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A música conecta

Coletivo de techno em Curitiba deseja alcançar o mundo

Por Georgia Kirilov em Troally 04.04.2016

O Music Nerds é o tipo de coletivo que dá esperança para a vida por meio da música. Com integrantes em Curitiba e na Índia eles tem tudo para dominar o mundo com sua visão democrática e orgânica em um universo aonde arte as vezes é banalizada e tratada como entretenimento ao invés de uma ferramenta para movimentos sociais de evolução pessoal e conexão espiritual.

A família MN trata todos seus eventos e iniciativas como pautas para discussão e quando o produto final chega, uma certeza que se pode ter é que todos os integrantes foram representados e que o que está sendo apresentado para o público foi milimetricamente calculado para que haja espaço para o espontâneo, algo muito difícil de se fazer vale ressaltar. A entrevista abaixo foi conduzida para uma matéria no Non-Blasé, mas aqui apresento-lhes todas as respostas completas para representar esse coletivo maravilhoso como eles realmente são e querem ser entendidos e vistos.

1- Como o Music Nerds começou?

Em meados de 2014, os produtores Sebastian Lezcano e Eduardo Cavassim, já amigos e parceiros de trabalho há tempo, iniciavam o projeto que tinha a intenção de ser um canal do Youtube para divulgar o trabalho de artistas iniciantes na cena underground de techno em Curitiba. Era claro para eles que essa cena tinha pouquíssima visibilidade devido a elitização constante da música eletrônica em Curitiba, mas sabiam também que havia um público grande, sedento por arte democrática, esperando que a cena desabrochasse. Em março de 2015, agregaram o produtor manauara Diego Mazzitelli, recém chegado em Curitiba, e assim formou-se o eixo musical que deu alma e cor ao coletivo. O trio foi agregando amigos que, assim como eles, buscavam fazer a cena acontecer movimentando novas festas e outros tipos de evento culturais. Atualmente, contamos com os seguintes nerds na equipe: Augusto Sala (financeiro), Diego Mazzitelli (produção musical), Eduardo Cavassim (produção musical) Eloiza Montanha (produção de artes visuais), Giulia Savoi (RP e comunicação), Kessy Santos (comunicação e produção de eventos) e Sebastian Lezcano (produção musical).

2- Qual é a importância do coletivo artístico para vocês? Como fazer com que vozes individuais sejam escutadas enquanto criando uma harmonia de sons no coletivo?

O coletivo é uma forma de expressão artística para nós. Fazer parte dele é, além de expor a nossa arte, incentivar novos artistas a fazerem o mesmo e cativarem as pessoas a se envolverem com a democratização da arte. Somos, por mais clichê que isso soe, uma família, amigos de longa data, então a comunicação é constante, direta e harmoniosa. Para amigos como nós, trabalhar juntos é muito divertido, ainda mais quando vemos nossos planos dando certo. Cada um tem o seu papel definido de acordo com sua área de expertise para que os esforços sejam concentrados, e mediante a conclusão dos trabalhos individuais, cada um ajuda o outro a dar continuidade aos trabalhos que precisam ser feitos em conjunto. Todos opinam em tudo, os debates são bem abertos e muitas vezes longos [risos], para que todo e qualquer evento/conteúdo tenha realmente a cara do coletivo, não de apenas alguns membros. É um trabalho árduo, mas o amadurecimento vem de brinde.

3- Como vocês escolhem quem vai contribuir no podcast?

A curadoria do podcasts segue um critério muito sensível. Procuramos artistas que, independente da fama ou da cidade de origem, se encaixem no nosso conceito que se resume a Techno Music. Nossos produtores residentes Diego e Eduardo produzem um techno mais étnico, tropical e sensual. Já o Sebastian tem uma pegada mais dub techno, por vezes industrial, há grandes variações. Por isso, compreendemos bem a variedade de sons que podem agregar muito aos nossos colegas produtores, DJjs e ao público, e procuramos dar voz à essa diversidade com nossos podcasts. Assim, concluída a escolha, que é a parte mais difícil, entramos em contato com o artista e convidamos para participar, e até agora felizmente tivemos 100% de recepção positiva.

4- Quais são 3 artistas que realmente marcaram a jornada do Music Nerds até agora? E quais são 3 artistas que vocês gostariam de incluir?

Uma escolha muito difícil, pois admiramos infinitos artistas, mas numa esfera mais próxima e palpável podemos destacar:

O duo curitibano Talking Frequencies que participou no segundo Music Nerds Live Stream. O som deles resume bem o conceito dos nossos podcasts e da nossa label, que está em processo de desenvolvimento.

A romena Oana Puccio, que iniciou uma agência de artistas na Romênia e será uma parceira do Music Nerds em breve.

Além de apenas produtores musicais, podemos e devemos destacar a Gold Dome, uma marca que produz arte em formato digital, cenografia, fotografia, roupas, música, vídeos e tudo o mais que você puder imaginar. A marca é da nossa amiga Lourene Nicola, que além de trabalharem na Gold Dome, produzem a Redoma, uma festa que se consagrou como uma entidade da artes e sentimentos em Curitiba. Eles nos apoiam e influenciam desde que nos conhecemos e são parte essencial de nossa história.

Para futuros podcasts também é uma tarefa árdua, então deixamos o Sebastian escolher os artistas que estão mais próximos dos contatos dele e são grandes possibilidades para os podcasts:

Rata, da Ucrânia
Raresh, da Romênia
Barac, também da Romênia

5- O propósito do coletivo é promover o trabalho de artistas tanto no canal quanto por meio de festas, como o Alcova no Wake Up Collab, como é o processo de traduzir a identidade do Music Nerds em um evento físico?

O Music Nerds tem um conceito sonoro e visual que se transforma a cada contato cultural novo e diferente que estabelecemos. Como costumamos dizer, somos um triângulo Curitiba+Manaus+NewDelhi, portanto nossa identidade é uma grande mistura étnica. Como fazemos parte da cena underground, cremos que a cada festa nos descobrimos ainda mais, pois sempre criamos novos laços com artistas e apreciadores da arte, e esta é transformação, metamorfose permanente. Portanto, é provável que nunca tenhamos uma identidade padrão discernível de uma forma superficial em todos os eventos, mas sempre elementos que transmitem nossas mensagens. Parece complexo e realmente é.

6- Por enquanto o Alcova foi o único evento promovido pelo Music Nerds? Se sim, vocês pretendem criar outros com propostas diferentes? Se não, quais outros e como eles se diferem?

Na verdade, não. A PACHANGA foi nossa primeira festa, digamos que um projeto piloto. Dela, fizemos três edições que serviram para fazer nossa primeira conexão com o público como um coletivo, que já conhecia o trabalho dos nossos produtores individualmente. Eduardo, desde 2012, já era figurinha presente nas cabines de clubs de Curitiba como a Vibe e a Danghai no auge do Deep House no Brasil; Sebastian também estava se consolidando, produzindo e lançando seus sons na internet; houve então a junção dos dois no duo Strange People, que chegou no top 5 do Beatport com sua track Morning Good. Com a mudança do Sebastian para New Delhi e a chegada de Diego, sentimos que era hora de traçar novos horizontes aproveitando o momento quente com o público.

Em parceria com a Wake Up Colab, começamos a Alcova no segundo semestre de 2015, um evento intimista, que mantém a cena sempre ativa e revela novos talentos, e tornou-se assim um alicerce entre o público e os artistas. Vale ressaltar que é uma das festas mais constantes do underground curitibano atualmente (frequência quinzenal) e acontece às quintas-feiras começando às 20h e terminando às 02h, um dia e horário pouco aproveitados na noite curitibana. Amanda Sato e Mau Schramm formam o duo Galena que também é residente nas Alcovas.

Trabalhamos também na Redoma, que já citamos anteriormente. Das edições 001 à 003, tivemos Eduardo e Diego como residentes. A partir da próxima, além dos DJs residentes, seremos parceiros interinos, com intervenções artísticas, apoio na produção e no desenvolvimento técnico.

Para 2016, temos planos de eventos maiores e mais específicos, mas acredito que isto seja assunto para outra pergunta [risos]. Desde dezembro também estamos fazendo a festa Catacombe em parceria com a DJ e produtora francesa Denise Wright no bar Nofilter em New Delhi.

7- Uma das minhas partes preferidas sobre o site do Music Nerds, foi o fato de que para descrever cada integrante foi usado elementos como sua balada preferida, cidade preferida, DJ preferido e artista preferido. Informações estas que eu eu acredito serem muito mais interessantes do que quantos anos você tem e aonde nasceu. Isso foi feito com esse propósito de quebrar esse paradigma das perguntas péssimas ou somente de forma inconsciente porque é assim que vocês se definem?

A Kessy teve essa ideia enquanto desenvolvia junto com a Giulia o planejamento de comunicação do Music Nerds para os próximos meses. Foi naturalmente uma ideia para que o nosso público possa conhecer melhor cada um dos nossos nerds em meio a essa salada mista de personalidades, afinal, conhecemos muito mais uma pessoa pelo que ela leva dentro de si do que o que podemos ver externamente. Agradecemos o elogio ao site, achamos que ele tem tudo a ver com a gente, e aos pouquinhos vamos preenchendo ele com mais conteúdo.


8- Na descrição do coletivo vocês falam que o Music Nerds começou em Curitiba, mas abrange o mundo. Podem me explicar mais esse conceito?

Nós começamos aqui, representamos essa cena, mas como todo artista queremos abrangir o mundo todo com nossa arte. Assim como achamos outros produtores/DJs espalhados pelo mundo para participar dos nossos podcasts, qualquer pessoa que queira divulgar seu trabalho através dos nossos eventos e intervenções será bem vindo, não importa onde essa pessoa esteja. Isso sem contar que temos dois dos nossos nerds morando na Índia (Sebastian e a Giulia) que estão fazendo a frente para expandir o Music Nerds na Índia (e posteriormente na Europa) fazendo parceria com clubs e outras festas de New Delhi.

9- Curitiba cada vez mais se destaca na cena cultural não só do Brasil, mas do mundo. O que vocês acham sobre a cena local?

A cena em Curitiba está fervilhando. As pessoas estão cansadas dos preços exploratórios nos clubs e festivais para ver as tão esperadas atrações, do machismo, da homofobia, transfobia, gordofobia e tantos outros problemas sociais latentes nesses espaços de elitização e banalização da artes. Os artistas estão fartos de tentar encontrar espaço democráticos para divulgar seus trabalho. Essas pessoas estão se mobilizando e criando esses espaços. É muito lindo e gratificante ver um movimento que não é consumista nem elitista se identificando com a mensagem do techno e todas as outra formas de arte envolvidas em nossa produções e ainda mais, tornando isso estritamente necessário para viver nessa sociedade bizarra que é o planeta Terra. Agora nós e tantos outros artistas temos a missão de continuar espalhando essas mensagens. A cena tende a crescer e se diversificar muito mais em 2016, estamos muito animados.

10- Planos para o futuro?

Nossos maiores planos futuros são a festa que desenvolveremos em um espaço grande, com um line up de techno pesadão e acontecerá provavelmente em abril de 2016 e o lançamento do label do Music Nerds. Fora isso, acredito ser prudente guardar os planos ainda não firmados para que tudo flua naturalmente, e assim que tudo estiver certo, teremos prazer em compartilhá-los com todos.

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Fotos por Aruan Viola, Isabella Glock e Gabriela Moreno.

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