Brisa de la Cordillera, ou mais conhecida como Brisa Flow, é um nome que o cenário Hip Hop tem ouvido falar bastante nos últimos anos. A artista ameríndia, de Minas Gerais, cresceu sobre a influência da cultura musical dos povos andinos, através de seus pais, e escolheu o Rap como canal de expressão para sua linguagem musical. Bebendo das referências no Afrobeat, Reggaeton, Drum and Bass, House e música indígena contemporânea, Brisa Flow desenvolve uma assinatura que promove o diálogo acerca das questões indígenas como racismo, xenofobia e genocídio.
Em 2016, seu primeiro álbum Newen, esteve como destaque entre os 20 melhores discos do ano, apontados pelo Estadão. Agora, ela engata mais um full-lenght de sua carreira, com o álbum Janequeo. Com 13 faixas, e participações de Tidus, Ian Wapichana, Gustavo Lessa, Alvin, Abi Llanque, Mona Brutal, Sodomita e muitos outros artistas entre beatmakers e vocalistas, o disco traz a poderosa mensagem da guerreira Janequeo, sobre o amor, coragem e autonomia da mulher indígena. Confira os detalhes de cada uma das faixas, comentadas por Brisa Flow.
Cerquita | Essa música fala sobre dançar juntinho em Abya Yala. Escolhi essa para ser a primeira do álbum porque ela fala sobre amor e sobre o desejo de estar com a pessoa amada, pedindo ao vento para que traga essa pessoa para dançar pertinho, pedindo à lua que proteja essa pessoa onde quer que ela esteja.
Besitos | É sobre estar apaixonada e querer dar beijinhos, querer ser amada e muitas vezes não ser correspondida
Making Luv (Beat do Tidus e feat Ian Wapichana) | Fala sobre a auto estima construída através do amor entre originários
Etnocídio (Feat com Ian Wapichana) | Sobre o genocídio de 70 milhões de originários que segue em curso em Abya Yala. A música tem o videoclipe, ainda inédito, filmado em manifestações no país contra a PEC 490, Não ao Marco-Temporal.
Sol de Outono (Beat Gustavo Lessa) | É uma narrativa pessoal sobre a sensação que tenho de uns anos pra cá. Sobrevivendo na indústria musical na cidade de São Paulo.
Bonde das Maloks (Beat Alvin e feat Monna Brutal e Sodomita) | É um feat com Sodomita e Monna Brutal sobre nossas diferentes narratyvas e como nossos laços afetivos se tornam uma forma de aquilombar e nos dar forças quando andamos juntas.
Sonho com Serpentes (Beat Alvin) | É uma música sobre a vivência que tive com meus pais que são artistas e a análise da cena arte vs artesanato que faço desde lá
Marrona Libre (Beat Suntizil e feat Abi Llanque) | Feat com Abi Llanque sobre ser uma “marrona libre” em Abya Yala diante de um sistema que nos inferioriza e nos separa por fronteiras ficções coloniais.
Janequeo (Beat Vinicreize) | Essa faixa que ganha o nome do disco é como uma reza para que a força e resistência de vários guerreiros originários possa continuar. Janequeo, mulher Mapuche, teve seu companheiro assassinado durante a Guerra de Arauco e montou exército para defender Wallmapu, território do povo Mapuche. Após vencer várias batalhas e ser caçada pelo exército espanhol, algumas histórias contam que ela nunca foi pega e se transformou em uma encantada da floresta.
Camburi (Beat Victor Prado e feat Gabba) | Produzida com sopros de Victor Prado, essa música tem videoclipe gravado em Camburi e que será lançado em breve. Fala sobre a mudança de curso nas relações, assim como o rio Camburi, que significa “rio que muda de lugar”. As melodias acompanham como os rios que dançam.
Dentro dos seus Olhos (Beat Drôga) | É uma música sobre amor e companheirismo no beat de Pedro, que também já tinha feito “Raia o Sol”.
Ayala (Beat Marco Caramellis) | Fala sobre tarot andino e diferentes formas de construir relações. Beat de Marco, que fez o de “Violeta Se Fue”.
Originárias (Beat Alvin) | Fala sobre algumas das mais de 800 etnias de Abya Yala para falar da sobre a tranculturalidade imensa que temos nesse continente e a potência do encontro do condor e da águia.
A música conecta.