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A música conecta

Rosalía alcança novos patamares com MOTOMAMI e começa a construir legado

Por Isabela Junqueira em Storytelling 24.03.2022

O mercado musical norte-americano dita as regras na indústria musical mundial indiscutivelmente. Mas aparentemente, estamos vivenciando a chance de observar essa dinâmica mudar em tempo real. Quer a prova? Anitta está na cola do Top 01 na lista de faixas mais tocadas do mundo no Spotify com Envolver (já deu sua contribuição hoje?). E se isso soa como algo isolado, MOTOMAMI de Rosalía chegou para comprovar que não é. O terceiro álbum de estúdio da cantora e compositora espanhola estreia de forma avassaladora — rompendo com todas e quaisquer fórmulas da indústria, em um mergulho em raízes e referências que se distanciam do Pop norte-americano.

Em um compilado com 16 incríveis faixas, MOTOMAMI desponta como uma espécie de representação do caminho criativo que resultou na emancipação artística de Rosalía, que usou e abusou do experimentalismo em um álbum que forma uma conexão precisa com o tradicional e o contemporâneo. Considerado pelo Pitchfork como a melhor estreia, o álbum alcançou a nota de 8.4 — excelente considerando os padrões críticos da plataforma. O álbum está sendo ovacionado consensualmente por toda a crítica musical em menos de duas semanas de seu lançamento — de especialistas, a revistas nichadas e o grande público.

Mas antes, vamos te contextualizar sobre quem é a jovem espanhola por trás de tamanha genialidade. Rosalía desponta da música flamenca, nascida e criada nos arredores de Barcelona, na Espanha, e desde sua primeira aparição propõe misturar o gênero clássico à aspectos do Pop, sempre aplicando uma roupagem contemporânea ao gênero tradicional. Los Ángeles foi seu álbum de estreia, em 2017, com incontáveis covers disponíveis em domínio público. El Mal Querer vem na sequência, em 2018. Após os álbuns, vieram singles que já anteviam a individualidade artística de Rosalía: Con Altura (parceria com El Guincho e J Balvin), TKN (com Travis Scott) e Lo Vas A Olvidar (com Billie Eilish, para a trilha sonora de Euphoria).

O terceiro álbum de Rosalía é um retrato complexo de si mesma e talvez por isso tenha levado tanto tempo para sua conclusão. Gravado no icônico Electric Lady Studios, fundado por Jimi Hendrix em 1970, onde passou Adele, Al Green, David Bowie, Guns N’ Roses, Lady Gaga, Lana Del Rey, Lorde, Patti Smith, The Cult e outros importantes cantores, compositores e bandas do mercado fonográfico mundial. Entre composições, gravações e produções, foram três anos até Rosalía sentir que seu álbum estava “realmente pronto e acabado”, como ela expressa e reforça que é a obra mais pessoal e confessional que fez até o momento.

O nome, inclusive, elucida muito bem a proposta de Rosalía ao mesclar referências que vão desde ritmos tradicionais de sua região, passando pelo Reggaeton e caminhando para um Pop completamente disruptivo, “à la” Björk. O título do álbum é confeccionado como um binômio (a ligação entre dois termos). Rosalía afirmou que escolheu MOTOMAMI para batizar seu principal álbum pois assim estaria perfeitamente elucidado por dois tipos de energia contrastantes, como uma forma de separá-lo em duas partes. Enquanto “Moto” é a parte mais divina, experimental, friccional e forte, “Mami” é a parte mais feminina, real, pessoal, confessional e vulnerável — momentos refletidos com clareza no álbum.

Saoko abre MOTOMAMI com uma energia que sintetiza com excelência a obra que está prestes a evoluir e ali começa a caminhada rumo à plena reinvenção de Rosalía que se consolida conforme o excêntrico álbum avança. Em La Fama, canção que discorre sobre as dores da notoriedade, Rosalía coloca The Weeknd para cantar em sua língua e entrega uma faixa envolventemente minimalista. O álbum caminha e muda para um ambiência quase que acapella, angelical, delicada, mas que ao mesmo tempo flerta com todas as influências e raízes que, de alguma forma, se explicitam ao longo de MOTOMAMI, percorrendo incontáveis gêneros e culturas sem perder um fio condutor e harmônico.

MOTOMAMI é tão genial porque elucida da forma mais refinada a liberdade de criação de Rosalía que flerta não só com experimentações culturais, mas também lírica, rítmica e sonora, brincando com sua voz e gerando um álbum que demonstra, possivelmente, o futuro de uma indústria que exalta tudo o que a música moderna deve ser: um espaço de liberdade de expressão. O álbum mais importante da vida de Rosalía, de acordo com a própria, contempla com fidedignidade a cultura latinoamericana e auxilia com nobreza a desconcentrar a força da indústria musical de moldes há muito tempo engessados. Abaixo você pode assistir a apresentação de Rosalía para o TikTok, na última segunda-feira.

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