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A música conecta

Talento e acasos do destino formaram a vida musical de Quenum

Por Alan Medeiros em Troally 24.01.2017

Na próxima sexta-feira a Serialism dá o ponta-pé inicial em sua World Tour, que comemora os 10 anos de sua história. O primeiro ato será na cidade de São Paulo e traz o romeno Cristi Cons como headliner (saiba mais sobre o evento aqui). Além dele, Cesare vs Disorder e Quenum também ocupam posição de destaque no line. Vale ressaltar que a próxima já está confirmada e Rhadoo é o artista que encabeça o line up.

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Entre os excelentes artistas citados no parágrafo anterior, resolvemos falar especificamente de um. Quenum é um nome que merece destaque no crescimento da cultura eletrônica ao decorrer das últimas décadas. O suíço é co-fundador de alguns dos selos mais respeitados da comunidade. Ao lado de Paulo Nascimento iniciou a Access 58, em Genebra a Num Records e ao lado de Luciano a legendária Cadenza. O primeiro release da gravadora é fruto de uma parceria entre Quenum e o suíço-chileno. “Orange Mistake” é um ícone na cena eletrônica que já atravessa gerações e merece sempre ser re-escutada e compreendida novamente.

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Trabalhando como DJ desde o começo dos anos 80, já podemos imaginar que Quenum é um artista que pode falar muito e com propriedade sobre esse cenário que nós tanto amamos. Por isso, solicitamos uma entrevista e fomos gentilmente atendidos. O bate-papo que você confere abaixo tem como personagem principal uma figura importante para a história disso tudo que vivemos diariamente. Tudo o que podemos dizer é aproveite o momento:

1 – Olá, Quenum! É um prazer enorme falar com você. No começo dos anos 90, você fundou a Access 58, em uma época em que gravadoras de música eletrônica não eram algo tão comum. O que motivou você a criação desse projeto? Quais eram as principais dificuldades da época?

Eu tinha recém me mudado para Londres e conhecido meu futuro parceiro, Paulo Nascimento. Trabalhamos juntos em um estúdio em Brixton, começamos fazendo música para os outros então pensamos, porque não fazer música para nós mesmos? As nossas primeiras tracks foram lançadas por outras labels, como exemplo a Pacific Records. Posteriormente, resolvemos criar a nossa própria marca, a Access 58. Eu sinto como se naquela época as coisas fossem mais fáceis, porque se a sua música fosse boa, não era difícil encontrar uma boa distribuidora, sem contar que ainda existiam muitas record shops, era incrível levar o seu som e ainda conhecer pessoas maravilhosas no ramo. Eu fiz tantos amigos nesses shops e hoje em dia eu sinto muita falta disso.

2 – Você possui remixes e colaborações com alguns dos artistas mais importantes da dance music contemporânea, entre eles Cassy, Cesare vs Disorder, Luciano e Mathew Jonson. Como é pra você trabalhar em parceria? Você se sente confortável na posição de remixer?

Eu adoro trabalhar em collabs, adoro compartilhar música, é como quando você encontra um ótimo restaurante e você conta para os seus amigos. Tudo é muito melhor quando você pode compartilhar. Claro, isso não funciona com todos, então todas as minhas colaborações são com pessoas que eu amo como artistas, mas também como amigos. Algo que acho incrível em uma collab é que aprendemos muito uns com os outros, porque todos nós temos estilos diferentes de trabalho, então para mim é uma grande oportunidade de aprendizagem. Adoro remixar, porque eu posso colocar meu próprio toque na criação de outra pessoa e isso é muito emocionante.

3 – Esse ano a Serialism completa 10 anos e fará uma tour de eventos por algumas das mais importantes cidades do mundo. Fale um pouco sobre o seu relacionamento com a gravadora e o que você espera desse primeiro evento, dia 27 de Janeiro em São Paulo.

Tenho um enorme respeito pelo meu amigo Cesare vs Desorder. Para durar tanto tempo neste negócio por si só é incrível e ele nunca comprometeu a qualidade da música. Cesare tinha o talento para lançar artistas antes de suas carreiras terem decolado. Nós nos conhecemos quando eu estava procurando uma gravadora para lançar meu primeiro álbum solo, algo que foi muito especial para mim. Ele apoiou imeditamente meu trabalho, então eu nem pensei muito, embora outras grandes labels estivessem interessadas ​​no meu projeto. Seu entusiasmo realmente me convenceu que este era o lugar para mim. Desde então, nos tornamos melhores amigos e embarcamos em um grande projeto juntos: Azimute. Estou realmente ansioso para nossa festa em São Paulo no dia 27 de janeiro. Espero compartilhar um grande momento e boa música com a bela multidão brasileira. Cesare e eu esperamos que este seja o início de um grande relacionamento com nosso público brasileiro.

4 – Um dos highlights da sua carreira é a fundação da Cadenza, ao lado de Luciano em 2002. Como exatamente isso aconteceu? O que de melhor você tirou do trabalho desenvolvido na Cadenza?

Mais uma vez, tem muito a ver com sorte e amizade. Eu tinha acabado de me mudar para a Suíça quando conheci Luciano, nós imediatamente nos demos muito bem, passamos tempo juntos no estúdio e tocando em algumas festas juntos. Fizemos algumas faixas, mas não conseguimos encontrar uma gravadora que quisesse lançá-las. Então decidimos por que não ter o nossa própria label? Foi assim que fundamos a Cadenza e lançamos o primeiro EP com a famosa “Orange Mistake”. Em todos os lugares que eu vou, ainda recebo elogios por esse trabalho. O que me deixa realmente feliz é que no ano passado eu liberei uma nova faixa na Cadenza, “Solitaire”, e foi muito aclamada, outra coisa que me faz realmente feliz é que Luciano e eu nos aproximamos novamente, então decidimos fazer mais um trabalho juntos este ano.

5 – Você possui lançamentos por algumas das maiores labels do mundo – Get Physical, Crosstown Rebels, Systematic e Rebellion são apenas alguns exemplos. Na sua opinião, qual é a importância de um artista ter sua música vinculada a uma gravadora com um fluxo de trabalho profissional? Como é o seu relacionamento com os selos que trabalha atualmente?

Há muita concorrência para entrar nas labels renomadas, então o que é importante para mim é que, se eles decidirem lançar minha música, é um grande reconhecimento da qualidade do meu trabalho. No lado dos negócios, hoje você não vai ganhar muito com a liberação de faixas de qualquer maneira, sela lá ela qual for. Eu também conheci pessoas incríveis trabalhando com esses rótulos, por exemplo meu irmão Derrick May que lançou o mais recente EP Azimute em seu lendário rótulo Transmat.

6 – Alguns artistas são conhecidos por produzirem um som capaz de fazer as pessoas entrarem em um profundo estado de reflexão. Outros, por colocarem a pista pra dançar. Com qual desses perfis você se identifica mais?

Ambos. Completamente. Como DJ com uma longa carreira, tenho grande experiência em controlar a pista de dança. Eu amo esse relacionamento que eu construo com minha audiência, sua felicidade e os momentos especiais que nós temos juntos. Ao mesmo tempo, tenho um forte relacionamento emocional com a música e também quero compartilhar essa parte de mim.

7 – Como tem sido pra você construir uma identidade ao longo das últimas décadas? Outros movimentos artísticos tem exercido influência na construção de seu som?

Acho que minha identidade começou a tomar forma na infância, com minha família. Sabe, toda a minha família é musical, meu pai costumava me levar para as lojas de disco todas as semanas e ele ouvia música 24/7. Descobri música caribenha, jazz, soul, grandes artistas como Fela e tantos outros. Qualquer oportunidade era boa para começar uma festa em minha casa. Ainda hoje, meus irmãos e sobrinhos trabalham com música e dança. Claro, quando saí de casa e segui meu próprio caminho, aprendi tantas outras coisas. Eu fazia parte de uma equipe de break-dancing que visitou Nova York em 1984 e foi quando eu vi pela primeira vez um set ao vivo com computador. Era Herbie Hancock, tocando no Roxy com DJ DST. Isso explodiu minha mente, assim que comecei a tocar, estava no meio da explosão da house music, então segui a evolução da música para o techno. Além disso, a música evoluiu muito através de mudanças tecnológicas e eu estava sempre interessado em aprender sobre as novas formas de produção.

8 – Qual é a importância do aspecto humano na sua carreira? O que se pode tirar de melhor das experiências interpessoais que você adquiriu viajando por diversos países do mundo?

O aspecto humano é o número um! Faço amigos muito facilmente e estou muito aberto, mas infelizmente neste negócio nem sempre é bom ser assim. Minha esposa brinca comigo falando que eu poderia melhorar meu sentido do negócio. Mas na verdade eu nunca vou mudar, porque é assim que sou. Respeitar os outros seres humanos é sempre o mais importante. Eu não me importo se você é um DJ famoso, uma celebridade ou a pessoa que me leva ao clube, para mim é tudo a mesma coisa. É tudo sobre seus valores e como você se comporta. É tão difícil falar em poucas linhas sobre todas as experiências que tive sobre o mundo e quantas pessoas abriram suas portas e seus corações para mim. Por exemplo, quando Cesare e eu tocamos na Austrália, tivemos uma recepção incrível, as pessoas nos convidaram para as refeições, levaram-nos ao redor do país, eles tomaram conta de nós. Não tem nada a ver com ser um DJ, foi apenas uma experiência humana calorosa, e nós tivemos o mesmo na China, no Vietnã, nos EUA, na Caledônia – em todos os lugares.A imagem pode conter: 3 pessoas, pessoas em pé, oceano, céu, óculos de sol, praia, atividades ao ar livre e natureza

9 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa na sua vida?

Depois da família, pra mim é tudo!

Música de verdade, por gente que faz a diferença! 

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