Autenticidade. Talvez essa seja a palavra mais usada — e por vezes, mais desgastada — na música eletrônica hoje em dia. De fato são poucos artistas que realmente abraçam essa ideia de maneira sincera e coerente, mas entre eles Rafael Cerato merece ser mencionado. O produtor francês, natural de Marselha, construiu uma carreira internacional sólida ao lapidar pacientemente uma assinatura sonora que é emotiva, mental e que carrega uma força inegável para a pista de dança. “Você pode ouvir muitas emoções diferentes na minha música, porque sentimentos são as coisas mais importantes para mim”, disse para a Attack Magazine.
Tentar encaixar o som de Rafael Cerato em um único lugar é um exercício complexo. Claro, os elementos do Indie Dance, do Tech House e do Progressive House estão ali, mas a mágica está na tensão que ele constrói e como ele amarra tudo isso. É sobre a forma como as melodias cinematográficas e o groove se encontram para criar algo que serve tanto para uma imersão numa pista mais escura e intimista quanto para a catarse de um festival.
Ao longo dos últimos anos, ele assinou com alguns dos selos mais relevantes do cenário, incluindo diversos trabalhos com a Diynamic, de Solomun, Systematic, de Stephan Bodzin, Experts Only, de John Summit, Habitat, do Mind Against, Bedrock, do John Digweed, e até mesmo a Musical Freedom, de Tiësto, o que mostra como conquistou o respeito e a admiração dos curadores mais exigentes da cena. Ao mesmo tempo, Rafael devolve à comunidade o que aprendeu através de seu próprio selo, Ritual, provando que entende a importância de fomentar a cena com a sua própria visão.
Com um passaporte carimbado por tours pela Europa, Ásia e Oriente Médio, o foco de Cerato agora se volta para as Américas. No último final de semana, passou por países como Argentina e Uruguai, apresentações que deram o tom do que está por vir, funcionando como um “esquenta” para sua chegada ao nosso país, um dos territórios mais importantes do seu mapa afetivo e profissional. “O Brasil é um dos maiores e mais influentes mercados de música eletrônica do mundo, quero manter uma conexão cada vez mais próxima com o público de vocês”, nos contou, deixando claro seu carinho e respeito pela nossa cena.
Mas essa conexão com o Brasil não começou agora. Em 2018, ele lançou pela Nin92wo, label bastante respeitada e que, inclusive, nós cobrimos com uma premiere na época. Foi o primeiro passo para que seu som fosse apresentado ao público daqui. Também reforçou laços com a nossa cena ao lançar trabalhos do Touchtalk em sua label Ritual; Prisioner, lançada em 2021, é até hoje a faixa mais vendida do catálogo da label. Em 2023, ele desembarcou no Brasil para tocar na festa AURA, em São Paulo, onde boa parte do público compareceu especialmente para vê-lo. A ponte ficou ainda mais forte em 2024, com seu remix oficial para Pleasure Chasers de Vintage Culture.
É com todo esse background que seu retorno ganha um peso diferente. Neste sábado, dia 23, Rafael Cerato desembarca em um dos clubs mais icônicos do país: o Laroc, que na ocasião recebe a celebração de 25 anos do Tribe Festival. Ele está escalado no palco Tribe Club, ao lado de nomes como Stephan Bodzin e Maga, reforçando o prestígio que construiu até aqui. Além disso, sua presença é a materialização desse “projeto de aproximação” que ele vem construindo nos últimos anos com o público brasileiro.
No fim, a história de Rafael Cerato é sobre o poder da consistência. É a prova de que é possível construir uma narrativa sonora que viaja o mundo sem precisar de tradução, mantendo-se fiel a sua própria essência. Sua presença no Tribe é a chance do público brasileiro vivenciar novamente isso de perto, sentindo a força de um artista que faz música colocando sua alma em primeiro plano.