachi

Em meio a um mercado cada vez mais exigente e diversificado, manter-se dentro das linhas que o formam é cada vez mais difícil. Wilian Kraupp segue sua jornada artística criando e difundindo música por todos os cantos do país. Suas linhas correm entre o pragmatismo necessário para dar os passos certos, e o espaço lúdico indispensável para estar sempre em evolução. Sua forma de desenvolver criatividade virou referência em toda américa do Sul e seus lançamentos por gravadoras importantes do cenário global, o colocaram em coalizão com o que temos de mais original na cena eletrônica brasileira. Nessa entrevista, ele nos traz suas visões sobre o que é realmente importante para ser um artista reconhecido, e principalmente, nos coloca a frente do conceito de identidade sonora. De quebra, ele assina o mix 290 do nosso Alaplay Podcast. Confira abaixo:

1 – Olá Wilian. Obrigado por nos atender aqui no Alataj. Muito se fala das mudanças cíclicas que o mercado mundial e nosso interno sofrem, no que tange estilos musicais. Para você, existiu alguma diferença nesses primeiros meses do ano?

Não tenho sentido muita diferença. Essas mudanças de interesse que o público sofre são normais e muito saudáveis para o mercado. Eu acredito que existe espaço para todos que trabalham duro e tentam estar sempre mostrando algo novo. Saber trabalhar sua carreira é muito importante. Quando o techno esteve no auge, como nos anos 2000, muitos artistas surgiram e outros vieram para ficar. Eu comecei a lançar meus primeiros trabalhos quando o deep house teve seu auge aqui no Brasil, em 2012. Já sabia que teria que esperar o momento do techno e ele veio. Agora, aqui no Sul existem ótimos núcleos e eventos do estilo que tem se consolidado, mesmo com um grande interesse do público por sons progressivos.

2 – Há um consenso entre as pessoas que ouviram seus sets recentes, sobre sua capacidade de se adaptar a proposta da noite, sem perder seu estilo. Claro que isso, no fundo é o dever de todo artista, mas muitos confundem-se e acabam deixando de lado a identidade. Como lidar com esses dois lados, sem se perder?

Interessante você tocar nesse assunto, tenho pensando a respeito com frequência. Quando lembro que já dividi cabine com nomes como Barem, Dettmann e Carola, sempre tocando antes deles e em horários importantes, recordo o quanto sofri nos dias que antecederam os shows. Acredito que um artista como eu, que ainda está buscando um ponto maior, precisa ter a humildade de que nem sempre vai poder tocar só aquilo que é reconhecidamente seu estilo, no meu caso, se reflete nas coisas que eu lancei nos últimos dois anos por exemplo. A essência do DJ está na pesquisa musical, preparar a noite, pensar nos detalhes, prever situações, ter cartas na manga… Se você não faz isso, está correndo um grande risco de ouvir no outro dia algo que o público sempre nota; ‘’ele se perdeu um pouco no set’’. Se a pesquisa for apropriada, você vai encontrar faixas que te assemelham e outras que podem caminhar em direção ao próximo artista. Fiz isso no Dett, no Warung, ano passado e obtive ótimos feedbacks, até mesmo dele. Foi gratificante.

3 – No seu último lançamento, podemos encontrar um ar novo também, isso está relacionado com os desafios que você tem enquanto DJ no país?

É isso mesmo, tenho tocando em tantos lugares diferentes, como sei lá, uma noite da Moving no D-edge, ou em uma pistinha para 300 pessoas no interior do RS. Isso me fez crescer muito, pois todos têm a mesma importância. Eu me preocupo com a experiência de cada uma das pessoas que se dispuseram a estar ali para me ouvir. O desafio é constante, e quando volto para casa, ainda sentindo o final de semana, e entro no estúdio, é inevitável que eu acabe deixando esse sentimento fluir nas músicas. Onde antes eu ignoraria determinado acorde, ou timbre, eu acabo me interessando. Acho que ter a mente aberta é importante, eu ainda estou no início da minha caminhada e tenho aceitado que ainda posso evoluir em minha identidade sonora. Os próximos lançamentos serão a prova disso [risos]

4 – E como é esse processo criativo na hora de produzir, você é sistemático ou vai jogando ideias e depois monta tudo?

É um pouco difícil colocar em palavras como funciona na hora que se começa uma música. As possibilidades são tantas, e se você analisar, quase todos os produtores falam isso. Não existe exatamente uma fórmula e isso é tão incrível! Muitas vezes eu começo pelo baixo e bateria, geralmente quando eu sento e digo que vou começar uma música nova. Outras vezes acontece quando descubro um novo sintetizador, e começo a explorá-lo, quase sempre acaba saindo algum rascunho de música, que depois eu crio o corpo, que no caso, seria o inverso.

5 – Então em seus próximos lançamentos, podemos esperar um novo Kraupp?

Não um novo Kraupp, mas produções com um pouco mais de amplitude, onde pretendo atingir algumas marcas novas que admiro. Meu jeito de tocar, o groove, minhas baterias recheadas e o techno e tech house sempre estão no meu sangue – talvez as pessoas podem ver algumas variações com elementos mais obscuros, outras um pouco mais de introspecção. Também tenho eliminado muitos canais das minhas músicas, tenho tentando deixar realmente o que é importante para funcionar. Antes eu tinha 50 canais, agora trabalho com 30, isso faz muita diferença…

6 – Quais eram suas maiores dificuldades quando começou a produzir?

Acredito que o tratamento dos elementos (mixagem) é uma das partes mais complexas da produção. Não basta você conseguir criar um bom conjunto, eles precisam funcionar também na linha do tempo. Acho que não só comigo, mas é um mal de todos quando fazem as primeiras tracks. Você ouve e pensa ‘’está faltando algo’’. Então a primeira atitude e mais lógica é procurar novos elementos para preencher alguns momentos da música. Muitas vezes o problema não está na falta de elementos, mas ainda assim você continua colocando mais e mais, até que a música fique arrastada e com elementos importantes sendo ocultados por outros. Posso afirmar que em 70% das vezes essa sensação de falta de algo, pode ser resolvida no cuidado com a mixagem dos elementos já existentes.

7 – Você pensa em criar um álbum num futuro próximo?

Eu penso sim. Mas não fico criando pressão sobre quando deve acontecer. Um álbum precisa retratar a essência do artista e deve ter alguns ingredientes especiais. Sem dúvidas é algo que uma hora vou começar a pensar com cuidado.

8 – Para finalizar, conte-nos um pouco sobre a elaboração do seu set para nosso podcast.

Esse set montei como um reflexo do que venho tocando nos últimos meses. Produtores como Nick Curly, David Herrero, Raxon e Ramon Tapia estão inclusos. Espero que gostem…

A música conecta as pessoas! 

A MÚSICA CONECTA 2012 2024