A intensidade de Tom Trago é um dos primeiros pontos a serem observados em sua música. O DJ e produtor holandês possui aquele perfil de artista que necessita produzir música diariamente. É algo como se ele tivesse encontrado a forma perfeita para se expressar em meio ao caos que rodeia nosso cotidiano. Talvez por isso seus sets e produções soem tão autênticos e diversificados quando analisados em um mesmo contexto. O responsável por fechar o palco Gop Tun no próximo sábado é um artista preparado para as mais diversas experimentações e esse fator deixa sua obra muito envolvente.
Por ser frontman de um respeitado selo, dono de álbuns e releases aclamados pela crítica especializada e parte permanente da crew Dekmantel, fica fácil cravar que Tom já está em um patamar de reconhecimento mundial em sua carreira. Aos 34 anos, ele dá pinta que tem muito a mostrar, seja em sua agenda de shows pelos principais países da Europa e do mundo, ou por conta das incríveis colaborações que já fez e segue estimulando. Fôlego não falta para ele continuar expandindo seu catálogo e, em breve, colocar seu nome entre os maiores.
Nesse fim de semana ele está de volta ao Brasil. A data no Dekmantel São Paulo é a primeira de uma tour que ainda passa por outros dois países da América em mais 3 gigs. Falamos com Tom sobre seus primeiros passos na música, relacionamento com a cena de Amsterdam, Dekmantel e principais trabalhos já realizados. Confira abaixo:
Ahhh… também tem um set inédito e 100% exclusivo para a coluna, que por conta do péssimo suporte e serviço prestado pelo Soundcloud não conseguimos apresentar pra vocês hoje, mas em breve colocaremos no ar 🙂
1 – Olá, Tom! Obrigado por nos atender. Como você se relaciona com o background que cresceu em Amesterdã? A própria cidade tem uma longa tradição de purveying boa música eletrônica. Isso era um fardo ou um trunfo para você como artista?
Bem, eu cresci no meio de tudo e absorvi da melhor maneira possível. Claro que quando você tem padrões tão altos as apostas são maiores, mas eu tinha bons tutores entre esses caras. Amsterdã também é uma cidade pequena, suas dimensões produzem esse tipo de dinâmica baseada na comunidade.
2 – A cena holandesa parece funcionar bem através das crews – Trouw, Rush Hour, Dekmantel. As coisas por aí são bem familiares, certo?
Sim, essa é a dinâmica geral dos coletivos de música da cidade, sejam eles labels, festas ou clubes. Nós sempre nos esforçamos para ajudar uns aos outros a crescer, e nós criamos esses coletivos unidos que promovem o talento, que foi o meu caso com Rush Hour, Trouw e De School.
3 – E agora você tem a Voyage Direct, que está dando sequência a essa tradição…
Sim, Voyage Direct é uma plataforma para muitas coisas que eu realmente gosto, de todo o espectro, antigo e novo. Muito em breve, nós teremos um álbum de Steve Rachmad, então isso será algo especial e inesperado. Mas em geral, espero que a VD e a Voyage Select (a agência) possam se tornar um talento novo, o que todas essas famílias foram para mim quando eu estava começando.
4 – Quais são suas expectativas para o Dekmantel São Paulo? O que você notou do público brasileiro na sua última passagem por aqui?
Bem, a festa tem uma força intensa, a pista pulsa em um ritmo diferente, uma energia especial que eu gosto muito. Eu fiquei muito feliz por saber que Dekmantel e Gop Tun juntaram forças, então só posso dizer, apesar do clichê, que mal posso esperar para experimentar isso outra vez.
5 – Em relação a sua carreira como produtor, você já sentiu alguma vez desapontado?
A curva de aprendizagem é um processo, e quando você olha para trás em seu próprio trabalho, naturalmente você terá alguns problemas com o que tem feito em uma mentalidade diferente e sob condições diferentes. Então é uma questão de olhar para isso como estágios de você melhorando a si mesmo e sua música. Você tem que ter orgulho dos seus esforços, mas de uma forma crítica.
6 – Sua versatilidade permite que você toque diferentes tipos de sets, em momentos e ocasiões diferentes. Qual o segredo desse dinamismo?
Venho de uma educação muito eclética como DJ, estar envolvido com pessoas como Antal e Kees (o holandês Gilles Peterson) desde o início. Eu fico entediado se tenho que tocar um único gênero em um set, então eu tendo a me libertar desses parâmetros e tocar uma abundância mais diversificada de música, assim eu não me sinto constrangido ou preso. No final, é tudo sobre a vibe e diálogo com a pista. Cada ambiente exige algo diferente.
7 – Comprar discos certamente é uma das suas grandes paixões, certo?
De fato sim, é. Como eu disse acima, ter pessoas tão sérias em relação ao conhecimento musical como aqueles dois ao meu redor, fez toda a diferença. É ótimo poder descobrir coisas novas de todas as partes do mundo em um formato tão simples e quando você vai a uma loja de discos com Antal, por exemplo, você nunca chega em modo cego, é sempre um paraquedismo em maneiras específicas que ajudam você a tirar o melhor da experiência.
8 – Quais são suas principais referências fora da música eletrônica? Em algum momento a música brasileira ou latina já te influenciou?
Sim, com certeza. Especialmente porque eu vim aqui pela primeira vez há um tempo atrás com Antal, então eu pude experimentar uma abordagem muito “guiada” para a música. Antal e Kees realizaram estes incríveis Kindred Spirits eventos chamados Via Brasil, que foram uma ótima introdução a música brasileira para muitos amantes do estilo em Amsterdã.
9 – “Use Me Again” é uma de suas faixas mais conhecidas aqui no Brasil. O que representou para você ser remixado por Carl Craig? Como de fato isso aconteceu?
Bem, funcionou em todo o mundo e fico feliz que no Brasil também. Carl Craig remixando foi realmente muito interessante, porque isso veio dele. Ele gostava da faixa e tocava frequentemente, então ele perguntou se poderia fazer uns ajustes a fim de fazê-la soar melhor em sound systems maiores. Eu defini as partes e ele remixou de uma forma muito old school, que é refazer a mix de suas peças elementares.
https://www.youtube.com/watch?v=5Z4DMkScNO0
10 – Para finalizar, gostaríamos de saber duas coisas: quando você decidiu dedicar sua vida à música e onde você se imagina daqui a 10 anos?
Fazendo basicamente o que tenho feito desde muito novo. Decidi me tornar um artista no colegial, quando estava estudando para criar plataformas para artistas, e música nova, e decidi ser um. Era minha vocação, quando tinha dezesseis anos comprei o meu primeiro par de decks. O que planejo fazer agora é fornecer as mesmas plataformas para novos talentos, que é onde a label e agência desempenham um papel central. No que diz respeito a minha própria carreira, eu realmente quero fazer música para filmes, isso é algo que tenho perseguido ultimamente.
Música de verdade, por gente que faz a diferença!