Skip to content
A música conecta

Minha Primeira Gig | DJ Glen

DJ Glen é uma figura ilustre e já foi destaque aqui no Alataj em diversas oportunidades. Algumas noticiando seus lançamentos ou gigs em showcases da renomada gravadora americana Dirtybird Records, que o adotou como um filho, em outras pela exportação de seu nome a nível internacional – e até mesmo falando sobre gastronomia na coluna Spice & Music. Ah, tem também uma entrevista bem bacana que rolou com ele em 2017!

Sua carreira é tomada por colaborações de peso, lançamentos em labels prestigiados, mas suas raízes e sua batalha para chegar até onde está nunca serão esquecidas, tanto que ele se lembra muito bem de sua primeira gig remunerada. Abaixo ele compartilha com a gente essa lembrança com riqueza de detalhes. Dá pra criar um filme na cabeça e imaginar totalmente o cenário descrito por Glen:

“Minha Primeira Gig remunerada foi há uns 20 anos, quando eu ainda tinha 14 e nunca tinha trabalhado sequer (até hoje nunca trabalhei). Recebi 50 reais pra tocar em um salão de festa de igreja, com equipamento incluso (som e luz), a noite toda e com um detalhe, eu só poderia tocar música dos anos 60 e 70, pois os donos da festa eram uns dinossauros provavelmente. O pior foi que me saí bem.

Fiquei duas semanas pesquisando músicas, gravei dezenas de cds e estudei a relação que elas teriam entre si e como contar uma história que fluiria com a festa, agradando desde crianças até os centenários que estavam lá. Meu objetivo quando comecei era tocar nas festas de 15 anos da moçada da minha escola mesmo, eu já tinha um conhecimento autodidata de produção/ edição de música, que me levou a conquistar muito mais do que isso nos anos seguintes.

Nunca me esquecerei como foi meu primeiro soundsystem. Neste dia consegui emprestado dois cd players da Sony, daqueles de gaveta, sem pitch obviamente. Mixer eu já tinha um Gemini de dois canais. Na parte do PA, meu amplificador era um Marantz que esquentava muito, eu tinha que pegar emprestado um ventilador da minha mãe, aqueles das hélices azuis que fora perdido a capa da frente e a criançada brincava de vocoder, eventualmente algum machucava o nariz.

Incrivelmente eu tinha um equalizador Technics de 17 bandas, presente do meu irmão, eu usava ele dinamicamente controlando música por música de um jeito que as minhas caixas genéricas com auto falante de 15″ secos das Selenium não pipocassem ou algo trágico, como a queima de algum drive acontecesse. As duas caixas foram adquiridas com verba da venda ilegal de cds piratas que eu mesmo queimava (talvez isso fosse meu primeiro trabalho).

Na iluminação era um terror. Comprei um cano de esgoto, um spray, umas lâmpadas com gelatina colorida e fiz uma caixa de madeira cheia de interruptores para um sistema de luz que levei quase um mês para desenvolver. Eu tinha também um strobo, que queimava se deixasse ligado por mais de um minuto direto. A máquina de fumaça foi feita com um ferro de passar e um motorzinho de esguicho do limpador de parabrisa de carro. A glicerina que eu usava era contrabandeada da boate da cidade, onde o dj era meu amigo e dava uma mãozinha se eu passasse umas músicas novas pra ele.

A principal peça era um aparelho que eu carinhosamente chamava de “A centopéia”, que era daqueles bem coloridos que você vê em festas de forró dos anos 90, as pessoas vibravam com ele. Eu tinha que tocar, fazer a luz e equalizar o som pras caixas não queimarem. As músicas dos anos 60 tinham 2 minutos em média, o que dava uma baita correria e desespero de não saber a próxima a tocar mas mesmo assim não repeti nenhuma.

O que eu lembro do dj set em si foi que passou muito mais rápido e foi muito mais fácil do que eu imaginava. Como era um baita desafio para um moleque conhecer tantas músicas antigas eu acabei chamando muita atenção (eu também tinha um cabelo black power azul), lembrando que no ano 2000 era raro alguém que tivesse um repertório completo sendo que internet e mp3 ainda era pasto.

Saí de lá com três festas fechadas e consegui cobrar mais caro até, 60 reais cada. Nenhum fato foi inventado ou aumentado, sério [risos]. Obrigado pela lembrança!”

A música conecta.

A MÚSICA CONECTA 2012 2025