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A música conecta

Editorial | Minimal, Downtempo, Instrumental e Música Clássica: um relacionamento de sucesso com o seu cérebro

Mozart, Hernan Cattaneo, Bonobo, John Coltrane, Ricardo Villalobos. Grandes artistas, poucas paridades entre si, mas um ponto de convergência: fazer música dentro de vertentes com capacidade de melhorar as suas atividades cerebrais. E nessa jornada, basta apenas saber qual caminho é melhor a ser seguido e colher os frutos. 

O objetivo desse editorial é trazer exemplos de sons que podem contribuir para a sua saúde mental em um momento tão delicado e singular como esse que vivemos. Considerando que estamos no Brasil, você há de concordar que fica ainda mais desafiador manter o equilíbrio. Aliás, foi a falta dele que me motivou a começar essa pesquisa. Difícil manter o foco, a motivação e a criatividade? Sei bem como é. Honestamente, usufruir das artes durante esse momento tem sido quase substancial, logo, escrever sobre o tema me pareceu um bom plano. Escutar música tem sido uma estratégia e tanto, você provavelmente concorda. Essa, inclusive, é a ação humana que mais utiliza os campos neurais, em que muitas áreas são ativadas simultaneamente, irrigando seu cérebro. Ok, a música clássica e instrumental nem é tão novidade assim, há diversos estudos sobre, mas e a música eletrônica?

Se você escuta esse tipo de som com frequência, provavelmente já constatou que alguns deles te proporcionam mais estabilidade, foco e até energia para produzir, mas alguns podem ir na contra-mão disso. Sons mais minimalistas, profundos, progressivos, hipnóticos e com melodias mais trabalhadas me trouxeram benefícios instantâneos em dias mais instáveis e sei que não estou sozinha. Durante a pesquisa, constatei diversas playlists e matérias sobre esse tema. Além disso, escrever o Radar do Alataj há mais de um ano me possibilitou perceber algumas tendências também. Por exemplo, o Downtempo ganhou força. Sasha, Diplo, Capriati e Folamour são só alguns nomes que me recordo que lançaram música dentro do gênero com o mesmo álibi e por essas questões, decidi investigar mais a fundo. E aí, que só uma fonte poderia me trazer respostas, né?

Ahhh, a ciência!

De acordo com esse pilar tão fundamental para a nossa existência, alguns estilos sonoros podem fazer seu cérebro trabalhar melhor, sim, salabim. De acordo com o portal Symphony Central, o que já de fato está comprovado é que músicas clássicas e instrumentais, como o Jazz em sua abordagem mais light, ajudam a promover maior concentração, calma, relaxamento, criatividade, reduzir estresse e ansiedade, melhorar as funções cognitivas, boost na memória, dormir melhor, sentir mais motivação. Quem não precisa disso hoje em dia? Pois bem, a ciência já comprovou que sons assim são um brainfeeder e tanto. Tenho certeza que Mozart pensou agora “querida, me conte algo que eu não saiba”. Aliás, falando nele…

Efeito Mozart

E se eu te contasse que você pode ficar mais inteligente com música? É o que diz o efeito Mozart. Durante um estudo de caso em 1993, o físico e professor da Universidade da Califórnia, Dr. Gordon Shaw, viu um aumento no QI de seus alunos após ouvirem o músico. Tal teoria gerou ceticismo e dúvidas por parte dos especialistas, mas a conclusão é que sons orquestrados podem ser úteis para aquecer seu cérebro. Por essa razão, uma pá de estudos se desdobraram sobre isso. Ainda dentro do portal que citei, um deles diz que a música não faz milagres sobre o QI, ela apenas dá um boost no desempenho intelectual e em suas funções cognitivas. Um pano de fundo agradável que ajuda a organizar a mente. Nada mal, hein?

https://www.youtube.com/watch?v=XVfmaehKwSw

Alguns estudos apresentados pelo site The Healthy dizem que, embora a música possa não aumentar o seu QI, ela afeta suas emoções (isso você sabe), o que por sua vez interfere na forma que você realiza suas tarefas. Se você está “numa nice”, seu corpo produz dopamina e com esse neurotransmissor a todo o vapor, não tem mistério: pensamento organizado, mais foco, mais ideias, mais prazer em existir. Milagre exclusivo da música clássica? A resposta é não. 

“Ainda bem, porque eu não curto esses sons”

E você ao menos sabe o motivo? Segundo o portal Knowledge Nuts é porque o processo de conceber o som através da estrutura auditiva e da caixa craniana é como sua digital, então é natural que o som tenha oscilações de pessoa para pessoa. Vamos um pouco mais fundo: segundo o livro Alucinações Musicais, do professor de neurologia na Columbia University (NY), Oliver Sacks, o que acontece também é que alguns tipos de som são capazes de desencadear um processo coercivo, a música causa uma desordem em uma parte do cérebro e dali em diante é quase certo que sua massa cinzenta vai repelir aquele tipo de som. O que vai variar é o tanto que você tolera. Por isso, largue mão de discutir sobre o que é melhor ou pior com seus coleguinhas. Além do fator cultural, agora sabemos que o gosto musical está ligado à anatomia do seu corpo e do seu comportamento cerebral. Se a música clássica ou a instrumental te causa tédio, tudo bem clubber, eu tenho uma solução para você.

A música eletrônica pode te salvar!

Música clássica para muitos é somente o som que ocupa os cenários de consultórios médicos e para ajudar com a cara de origami no elevador. Então como dar um superalimento musical ao cérebro se ele não curte esse prato? Como disse acima, a música apreciada por você é como sua digital e, a essa altura da vida, você já sabe o que te agrada. De maneira geral, tudo aquilo que soa de um jeito bom para você libera dopamina, mas alguns estilos específicos na música eletrônica podem promover um melhor aproveitamento intelectual. Na verdade, sonoridades minimalistas, profundas, progressivas e com melodias mais celestiais, estilo All Day I Dream, contribuem para reduzir o ruído mental do dia-a-dia pela massiva quantidade de informação. Clamamos por um pouco de silêncio, mas quando conseguimos, ficamos inquietos e mexemos no celular. Paz? Não por mais de cicno minutos e é por isso que recorrer aos estilos citados pode ser um bom caminho para essa higiene mental.

A música minimalista é um forte exemplo. O estilo viveu uma repaginação e tem se destacado cada vez mais no cenário da Dance Music, sendo bem explorado pelas novas gerações. Um artigo recente publicado no Entrepreneur menciona que o Downtempo e o Deep House são ideais para qualquer atividade que necessite de foco e concentração por mais tempo. Isso porque a música se faz presente, mas de forma discreta. E como esses sons não possuem picos, a sua dopamina também é produzida na quantidade ideal sem que você se distraia e queira sair dançando.

Um recente estudo feito na Universidade Nacional da Flórida descobriu que ouvir música Downtempo reduz o estresse e a ansiedade, melhora o desempenho, o foco e a função cerebral. Isso também acontece com sons minimalistas mais lineares e sons com um bass mais profundo, como no Progressivo e, sendo assim, o Techno em uma abordagem mais Deep funcionaria também. Tenho plena certeza que algumas pessoas podem se sentir assim com outros estilos de som, é só descobrir qual melhor interage com o cérebro para essas finalidades.

Então para ter um bom relacionamento com a música e dar o melhor alimento para seu cérebro, aqui vão algumas dicas que se desprendem de rótulos:

  • Evite músicas com letras porque as cantorias vão tirar sua atenção
  • Escolha as mais lentas, mais progressivas ou instrumentais. Se as escalas da música clássica e do Jazz não ornam para você, é aqui que entram as vertentes da música eletrônica e podemos ir além das que encabeçam o título da matéria: Raw Techno, Space Disco, Dub, entre outros
  • Prefira as músicas com estruturas mais lineares e menos oscilações. O mesmo vale para músicas mais experimentais, pois o objetivo nesses casos é quase sempre promover estímulos diferenciados, o que compromete o foco
  • Deixe o volume em um nível agradável
  • Foco no momento presente: quase como a filosofia do Mindfulness, esteja aqui e agora e desfrute do som que escolheu para desempenhar determinada atividade. Se o efeito for realmente satisfatório, registre isso mentalmente
  • Se nada der certo tente sons da natureza, ruídos branco e rosa, sons binaurais ou em frequência de Hertz elevadas. Teste tudo
  • Foque em playlists, podcasts e sets para não precisar trocar de música.

Resumindo, toda música boa aos seus ouvidos têm um efeito positivo em seu organismo, não importa o gênero, instrumentação ou composição, estamos programados para responder positivamente a essa soma singular entre ritmo, melodia e harmonia. A música e sua infinitude pode ser usada para alimentar diversos estados de espírito, mas enquanto estamos em casa eu espero que essas ideias aqui possam te ajudar a ter dias mais equilibrados.

A música conecta.

A MÚSICA CONECTA 2012 2024