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A música conecta

Talks | É possível que ainda tenhamos pista em 2020?

Por Laura Marcon em Alataj Talks 03.07.2020

O tema abordado neste novo capítulo da nossa série Talks é recorrente e não apenas dentro dos nossos conteúdos no Alataj. Basta uma breve conversa com profissionais do ramo e participantes do cenário do entretenimento em geral para que algum comentário surja em relação à ausência de eventos no ano de 2020. Uns tratam ele de maneira saudosista, com aquela saudade dos momentos vividos e de dançar em uma boa pista de dança. Para quem sobrevive deste meio a questão é bem mais profunda, pois o fato tem trazido grandes prejuízos, não apenas em caráter econômico mas também psicológico. Afinal, só de pensar na nebulosidade vivida em relação ao assunto já é motivo para preocupação, aflição e outros sentimentos.

Em meio aos bate-papos sobre o assunto já ouvimos alguns posicionamentos. Comentários mais otimistas pensando em um retorno até o final do ano, opiniões que partem para a ideia de que voltaremos às atividades apenas a partir de 2021 e no fim também muita dúvida do que e como acontecerão os próximos passos. Para tratar um pouco mais sobre esse tema, convidamos quatro produtores de eventos de diferentes regiões para dar suas opiniões. Paulo Tessuto (Carlos Capslock), Bernardo Ziembik (Ludos), Rafael Bado (Laguna/Clube Inbox) e Nikkatze (BLUM) respondem a difícil pergunta: É possível que ainda tenhamos pista em 2020?

Paulo Tessuto

Sinceramente, eu acho que não seja possível que aconteçam festas esse ano aqui no Brasil por três motivos: em primeiro lugar por que a quarentena foi mal feita e a reabertura do comércio foi feita em vários lugares, em várias cidades no auge da pandemia, o que vai aumentar muito mais o contágio; em segundo, quando voltarem, vamos supor que liberem as festas, acho que vai ser gradual, não vai haver uma liberação para festas com 1.500 pessoas, vai demorar um pouco para que isso aconteça. Já em terceiro lugar por que não temos clima para festas aqui no Brasil. Estamos sem clima total. Precisamos primeiro sobreviver essa pandemia, sobreviver a esse governo irresponsável que está acabando com nosso país e o dividindo cada vez mais – um assunto que não precisamos nem entrar mais profundamente.

Bernardo Ziembik 

Difícil dizer, mas sou um otimista. Algumas variáveis definirão isso: uma vacina, que acredito ser pouco provável em larga escala a curto prazo; o aumento do número de leitos, que é o termômetro dos governantes para a abertura dos setores; a pressão política do ramo, que está começando a esquentar; a lei Aldir Blanc, que promete um fundo de três bilhões destinados a Cultura; entre outros fatores. Eu, Bernardo, acredito que tenhamos algumas pistas ainda esse ano, com redução de capacidade e uma série de normas, principalmente nos litorais do sul do Brasil, que tem o turismo do verão como base da sua economia. Se eu acho que deva ter pista ainda esse ano? Me refaça essa pergunta daqui a dois meses e eu posso ter a mesma dúvida ou uma resposta bem objetiva. Precisamos monitorar diariamente essas adversidades para tomar uma decisão.

“Balcony Party” em Barcelona – Abril, 2020

Rafael Bado

Eu pensei bastante sobre a pergunta e eu acredito que a resposta pra ela é que… não temos uma resposta [risos]! Ninguém sabe se vamos conseguir retornar esse ano ainda, tudo vai depender do quanto o governo e a população vão conseguir conter a proliferação da doença, ou se magicamente aparecer uma vacina por aí. 

O que eu acho é que não devemos nos perguntar quando tudo irá voltar, e sim o que podemos fazer agora para fortalecer a cena e nosso trabalho. O que podemos fazer agora para nos aprimorarmos e nos prepararmos para o que está por vir no período pós-pandemia? Muitos artistas são reféns em suas mídias sociais de conteúdos de gigs, usando fotos de festas passadas, flyers de gigs que estavam por vir, vídeos tocando em eventos que aconteceram, todas coisas meio robóticas que vemos por aí em qualquer página de artista. Isso acaba deixando um pouco de lado outros tipos de conexão com sua base de fãs! Acho que o momento é ideal para nos aproximarmos dos nossos fãs e de nos mostrarmos perto mesmo distantes, apresentando coisas novas, fazendo novas pontes de conexões com nossos seguidores através de questionários no insta, grupos no telegram/whatsapp/facebook, mailings de novidades e acima de tudo, mostrar nosso verdadeiro propósito e paixão na causa. 

Para finalizar quero deixar uma mensagem que mudou muito minha maneira de pensar nos últimos tempos: pessoas não compram o que você vende, elas compram o porquê você vende o seu produto. Compram o seu propósito! O objetivo não é procurar pessoas que escutam o tipo de som que você toca ou lança, mas sim achar pessoas que acreditam no que você acredita, que acreditam no seu propósito e que se identificam com a sua causa =). Fiquem todos bem, seguros em casa e espero poder encontrá-los em breve nas melhores pistas do Brasil!

Nikkatze

Eu acredito que no momento a situação do país está muito conturbada. Apesar do governo ter relaxado nas medidas de segurança os números não estão compatíveis com essa decisão, então acredito que eventualmente o governo deva começar a liberar aos poucos os eventos de menor porte, em pouco tempo. Porém, nós da cena independente só iremos voltar a ativa com nossas pistas quando estiver seguro, com a onda bem controlada e poucos casos, ou quando tivermos uma vacina. Estou com esperança de que a vacina seja efetivada em breve e que haja uma distribuição o mais rápido possível, para que talvez possamos voltar ao normal com mais tranquilidade. Mas na minha opinião é que, caso não tenhamos uma vacina ainda esse ano – se dermos muita sorte e pensando utópicamente – pode ser que haja uma melhora significativa na curva até o final do ano e que talvez consigamos fazer uma pista ao ar livre, segura, de menor porte nesse verão. Mas, sendo realista, penso que só teremos mesmo no ano que vem.

A música conecta.

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