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A música conecta

Vitrola Review| Rita Lee & Tutti Frutti – Fruto Proibido

Por Laura Marcon em Vitrola 16.12.2020

“Foi quando meu pai me disse ‘filha, você é a ovelha negra da família’, agora é hora de você assumir”…

Ah, a Rita! Se eu pudesse escolher uma personalidade do mundo artístico do nosso país para conhecer e conversar não hesitaria segundos para falar Rita Lee. Cantora, compositora, multi-instrumentista, escritora, atriz, ativista, audaciosa, feminista, mulherão da p****, rainha do Rock’n roll brasileiro!!

A construção da carreira de Rita Lee vem carregada de atos disruptivos, desobediência, loucuras, desafios e quebra de conceitos em relação à imagem e força feminina, tanto enquanto artista que iniciou a carreira na década de 60, em meio à opressão da ditadura militar, tanto enquanto figura pública e formadora de opinião à outras mulheres.

Eu poderia ficar horas aqui escrevendo sobre essa formidável mulher, sobre sua infância, carreira, crises, fatos curiosos – até mesmo porque devorei sua autobiografia, que fortemente recomendo, aliás – mas o papo aqui foca na música e vamos falar sobre o álbum que é considerado a maior obra prima da carreira de Rita Lee.

Apenas para contextualizar a obra que irei comentar por aqui, a carreira de Rita Lee iniciou através do grupo Os Mutantes, formado inicialmente por ela, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. O grupo foi pioneiro na junção das guitarras com elementos musicais brasileiros e segue até hoje como uma das grandes referências do Rock brasileiro.

Na década de 70, Os Mutantes se separaram e Rita buscou outra turma para acompanhar sua carreira. É aí que entra Tutti Frutti, grupo que trabalhou como banda de apoio à artista por alguns anos. Nesta época você já deve imaginar que a artista simplesmente causava no universo da música brasileira, com letras bloqueadas pela censura, fantasias ousadas, irreverência e malandragem descarada, ativismos feministas, letras ácidas e cheias de ironia e a partir desse cenário que nasceu a obra Fruto Proibido.

Pode ser que você não conheça o álbum pelo seu nome, mas é impossível não reconhecer muitas das faixas que o compõe. O LP lançado em junho de 1975 deu a luz aos sucessos Agora Só Falta Você, Luz Del Fuego (com um toque pesadíssimo de feminismo) e Ovelha Negra, dito como o maior hino de toda a carreira de Rita Lee.

“Eu hoje represento a loucura, mais o que você quiser, tudo que você vê sair da boca de uma grande mulher. Porém louca!” (Luz Del Fuego)

As composições vão de encontro com uma temática contemporânea da década de 70 e suas transformações sociais e políticas. Três das faixas tiveram suas letras escritas por Rita e o escritor Paulo Coelho. Sonoramente, encontramos o velho e bom Rock’n Roll de Rita, mas com mescla de Blues e Pop, estilos que foram acompanhando a carreira da artista desde então. 

O álbum dividiu opiniões à época, sendo um tanto reprovado pela crítica especializada, porém aclamado pelo público, vendendo em torno de 150 mil cópias, um recorde para obras desse estilo. Aliás, Rita Lee está entre os cinco artistas que mais venderam discos na história da música brasileira, juntamente com o rei Roberto Carlos, Tonico & Tinoco e Nélson Gonçalves. Quarenta e cinco anos depois, é considerado um dos melhores discos de todos os tempos da cultura brasileira.

Mais do que influenciar o futuro da música em nosso país, Rita foi um ícone para mulheres artistas a apostarem em suas carreiras, sendo a primeira mulher a dar a cara a tapa no mundo do Rock’n Roll de forma expressiva. Com suas letras, Rita levantou bandeiras importantes, incentivando um movimento riquíssimo feminino que ecoa até hoje.

Aos 72 anos a artista se auto denomina hoje Vovó do Rock. Ela se aposentou dos palcos, para nossa tristeza, mas seu trabalho continua circulando muito através de outros intérpretes e dizem por aí que este ano saiu um projeto dela com a música eletrônica. O que será que vem por aí?

A música conecta.

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