Vitrola é a coluna de brasilidades do Alataj
Quem trabalha com música ou acompanha diferentes cenários de pertinho, sabe a importância e a influência que uma determinada região pode exercer para o crescimento e fixação de um estilo. Foi assim com o techno em Detroit, com a house music em Chicago, com o samba no Rio de Janeiro. Aqui no Brasil, movimentos musicais distintos se difundiram e foram fortalecidos de norte a sul. Entretanto, é difícil encontrar algum com tamanha originalidade quanto o manguebeat, gênero que surgiu na Recife dos anos 80 e 90.
https://www.youtube.com/watch?v=E-H_sDlXWWw
Inserido nessa cena prolífera e inteligente, Chico Science e uma turma de músicos muito boa estava trabalhando com várias referências para criação de algo realmente novo. Não foi fácil, principalmente devida a falta de material humano, dar luz aos primeiros projetos do manguebeat. Por conta de sua boa influência e relacionamento intrínseco com a música, Chico foi uma espécie de tutor e o responsável por juntar as duas bandas mais conhecidas da região.
A Loustal era mais pautada no rock, enquanto a Lamento Negro tinha pegada próxima ao samba e ao reggae. Com a união das duas, nascia o Nação Zumbi e um objetivo: difundir o regionalismo musical que borbulhava por ali. O grupo que até então não tinha nenhuma experiência no estúdio, chamou a atenção de Pena Schmidt, que tentou assiná-los na gravadora Tinnitus. Com uma proposta melhor e antecipação em dinheiro, Chico Science & Nação Zumbi acabou fechando com Chaos, sub label da Sony Music.
A major investiu nos talentos do experiente produtor Liminha, ex-baixista dos Mutantes. Bem recebido por Chico, ele encarou o desafio de trabalhar com músicos sem experiência para o trabalho de construção de um álbum. Durante o processo criativo, Liminha desenvolveu um apreço pelo trabalho de Chico Science & Nação Zumbi, superou a caxumba de Lúcio Maia e uma reestruturação intensa no fluxo de gravação por conta disso, para só depois disso entregar Da Lama ao Caos, um marco na música brasileira dos anos 90.
A espinha dorsal do disco é justamente o manguebeat, fruto da mistura de samba, maracatu, hip-hop, rock e outros movimentos musicais. No processo de produção, Liminha trouxe um som mais limpo para a banda, o que frustrou parte dos fãs, mas foi importante para um maior alcance do trabalho. Vale lembrar que Da Lama ao Caos foi selecionado pela Rolling Stones como o 13° melhor disco nacional da história. Composto por 14 faixas ele foi lançado em Abril de 94 e tem aproximadamente 50 minutos de duração. Alguns de seus maiores sucessos incluem A Cidade, A Praieira e Samba Makossa. Ouça na íntegra:
A MÚSICA CONECTA.