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A música conecta

Era uma vez: o EDM invadiu os charts de Progressive House

Por Alan Medeiros em Trend 04.09.2024

Toda vez que surgem discussões relacionadas a classificação de um novo gênero dentro da música eletrônica, pode procurar que vai ter gente com longos discursos falando que música não se coloca em prateleiras, que essas definições só atrapalham e que tudo não passa de uma estratégia do mainstream. O que passa batido, é que a importância de ter gêneros bem estabelecidos não é uma mera questão de conceito ou preferências. 

No começo da década passada, registrou-se um movimento que bagunçou a cena da época. Diversas (leia-se centenas) gravadoras e artistas de EDM (ainda não categorizado exatamente assim na época) começaram a divulgar seus lançamentos como Progressive House. Mas e o que já existia como Progressive House? Foi meio que um dane-se de quem estava tentando “roubar a cena”. 

Falta precisão histórica para o começo dessa jornada, portanto acaba se tornando uma questão de análise. Mas fato é que depois de seu surgimento nos anos 90, o House Progressivo começou a trilhar diversos caminhos e se popularizou muito. No começo dos anos 2000, já havia uma variedade de releases que tinham um toque bem mais comercial e em outras camadas, o Eurodance já era um fenômeno pelo continente, principalmente na Holanda, Alemanha e França. Além disso, a partir da cena Trance, que em seu início era muito mais próxima ao Progressive House, também emergiram ramificações que caminhavam para algo mais exagerado e de forte apelo popular. 

Do meio pro fim da primeira década do século, parte dos trabalhos mais interessantes do Progressive House original incorporaram uma bateria mais techy e alguns synths com uma atmosfera mais electro. O que rolou a partir daí foi que essas referências foram traduzidas em projetos mais comerciais, somadas com influências remanescentes do boom do Eurodance e partiram de encontro com um outro movimento musical que ganhava força no mesmo período: o Electro House

Exemplo de uma bateria mais techy que se tornava comum ao estilo na época

As ramificações, pontos de encontro e desencontros a partir daí são muito variadas e, claro, discutíveis, mas é inegável que o que chamamos de EDM atualmente, teve nesse mix um de seus pontos de partida. Em um mundo com uma internet diferente da que conhecemos hoje, debates eram mais raros e quando lojas como Beatport começaram a encaixar lançamentos que podemos chamar de Electro Progressive Big Room House Comercial (como uma tentativa de descrição literal) nas tags de Progressive House, não houve uma resistência inicial significativa ou suficiente, até por que era um momento de considerada baixa do House Progressivo old school que havia surgido nos anos 90. 

Um agravante para essa confusão também pode ser atribuída a nomes como Deadmau5, Eric Prydz e até mesmo aos trabalhos mais antigos de Steve Angello, Axwell e Sebastian Ingrosso. Uma parcela dos releases desses artistas na época ainda eram aclamados pela base de fãs mais tradicional do estilo, mas seus impactos já eram muito mais amplos e fora da bolha. Um bom exemplo disso é Lick My Deck, collab de Sebastian com John Dahlback. Lançada em 2004 pela Joia, a música mostra como todas essas linhas entre as vertentes estavam um pouco misturadas de fato. 

Tocável nos tempos de hoje?

No fim da década 00 e começo dos anos 10, gravadoras como a Spinnin e Ultra, se aproveitaram mais taticamente desse espaço aberto nas plataformas para classificar seus sons como Progressive House, mas as tendências seguiram se movendo parte desse movimento se tornou tão grande, como nos casos de Swedish House Mafia, David Guetta e Kaskade, que taticamente uma associação ao Pop fez muito mais sentido. Assim, houve uma migração lenta, um pouco estratégica, um pouco orgânica, desses lançamentos para classificação de EDM, o que também era uma espécie de apropriação, visto que o termo foi criado para designar toda Dance Music. Na outra ponta, houve uma radicalização do Electro House que se estabeleceu mais confortavelmente no Big Room e daí o ciclo continua, pois é infinito. 

De volta ao começo do texto, sempre que surge um debate a respeito da classificação de estilos musicais, é importante sim que haja um envolvimento da comunidade artística nessa discussão, para evitar que histórias como essa sejam mais frequentes. Aqui, um spoiler: basta uma análise rápida no Beatport para identificar que há indícios da história acima em várias categorias. Além disso, uma boa classificação ajuda (e muito) uma gigantesca parte do público que não tem conhecimento técnico ou prática na pesquisa. Embora não seja o tipo de conversa mais prazerosa, classificar é importante para preservar a história. 

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