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A música conecta

6 ensinamentos de uma gravadora brasileira que acaba de romper a marca dos 100 releases

Por Marllon Eduardo Gauche em Notes 03.11.2025

Fundada em setembro de 2020 por Deeft durante a pandemia, a music is blaah! acaba de atingir uma marca bastante especial: 100 releases em cinco anos de atividade. O centésimo lançamento, Shoop, assinado por Damelo – responsável pela faixa mais vendida da história da gravadora, How We Do It –, simboliza a consolidação de uma trajetória que transformou uma ideia nascida em meio ao isolamento social em uma das principais referências do Tech House nacional.

A jornada da music is blaah! reflete a evolução de um mercado que viu a cena brasileira ganhar reconhecimento global. “Nosso maior desafio sempre foi competir com grandes gravadoras internacionais, especialmente em um período em que a cena brasileira ainda não era amplamente reconhecida fora do país”, explica Paula Fernandes Raniero, label manager da gravadora. “Felizmente, isso vem mudando: a cena brasileira está cada vez mais forte, com novas gravadoras surgindo e artistas e produções de altíssimo nível conquistando destaque e reconhecimento global.”

Guiada pelos pilares de emoção, alegria, celebração, união e comunidade, a label conquistou uma posição no Top 50 gravadoras mais vendidas de Tech House no Beatport e hoje soma mais de 3 milhões de streams no Spotify. O catálogo inclui lançamentos de artistas como Gabe, Freenzy, GREG, Ragie Ban, Paskman, Tim Baresko, NightFunk, Nicolau Marinho e Tough Art, demonstrando uma curadoria que equilibra nomes consolidados com novos talentos.

“Nossos cinco pilares — emoções, alegria, celebração, união e comunidade — estão presentes em cada projeto e ação que realizamos”, destaca Paula. “Eles funcionam como nosso guia, garantindo consistência e harmonia em tudo o que produzimos. Além disso, buscamos sempre nos conectar com o que acontece no cenário musical, tanto nacional quanto internacional, para adaptar tendências ao nosso estilo.”

Vale lembrar que no ano de 2024 a gravadora passou por um momento de transformação ao fazer um rebranding, movimento estratégico que mudou não apenas a estética da label, mas também sua essência sonora. “Passamos a explorar territórios além do tech house, mergulhando em deep house, bass house, minimal e deep tech, sempre em busca de autenticidade e frescor”, evolução que reflete uma busca constante por sons que não se prendem a rótulos e que conseguem dialogar com diferentes vertentes ao mesmo tempo. “Essa liberdade criativa traduz nosso olhar atual: uma música que flui, conecta e surpreende, mantendo a identidade única da label enquanto abraçamos novas possibilidades.”

Um dos diferenciais da music is blaah! também está na relação próxima construída com seus artistas. “Investimos em comunicação e suporte contínuo a cada um deles, não apenas durante o lançamento, mas também depois”, explica Paula. “Muitos artistas, principalmente os iniciantes, têm dúvidas sobre distribuição, divulgação e até sobre o envio de demos. Por isso, criamos processos detalhados, passo a passo, para orientá-los.” E entre um lançamento e outro, surgem histórias de sucesso, como a de Ragie Ban, que fez um de seus primeiros lançamentos com a music is blaah! — o EP Discovery — e hoje se encontra em uma posição de destaque na cena nacional. 

Na última semana, a equipe da gravadora também esteve presente no Amsterdam Dance Event (ADE) 2025, sua quarta participação na principal conferência de música eletrônica do mundo, consolidando a expansão internacional iniciada em 2022. “A participação no ADE nos permitiu construir conexões valiosas com players tanto do mercado brasileiro quanto internacional. Observamos um crescimento consistente da presença da cena brasileira no exterior e queremos fazer parte ativa desse movimento.” 

Além disso, o evento mostrou oportunidades no setor de eventos, que está em transformação. “Identificamos inúmeras oportunidades de expansão, especialmente no universo dos eventos, um setor que está passando por transformações significativas. Entendemos que o público e suas expectativas estão mudando, e queremos nos adaptar a esse novo cenário com experiências inovadoras.” A gravadora está comprometida em alinhar-se às tendências globais e à sua identidade, com planos de retorno ao ADE em 2026 “de maneira ainda mais ativa e representativa”, buscando consolidar uma verdadeira “comunidade global, conectando pessoas, ideias e propósitos”.

Já os planos futuros incluem a expansão do conceito de comunidade para além do digital. “Recentemente, inauguramos um espaço físico em Campinas – SP, que queremos transformar em um verdadeiro QG, ou uma ‘safe house’, para artistas e profissionais da cena. Queremos fortalecer ainda mais o conceito de comunidade, expandir nossa presença local e entender cada vez melhor como podemos contribuir para o crescimento de novos talentos.”

Os 6 ensinamentos da music is blaah!

Após cinco anos construindo uma das gravadoras brasileiras mais respeitadas do tech house, a equipe da music is blaah! compartilhou com a nossa equipe seis ensinamentos fundamentais dessa trajetória até aqui. Anote, salve e aplique também nos seus projetos musicais.

1. Não ter um objetivo claro te tira do caminho certo

Pode parecer um conceito amplo, mas saber onde se quer chegar é o que define cada passo do processo. Sem um destino claro, qualquer caminho parece servir, e é aí que mora o problema. Quando você não entende o porquê faz o que faz, acaba andando em círculos, perdendo tempo e foco. Ter missão, visão e valores bem definidos e compartilhados com todo o time faz com que todo mundo caminhe na mesma direção.

2. Empresa inconstante, público inconstante

Constância é uma das palavras mais faladas atualmente, mas ainda assim, é o que separa quem só aparece de quem realmente constrói algo. Estar presente de forma consistente é o que cria vínculo com o público. Relação é troca, e no mundo dos negócios, essa via é de mão dupla: não dá pra esperar lealdade se a entrega é instável.

3. Como tudo na vida, o mercado também é feito de ciclos

O mercado muda, se transforma e se reinventa o tempo todo. Estar atento ao novo, observar os movimentos e entender as mudanças de comportamento, tanto do público quanto dos artistas, é o que permite surfar as novas ondas, e não ser levado por elas. Empresas que enxergam esses ciclos com naturalidade conseguem se reinventar sem perder a essência.

4. Originalidade é tudo

Mesmo acompanhando as mudanças do mercado, a originalidade precisa ser preservada. Estar atualizado não significa fazer o que todo mundo faz. Na music is blaah! valorizamos quem mantém a essência, mesmo explorando novas sonoridades. Ser original é o que faz o público te reconhecer, mesmo antes de ver seu nome. É o que constrói identidade e autenticidade. Quem tenta seguir fórmulas prontas sempre será uma cópia, e cópias não deixam marcas.

5. Conexões genuínas geram interações genuínas

Um dos maiores orgulhos da music is blaah! é o senso de comunidade criado ao longo dos anos. Quando as conexões são verdadeiras, as trocas fluem naturalmente e todo mundo cresce junto. O espaço físico nasceu com essa ideia: ser um lugar onde os artistas se sintam em casa, troquem experiências e encontrem um ambiente de acolhimento e criatividade.

6. A concorrência não é inimiga

O mercado da música é competitivo por natureza, mas isso não significa que a concorrência precise ser uma guerra. Aqui, evitamos alimentar rivalidades, seja entre nossos artistas ou com outras gravadoras. Pelo contrário: acreditamos que a cena só evolui quando há colaboração. Manter boas relações e trocar experiências fortalece o ecossistema, e o sucesso de um ajuda a impulsionar o de todos.


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