Em uma cidade acostumada a novidades e estímulos a todo momento, é comum que novos espaços despertem atenção logo nos primeiros meses. O que diferencia o Starlane não é a velocidade com que se destacou, mas a solidez do que propõe. Aberto há apenas alguns meses em um casarão dos anos 40 localizado na Avenida Rebouças, o espaço se tornou um dos pontos mais comentados de São Paulo, atraindo um público que vai desde artistas, produtores e frequentadores assíduos do mercado do entretenimento noturno até aqueles que simplesmente almejam ter uma boa experiência, impulsionado pelo cuidado com a experiência musical e pela forma consistente com que constrói sua identidade.
A ideia nasceu em 2018, no leste de Londres, quando um grupo de amigos brasileiros — Bruno Cabral, Leandro Cabral e Gustavo Pacini — resolveu criar um espaço anexo a um galpão ocupado por estúdios de gravação, artistas visuais e startups, com o intuito de unir três pilares: boa comida, bons drinks e música de qualidade. Não demorou muito para que o Starlane Pizza Bar começasse a se destacar como um dos pontos mais vibrantes da noite londrina, reconhecido pelo clima de liberdade e pela curadoria musical que sempre escapou dos circuitos previsíveis, combinando House, Funk, Soul e Indie. O sucesso levou o bar a receber licença para operar 24 horas, algo raro na capital inglesa. Com um retorno tão primoroso do público para com a ideia inicial, por que não levar esse conceito para a cidade mais cosmopolita do país de origem de seus fundadores?
Em maio de 2025, a marca Starlane atravessou o oceano e abriu as portas na capital paulistana. Contudo, o Starlane não chegou a São Paulo para replicar o formato londrino, chegou para reinterpretá-lo. Se lá a proposta nasceu de maneira mais espontânea e altamente efetiva, aqui ele nasce de um processo de maturação pensado para funcionar como um ambiente que preza pela integração entre boa curadoria, alta coquetelaria, gastronomia, multiplicidade artística e convivência. Conversamos diretamente com a equipe para captar a base que sustenta esse projeto:
“O desejo dos sócios londrinos de atravessar o oceano e plantar a semente do Starlane em São Paulo se encontrou com a vontade dos sócios paulistas, que sonhavam com um espaço para viver exatamente essa combinação. […] Um bar que fomentasse encontros e conexões, promovendo a cultura musical… isso tudo sem precisar se autodefinir como ‘bar de audição’ ou speakeasy. É para ser simples, mas extremamente bem feito.”
O Starlane São Paulo mantém a essência original, mas traduzida à realidade local. Aqui, a música é o âmago, o ponto de partida e de chegada. Ela define o clima das noites, molda o público e sustenta o conceito do espaço. A equipe responsável pela curadoria, composta por Lisa Uhlendorff, Rodolfo Tavares e Pedro Gariani, profissionais que vivem o circuito de clubs, eventos e mercado de entretenimento, prioriza nomes que compreendem a música como um campo de criação. Você pode ouvir seu artista favorito tocando uma pesquisa totalmente diferente daquela que você está habituado a consumir em grandes eventos ou se surpreender com a leitura minuciosa de ambiente e energia de um artista que você nem sonhava em conhecer. O importante é estar aberto a descobrir algo novo. Essa é a grande sacada: sair de casa com a certeza de que aquela noite foi preparada para que você tenha uma boa experiência.
“A música é alma no Starlane. É ela que dá o ritmo para cada noite e que conecta tudo: o ambiente, as pessoas, a comida e os drinks. Não tratamos música como ‘fundo’ ou detalhe — ela é parte essencial […]”. De terça a quinta, o ambiente é guiado por sonoridades como Soul, Jazz, R&B, Hip-Hop e Trip-Hop, estilos que propõem uma atmosfera mais reservada e dão o tom das conversas em uma energia mais serena. Nas sextas e sábados, a casa se transforma em uma aura mais club e recebe DJs ligados à música eletrônica, que traduzem a identidade do projeto em sets bem construídos, repertório de qualidade e personalidade, do House ao Techno.
“Essa alternância — intimista durante a semana, ‘explosiva’ no fim de semana — sustenta nossa identidade híbrida. É parte do que faz o Starlane ser um bar sem rótulos.” O cuidado com o som faz parte da estrutura. O Starlane investiu em um sistema acústico próprio, com caixas e tratamento pensados para o espaço. O casarão dos anos 1940 mantém parte da estrutura original, mas foi adaptado para favorecer a audição e o conforto. A iluminação é discreta e o ambiente tem clima intimista, pensado para valorizar o som ao mesmo tempo em que aproxima o público.
No que diz respeito ao público, mesmo em pouco tempo de operação, o Starlane já se difundiu de maneira cativa. DJs, produtores, profissionais do entretenimento, curiosos da cidade, jovens e um público mais maduro se misturam, e o que todos têm em comum é a busca por qualidade. Essa mistura é parte essencial da proposta, sustentada pela ideia de que a música é um ponto comum capaz de unir gerações e referências distintas. O resultado é uma comunidade que cresce de forma orgânica, tanto presencialmente quanto nas redes, e que reconhece o espaço pela coerência do que entrega.
O interesse em torno da casa se reflete também do outro lado da cabine. Em poucos meses, o Starlane passou a ser procurado por artistas que desejam se apresentar ali. O reconhecimento vem do respeito à música, da qualidade do som e da liberdade artística oferecida, responsáveis por consolidar o bar como um lugar de confiança criativa: um ambiente em que o público sabe que vai ouvir algo relevante e o artista sabe que vai tocar para quem realmente presta atenção. Nesse mesmo movimento, a operação, que envolve dezenas de profissionais em diferentes frentes — do bar à curadoria, do marketing ao atendimento — é tratada com o mesmo rigor em todas as etapas, garantindo uma consistência que sustenta a presença cada vez mais sólida do Starlane na cidade.
Com planos de expansão, a equipe já trabalha em novas frentes. A ideia é ampliar a experiência para o dia, com a abertura de uma área de café voltada ao público da região, além de desenvolver formatos itinerantes que levem a marca para fora do endereço fixo. O movimento é natural para um projeto que entende a música como força motriz capaz de desenvolver conexões, frentes artísticas, profissionais e emocionais ao mesmo tempo.
O Starlane alcançou em poucos meses uma relevância que muitos espaços podem demorar a conquistar, surgindo em um momento em que o público busca por algo mais do que entretenimento rápido, lugares que prezem pela curadoria, pelo som bem construído e pela troca genuína entre pessoas que compartilham interesse por música.