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A música conecta

A dance music do The Martinez Brothers é uma rota alternativa

Por Georgia Kirilov em Special Series 18.02.2016

Com descendência porto-riquenha, nascidos e criados no Bronx, Chris e Steve Martinez são os irmãos que vem fazendo barulho na cena mundial desde de 2013. Depois do set inesquecível no Carnaval do Warung, tornou-se imperativo estudar mais afundo as origens, influências e significados da música do negócio de família que cresceu e tomou proporções astronômicas.

Os irmãos foram introduzidos a música tocando na banda da igreja aonde seu pai era pastor e lançaram seu primeiro EP, My Rendition, em 2006. O fator família é chave para entender de onde vem o carisma e a humildade dos Martinez, seu pai chegou a investir em uma festa local para que eles pudessem abrir a festa tocando e mais pessoas conhecessem sua música. No episódio sobre o duo na mini-série de documentários Between the Beats do Resident Advisor, o pai Martinez relata que 3 festas foram o necessário para que os bookers começassem a perceber que o negócio dos irmãos era sério, independente do quão novos eles eram. A história seguiu e em 2011 eles fecharam residência com a DC10 em Ibiza – referencia no panorama mundial.

2013, porém, foi o ano em que tudo realmente explodiu. Com a criação da sua label própria, Cuttin’ Headz e um fluxo cada vez maior de gigs ao redor do mundo, os irmãos ganharam maior reconhecimento crítico e apoio da pista. A sintonia do duo é impressionante. Os dois realmente se tornam um por meio da sua música e a irmandade é traduzida na pista. O foco sempre é fazer as pessoas se mexerem, se divertirem e sorrirem – coisa que, segundo eles para o RA, aprenderam na igreja.

Os irmãos são muito conscientes da exceção que são do bairro de onde vieram e do impacto que a sua persistência em aprender sobre música e levar o negócio sério teve em suas carreiras. Acima de tudo os Martinez são também muito conscientes do poder que a música tem de oferecer a mesma possibilidade para outras crianças/adolescentes e servir como uma rota alternativa para um caminho que parece já estar traçado. O Bronx é casa para uma grande porcentagem de população de origem afro-americana e hispânica, muita violência e escolas públicas de baixa qualidade. Para muitas das crianças que nascem lá o mundo é o Bronx e sempre vai ser, a possibilidade de sair é algo que nem chega a ser discutido com intensidade devido a pouca quantidade de histórias de sucesso e da falta extrema do fator de visibilidade – se você não ver aonde pode chegar, nem tenta.

Originada dessa consciência e de diversas discussões sobre raça, etnia, cor e o poder da música como uma ferramenta para um ato político, com seu melhor amigo Seth Troxler, surgiu em 2014 a Tuskegee, label e linha de roupas do trio carregada de significado histórico, porém sem deixar o fator dance e alegria que compõe o estilo dos DJs. Tuskegee faz referencia a um estudo científico americano realizado por 40 anos (1932-72) por médicos no Alabama, aonde em torno de 600 homens afro-americanos portadores de sífilis foram monitorados para ver como a doença progredia sem tratamento. Até aí o experimento já era doentio, porém o fator mais perturbador era que esses homens não sabiam que portavam a doença e mesmo em 1947 quando foi descoberto que a penicilina curava a doença, nenhuma ação foi tomada pelos médicos que controlavam o estudo. Em 1972 o projeto só acabou porque alguém informou a imprensa da situação e a perversidade dos médicos foi descoberta. Trata-se de uma história pesada para uma label de house music, de fato, porém Troxler, em entrevista para o jornal americano LA Times em 2014, disse que a escolha do o nome surgiu com a intenção de trazer a dor conectada a raça, mas também para lembrar a juventude de hoje dia que existe a possibilidade de superar essa dor e de ser maior, por meio de – quem sabe – música.

Sob grande influência da Paradise Garage, balada icônica de NY que ficou aberta dos anos 1977 até 87 e recebia minorias de forma “secreta” – a balada não era aberta ao público e a entrada era controlada – os Martinez fazem da sua música uma jornada cheia de história, mas sem deixar de lado a diversão. A Garage foi uma das primeiras do mundo a não servir bebida e comida e tirar o foco totalmente da interação social para a música, o DJ estava no centro e não havia espaços com silêncio para conversar. Esse tipo de atenção totalmente voltada para a arte é o que move os irmãos de gig em gig e mantém seus sets cheio de vida, groove e sunshine feeling. Em 2014, eles foram os responsáveis pela soundtrack do desfile de outono/inverno da marca francesa Givenchy e também fizeram um release de hip hop nomeado Warhol/Basquiat, confirmando mais uma vez que além de música boa o duo tem uma bagagem cultural recheada que adiciona significado para seu som. E agora, em 2016 botaram o Warung inteiro para dançar mais do que em qualquer bloco durante o carnaval, mostrando que depois de uma jornada tão intensa eles ainda tem sede de mais. Tudo que podemos dizer é: continuem, por favor.

A música conecta as pessoas! 

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