É sempre um privilégio acompanhar os passos de um artista que tanto inspira o cenário eletrônico mundial, sobretudo um brasileiro. Rodriguez Jr. é um desses nomes que fazemos questão de repetir sua presença por aqui.
Com mais de 20 anos de carreira, Oliver Mateu – o nome por trás de Rodriguez Jr. – é um dos principais expoentes das vertentes melódicas da eletrônica, dono se uma assinatura sensível que coleciona mais de 300 lançamentos até aqui através de selos do calibre de Anjunadeep, Defected, Natura Viva, Toolroom e Mobilee Records.
Incorporando uma magia única em suas narrativas e leituras sonoras, o artista reforça seus laços com as melodias transcendentais em sua última passagem pela gravadora Renaissance Records, através de um remix inspirador para a faixa A Course In Miracles, de Argy, que acaba de sair no EP The Interior Journey Remixes Vol. I.
Em sua última entrevista para o Alataj, o artista estava prestes a pousar nas pistas brasileiras. Agora, dois anos depois, ele nos conta sobre seu fluxo criativo durante a pandemia, seu fascínio por sintetizadores, a chegada de seu primeiro filho com Liset Alea, novos lançamentos e o retorno às pistas de dança. Confira!
Alataj: Olá Rodriguez, é um prazer ver você de novo por aqui! Em nossa última conversa, você estava em turnê pelo Brasil, prestes a retornar aos palcos da festa gaúcha Levels Sunset. Isso foi há dois anos, em meses que antecederam um hiato mundial sem precedentes para nossa história, e que naquele momento nem imaginávamos o que teríamos que enfrentar. Como você passou ao longo desses meses de pandemia?
Rodriguez Jr.: Esta pandemia foi difícil para todos nós, mas os maiores desafios são sempre uma oportunidade para fazer uma pausa, fazer um inventário de sua vida e talvez melhorar algo. Pela primeira vez na minha carreira tive a chance de parar, de desacelerar, tive tempo para auto-reflexão e para me perguntar que tipo de produtor quero ser a partir de agora. No final, acredito que esse desafio foi um mal necessário para muitos de nós e nos permitiu entender como continuar existindo como artistas sem necessariamente estar sempre no palco. Também foi um presente inesperado poder passar tanto tempo com minha família, especialmente porque tivemos o nascimento de nosso filho no meio da pandemia e fomos capazes de realmente ficar em casa com ele em seu primeiro ano, eu acho que muitos pais compreenderão como isso é raro e precioso.
Em uma de suas entrevistas anteriores, você diz que muito das suas inspirações para construção de faixas vem de suas viagens para lugares diferentes, e de suas percepções quanto à cultura de outros países. Durante esses meses de lockdown que as viagens ficaram um pouco mais impossibilitadas, de onde veio sua inspiração para produzir?
Como eu disse antes, tivemos que redefinir todos os nossos parâmetros de criação e existência como artistas … em relação à inspiração, há um elemento muito importante na música que muitas vezes é esquecido: TEMPO! Precisamos de tempo para respirar, para digerir o que experimentamos e vimos, como nossas memórias e jornadas ao longo da vida, e este bloqueio me permitiu este tempo essencial e daqui eu tirei recursos para a criação.
Você tem uma atração especial por diversos tipos de sintetizadores, o que pode ser visto muito bem em suas lives diretamente de seu estúdio em Paris. Qual foi sua última aquisição, em termos de synths, que te surpreendeu e deu toque especial em suas composições?
Sim, meu amor por sintetizadores não conhece limites. No momento, o ingrediente principal em minha música é definitivamente o ARP2600. Este é um instrumento lendário e eu tive a sorte de encontrar um modelo original de 1972 que tem um som difícil de descrever, tem um chiado, é meio vivo, o som penetra na mixagem.
Você e Liset Alea, além das parcerias musicais, também são companheiros na vida. Como é produzir e transmitir música, ao lado de quem ama?
Muito mais fácil do que produzir música ao lado de alguém que você não suporta. Brincadeira, é difícil de explicar porque está além da lógica compartilhar criatividade com um parceiro de vida, não precisamos discutir tanto o que estamos fazendo, apenas sabemos o que fazer. É uma bênção e eu recomendo muito. Na verdade, costumávamos trabalhar juntos por mais de uma década antes de nos tornarmos parceiros e talvez esse parentesco seja a fonte de nossa fluidez atual na vida e na música e muito provavelmente o que alterou nossos corações para o fato de sermos talvez mais do que colaboradores.
Inclusive seu último lançamento pela Mobilee Records, o EP Killian, conta com uma participação dela nos vocais de Au Revoir Paris, e marca também seu retorno ao catálogo da gravadora após Hydra. O que você acha que mudou deste último trabalho para Killian EP?
Bem, a vida aconteceu. Nosso filho chegou, decidimos fechar o capítulo de Paris e nos mudar para Miami… e a música segue o contorno da sua vida.
Uma de suas últimas gigs antes da pandemia foi no The CityFox Experience, em Nova York, assim como seus primeiros retornos às pistas presenciais, também foi no mesmo local. Como foi a sensação de estar de volta, tocando para o grande público?
Era como respirar novamente depois de prender a respiração por um longo tempo. Tive uma conexão próxima com City Fox por um longo tempo e foi o ambiente perfeito para retornar ao palco com um novo conjunto de faixas e entusiasmo renovado. Eu vou me lembrar daquela noite com Maceo Plex e Bodzin por um longo tempo, éramos realmente como crianças no recreio, tão animados para brincar e ver nossos amigos.
Agora neste retorno de sua agenda, o Brasil já está na lista para receber suas saudosas apresentações anuais?
Com certeza, o Brasil sempre foi um dos meus lugares favoritos para me apresentar por vários motivos. Estamos trabalhando em uma turnê e definitivamente esperamos anunciar algumas paradas no Brasil em breve!
E quanto às demais novidades do seu projeto? O que mais está por vir nesses próximos meses, e que você pode adiantar aqui para nós?
Acabei de lançar um remix para o excelente álbum de ARGY, que se chama A Course In Miracles e foi lançado pela Renaissance Records. Há uma faixa chegando na próxima compilação sistemática. Eu também tenho trabalhado em um projeto com a Tonhalle Orchestra em Zurique, eles misturam música eletrônica e clássica. E ainda por cima, Liset Alea e eu estamos terminando um álbum completo juntos.
Vamos finalizar com uma pergunta clássica do Alataj: o que a música significa para você?
É uma linguagem consistente.
A música conecta.