É inegável a influência do design na música eletrônica. Se você é um clubber, certamente já se encantou pelo flyer de algum evento. Se é um colecionador de discos, provavelmente já se entregou a uma capa que se destacava dentre as outras. Com a profissionalização de diversos segmentos do nosso mercado, está cada vez mais fácil de encontrar gravadoras e clubs que investem em bons estúdios de design para produção de seus materiais gráficos. Em alguns casos, são verdadeiras obras de arte.
Um dos estilos de maior aceitação dentro do underground eletrônico é o minimalista. Em Portugal, a TF Concept – Design, confecciona capas e flyers para marcas e artistas como Abstract Theory, Soloman’s Forest Records, Seasons Events, Frenzy e Synapsis Records. São artes que estampam desde cartazes até capas de vinis. O estúdio é conhecido por sua identidade, marcada pelo uso de traços finos e formas geométricas que se encontram e multiplicam-se. Conversamos com Tania Filipa – nome por trás de todo trabalho – com o objetivo de conhecer mais a identidade da TF. Confira abaixo! 🙂
1 – Olá, Tânia! Muito obrigado por falar connosco. Um de seus trabalhos que mais nos chamou atenção foi a capa do EP Delizia, produzido pelo Paul Mad para a Soloman’s Forest Records. Nós adoramos o trabalho do Paul e queremos saber de você até que ponto o conteúdo sonoro do release influencia na produção da arte?
É um prazer estar a falar com um projeto como a Alataj, obrigado pela oportunidade!
Posso dizer que um dos projetos que me dá mais gosto de trabalhar é a Soloman’s Forest Records. Os nossos ideias tanto a nível de arte como de musica estão no mesmo limiar e tudo flui com naturalidade na hora de criar algo. É uma Label que tem sempre o cuidado de me enviar o EP com bastante antecedência para eu ouvir, inspirar-me e daí começar a produzir a parte visual.
O conteúdo sonoro esta bastante relacionado com a parte visual, só começo a trabalhar após ouvir pelo menos umas 5 vezes o EP completo, o resultado final posso dizer que esta muito conectado à versão Dub que está no EP, acho que é uma faixa bastante “clean” e harmoniosa com uma vibração bastante cativante. Paul Mad para mim é um grande artista, bastante envolvido na cena actual da musica eletrônica, já lançou tracks em labels como Reduced Records e Mumble. Foi um prazer realizar a cover para esta release.
2 – Em sua bio, você cita um trabalho focado na arte minimalista. Sempre foi dessa forma ou outros estilos e caraterísticas te influenciaram anteriormente?
Sim, foi sempre desta forma desde o inicio, começou por ser um projeto em que queria fazer a diferença e apresentar algo diferente do que se costuma ver e associar à musica eletrônica. Comecei por fazer upload de certos trabalhos que ia realizando, algo bastante informal, mas o feedback que recebi foi muito bom, decidi então levar as coisas a um nível mais profissional e começar a contactar labels e promotores. De certa forma percebi que havia espaço no mundo da musica para o que estava a concretizar e que a relação musica – arte – publico é bem maior do que às vezes se dá credito.
Quis investir e dar a oportunidade a pessoas que se relacionam e identificam com o meu trabalho de conseguir apresentar ao seu publico alvo arte original, feita de raiz, algo único! O meu estilo acaba sempre por cair sobre o minimalismo por mais voltas que dê, é mesmo com o que me identifico e tenho satisfação em fazer.
3 – Aqui no Brasil, você desenvolveu a identidade visual da SON, certo? A logo parece ser uma clara alusão ao tronco de uma árvore. Conte-nos como você chegou nesse resultado.
Exato, fiquei muito contente por ter sido convidada para fazer o logo da SON, o projeto em si tem bastante influencia no Brasil. Na altura lembro-me que chegamos a um entendimento rápido, o cliente sabia o que pretendia e eu relacionei-me rapidamente com aquilo que me estava a ser transmitido. O logo representa uma secção transversal do tronco de uma árvore, ou seja os raios que um tronco tem no seu interior, que está associado à nutrição e idade da mesma. Na altura achei uma ideia bastante boa, e conectar isso à geometria foi fácil e resultou de forma excelente. O desfecho foi geometria conectada à natureza que era o pretendido.
4 – Além de capas para o universo digital, você também já desenhou algumas artes para vinil. Esses trabalhos são mais especiais para você ou não diferem dos demais?
Vou admitir que ao inicio era, era mais especial por ser vinil, como também coleciono, tinha uma ideia que era sempre algo mais peculiar e característico, porque tem uma conexão única à musica em geral, não só com musica eletrônica.
Com o passar do tempo tenho vindo a compreender que não é bem assim, neste momento o que me dá prazer é trabalhar com pessoas que eu vejo que gostam do que eu faço, seja num vinil, num poster, ou até numa T-shirt. O importante é haver conexão, entenderem a mensagem que eu tento passar e acima de tudo darem-me a oportunidade de continuar a fazer o que mais gosto. Mas claro que projetar arte para uma release em vinil continua a ser bastante importante tanto a nível pessoal como profissional. É um marco que fica, são imensas as pessoas que vão olhar para um artwork original que foi criado por mim num objecto físico, vão pegar, ver e ouvir, isso é sempre especial.
5 – Nos fale um pouco sobre a cena de música eletrônica em Portugal, especialmente em Lisboa. O que tem acontecido por aí?
Na minha opinião tem vindo a crescer, este ano vai haver um festival muito interessante, o Lisboa Dance Festival, que vai reunir num só espaço: conferências, workshops e um mercado dedicado às lojas de discos, o que é bastante inovador para a realidade nacional. Vão apostar também em showcases de labels nacionais, será bastante interessante na minha opinião. Já estão confirmados também grandes nomes como Sven Väth; Move D e Motor City Drum Ensemble.
Temos o nosso grande pilar da noite portuguesa, o Lux Frágil, uma discoteca que aposta nos nomes mais importantes do momento e consegue ter noites impressionantes como as “Green Ray”, em que por exemplo num dos últimos eventos reuniram (entre outros) Magda, Sonja Moonear e San Proper.
Também não é de excluir projetos como o Trans Europa Express que aposta em nomes mais alternativos e em projetos distintos. Dá a chance do público conhecer excelentes projetos tanto nacionais como internacionais, sempre com grandes surpresas como Eric Cloutier, John Osborn e Cio D’or.
6 – Dentre tantos artistas e gravadoras que você já trabalhou, há algum que você considera mais especial ou importante na sua carreira?
Neste momento a nível de labels as mais importantes e constantes são a Soloman’s Forest Records (Canadá) e a Abstract Theory (Itália). Em termos de artistas e releases, foi um marco muito grande ter feito a arte para a Cardinal Vinyls, Sub-Label da Invade Records, que inclui artistas como Ilario Liburni, IO (Mulen) e Plusculaar. Também para a Opilec Music fiz a arte para uma release em vinil do Jordan Fields que é um Produtor e DJ que admiro muito. Outro marco importante foi ter trabalhado com o Hakim Murphy (Synapsis Records), realizei a parte visual de uma release em vinil do Miltiades, que é simplesmente magnífico.
7 – É possível notar uma clara influência da geometria em suas artes. Como isso está presente no seu quotidiano?
Está presente nas coisas mínimas, gosto de ter tudo bastante organizado, gosto que o que me rodeia seja de certa forma simples. Acho que a beleza recaí na simplicidade e na forma directa de como tudo é apresentado. Adoro admirar certos pormenores específicos na área da arquitectura presentes no dia-a-dia como por exemplo em prédios, estradas, escadas, linhas de metro… Coisas que as pessoas simplesmente passam ao lado e nem ligam. Posso dizer com toda a certeza que a geometria é parte da minha vida, que menos é mais e que coisas geométricas têm uma beleza única e própria.
8 – Para encerrar, gostaria que você falasse de suas preferências musicais. Quais são os artistas e gravadoras que você tem mais acompanhado no momento? Quem são seus grandes ídolos?
É difícil nomear apenas alguns, ouço muitas coisas, do house ao techno passando por dub e até mesmo disco, mas recentemente deparei-me com uma label que achei bastante interessante: Ride Records, está conectada à Balance Artists de Espanha e é simplesmente fenomenal na minha opinião. Outras labels que admiro são Sudd Records, Imprints Records, Half Baked, Photic Fields, Contrast-Wax, Sound Signature, Leftback Records, Stablo, Modularz, Perlon, Aim Records.
Recentemente alguns dos artistas que mais tenho acompanhado são: Frank & Tony, Oskar Offermann, Rhythm&Soul, Molly, Marcellus Pittman, Steffi, Tin Man, Rrose, Nihad Tule, e Bleak. Contudo nunca deixo de ouvir artistas como Robert Hood, Jus-ED, Mike Huckaby, Moodymann, Ron trent, Marshall Jefferson, Theo Parrish, Kerri Chandler e Derrick May. Depende muito da inspiração do momento, do decorrer do dia, da estação do ano. Escolher um projeto que sobressai escolho sem duvida Basic Channel (Moritz von Oswald/Mark Ernestus), acho o trabalho desta dupla de uma magnitude tremenda.